Brexit e os filmes e séries que você assiste | JUDAO.com.br

Você provavelmente vai continuar assistindo a tudo normalmente. O problema é como, onde e com quem essas produções serão feitas…

Em 2016, por mais que uns não acreditem ou sequer gostem da ideia, as coisas que acontecem num canto do mundo influenciam, de uma ou outra maneira, coisas que acontecem no outro canto do mundo em que a gente se encontra. Em 2016, com essa coisa chamada internet chegando pra ficar, isso faz até sentido que aconteça.

Quando as meninas de Orange is the New Black e Zoe Saldana comentam a ~onda conservadora que assola o Brasil, acredite, não estão se metendo “onde não são chamadas”, até por estarmos consumindo o que elas produzem. É até burrice acreditar que a Uhura não deveria comentar as coisas que acontecem em outros lugares do mundo, ou mesmo que um jornal como o New York Times não deva reportar o que eles veem — lembrando, SEMPRE, que uma visão de fora costuma ser mais clara, sempre.

Na semana passada, um referendo, dominado essencialmente por velhos e desinformados, decidiu que o Reino Unido não deve mais fazer parte da União Europeia. Você deve ter lido e ouvido algo sobre BREXIT durante o fim de semana mas, se ainda tá perdido, vou deixar o John Oliver explicar que porra é essa.

As consequências políticas e econômicas desse voto pela saída do Reino Unido da União Europeia já podem ser sentidas, ainda que nada vá mudar exatamente por pelo menos dois anos. Além da desvalorização da Libra, graus de investimento e essas coisas, já começaram as discussões do futuro da Premiere League, por exemplo, em que jogadores Europeus passarão a precisar de visto de trabalho pra atuar por lá, além de serem considerados estrangeiros — o que diminuiria a quantidade de gente de fora do Reino Unido jogando por lá (atualmente são mais de 400, em todas as divisões).

Mas sabe também o que essa decisão pode influenciar? Umas coisinhas que talvez você queira assistir, como Star Wars, Liga da Justiça e Game of Thrones. Sabe a tal da Lei Rouanet? A União Europeia tem um lance parecido, que dá incentivos e subsídios aos filmes e séries que são gravados por lá — mais ou menos como o estado americano da Georgia, também.

Pros grandes estúdios, claro, pouca coisa mudaria, já que encontrariam algum outro lugar no Universo com as mesmas vantagens pra continuar produzindo — vantagens que, aliás, o próprio Reino Unido poderiam passar a oferecer, se fosse o caso. Porém, os escritórios “europeus” dos grandes estúdios, a maioria deles baseados em Londres, precisariam mudar de lugar.

Mas e Game of Thrones, que é gravado, em parte, na Irlanda do Norte e outros países da Europa? Bom, as locações talvez precisem ser de fato alteradas, mas em termos de BUFUNFA, inicialmente, nada deve acontecer, ao contrário do que muita gente cogitou.

Game of Thrones

Embora no começo tenha, sim, utilizado grana do chamado European Regional Development Fund, a HBO afirmou em comunicado que não usa mais esses incentivos há alguns anos. “Nós não esperamos que o referendo tenha qualquer efeito material na produção de Game of Thrones”, afirmou a empresa. Não que não exista nenhuma vantagem, claro: o próprio Reino Unido e a Irlanda do Norte dão seus trocados, baseados em leis de incentivo a produções locais.

A grande influência é, claro, será nos peixes pequenos. Sem os descontos que os grandes estúdios conseguiriam ao filmar no Reino Unido (em 2015, foram 15 filmes com orçamento de mais de US$30 Milhões, representando 73% de tudo que foi gasto em produção de filmes por lá), milhares de pessoas, de câmeras à moça do café, poderiam ficar sem trabalho — imagina só o tanto de gente que trampa em um Star Wars ou em Liga da Justiça sem filmes desse tamanho? Pois é.

“A decisão de sair da União Europeia é um golpe enorme na indústria de filme e TV do Reino Unido”, afirmou Michael Ryan, CHAIRMAN da Aliança Independente de Filme e Televisão (IFTA, em inglês). “Essa decisão destruiu nossa fundação — a partir de hoje, nós não sabemos mais como funcionarão nossas relações com co-produtores, financiadores e distribuidores, se novas taxas serão colocadas sobre nossas atividades no resto da Europa, ou como a captação de recursos vai acontecer sem nada das agências de financiamento Europeias”

“Produzir filmes e programas de TV é muito caro e arriscado e certezas sobre regras que afetam o negócio são necessárias”, continuou Ryan, que acredita que as consequências “devem ser devastadoras”.

É...