Devolvam o SUPER da Supergirl, por favor? | JUDAO.com.br

Ao longo da segunda temporada da série, que acabou esta semana, a protagonista infelizmente virou coadjuvante de seu próprio elenco de apoio…

SPOILER! Assim que foi anunciado, com pompa e circunstância, que os primeiros episódios da temporada #2 de Supergirl teriam a participação especial do seu primo famoso, publicamos por aqui um texto reforçando que seria uma cagada monstro que ele acabasse tendo mais importância do que ela. De fato, não rolou, ainda bem. Mas o que aconteceu ao longo de todos os capítulos que se seguiriam foi basicamente a mesma coisa: Kara foi perdendo importância, se enfraquecendo como personagem e se distanciando MUITO daquela heroína interessante que vimos ao longo do ano de estreia.

A mesma Supergirl que, neste season finale (cujo título, Nevertheless, She Persisted tem uma relação direta e importante com o movimento feminista nos EUA), se levanta sozinha contra a monarca de Daxam e se torna um símbolo de esperança mais uma vez. Mas, caralho, demorou praticamente 22 episódios para isso rolar. Sério. Era ESTA a herdeira de Krypton que a gente queria ver, a protagonista que fechou com chave de ouro a luta contra sua própria raça na temporada 1. Era pedir muito?

A culpa aqui recai sobre o romance açucarado com Mon-El. Vamos lá, né, o problema não é ter um romance, embora realmente não precisasse. Depois do rompimento com James Olsen (que também teve um quê de forçadinha de barra), daria muito bem pra considerar a história sem que ela tivesse um príncipe encantado orbitando ao seu redor. Mas ele apareceu, então vá lá, vamos em frente. A questão aqui é COMO este romance foi retratado, numa pegada comédia romântica óbvia demais, em determinadas situações até um tanto revista teen dos anos 90 ao extremo, alternando capas antigas da Capricho com momentos de DR que quase chegaram a rivalizar com a chatíssima relação entre Barry Allen e Iris West na série-COIRMÃ.

Originalmente, a relação entre os dois deu origem a uma trama interessante justamente por conta da rixa entre kryptonianos e daxamitas, expondo inclusive o preconceito que a própria Supergirl nem sabia que tinha. Isso acendeu um assunto mais do que atual a ser explorado, a questão dos imigrantes interplanetários e o medo irracional transformado em ódio que organizações como o CADMUS tinham deles. Te lembra algo? Pois é. Mas não demorou para isso sair de cena e #KaraMon se tornar um lance meio Romeu & Julieta, de amor proibido.

O relacionamento entre os dois tirou até o foco da luta de Kara Danvers, enquanto alter-ego, para mostrar que poderia ser uma boa repórter ao IRASCÍVEL Snapper Carr (Ian Gomez, divertidíssimo), o editor cabeça-dura que geraria a pontinha de discussões bacanas sobre o papel do jornalismo. Mas... outra trama que durou pouco, infelizmente. O amor venceu aqui mas, narrativamente, a gente é que acabou perdendo.

Engraçado é que este mesmo ano 2 de Supergirl ensinou, por outro lado, como tratar um relacionamento romântico de maneira inteligente, divertida e interessante dentro do contexto de uma série de ação. A irmã adotiva da Garota de Aço, Alex Danvers, se envolveu com a policial Maggie Sawyer e o resultado foi todo conduzido de uma maneira delicada, sutil, a ponto de fazer a gente querer ver mais daquilo e menos Kara + Mon-El nos intervalos entre uma luta contra o crime e outra.

Por falar em luta contra o crime, quem também surpreendeu foi o Olsen. Meio deslocado como o novo chefão da CatCo, ele foi anunciado como o herói Guardião e logo todo mundo pensou “putz, mas que exagero”. Só que aí os roteiristas foram inteligentes o suficiente para dar um delicioso tom cômico pra parada, embarcando na zoeira e colocando-o lado a lado do geek de boca grande Winn. Aliviou a tensão e ainda deu tempo de colocar na dinâmica um interesse romântico para ele, a sexy e badass alienígena Lyra – quando a jovem valerian e o especialista em tecnologia se pegam, a química parece ser REALMENTE pra valer. Muito mais do que o que rola na relação da Supergirl (Já falamos sobre isso? Então vamos falar mais, só pra ver se alguém escuta).

Também não dá pra dizer que os vilões foram lá um grande acerto por aqui. O tão prometido Projeto CADMUS serviu apenas como veículo para trazer de volta um certo Jeremiah Danvers, que sumiu tão rápido quanto voltou. E, tá bom, a gente ama a Teri Hatcher e ficamos realmente felizes que ela tenha mergulhado de cabeça na jaca da canastrice como a vilanesca monarca de Daxam, mãe de Mon-El, mas ancorar toda a sua ameaça ao planeta Terra num ciúmes de mãe neurótica tira muito da força que ela poderia ter como antagonista.

Uma outra oportunidade perdida, que talvez seja corrigida ao longo da próxima temporada, foi de trabalhar melhor a dubiedade de Lena Luthor, a irmã de Lex. A herdeira do legado dos Luthor fica rapidamente amiguinha de Kara – teria sido mais interessante que, nas entrelinhas, nos olhares, ainda sobrasse na história, para o espectador, uma desconfiança de que ela pudesse ser uma vilã em potencial, alguém tão brilhantemente maquiavélica quanto Lex. Isso começa a ser explorado em certo momento mas acaba esquecido em prol do papel de “melhor amiga” da protetora de National City. Fofo... mas sem muita graça.

“Você é muito mais forte do que eu. Mais forte do que eu jamais serei”, confessa pra Supergirl ninguém menos do que o próprio Superman, depois de ser derrotado fisicamente por ela mas, principalmente, depois de presenciar a decisão que ela tomou para expulsar os daxamitas da Terra. A conversa que ela tem com Cat Grant (uma personagem que, aliás, NUNCA deveria ter saído do elenco da série, as referências pop dela fazem uma falta tremenda, tipo “nunca vi Star Wars”), sobre a força que é preciso ter para ser vulnerável mostrou que aquele era o caminho que a coisa toda deveria ter seguido, afinal de contas. Muito mais sobre Kara, sobre a heroína VS. a pessoa comum por trás dos óculos, e bem menos sobre “café da manhã com croissants” (sério, era só isso que eles comiam?).

Tomara que, no fim, este tenha sido apenas um passo no caminho da Supergirl em sua jornada da heroína. E que o próximo mantenha os acertos, mas saiba reconhecer os erros. Não só a gente merece. Mas ELA também.

PS: Sobre a cena final, ela traz uma pista de quem deve ser o vilão da próxima temporada. Ou melhor, A VILÃ – Reign, a matadora de mundos, antagonista da personagem na fase dos Novos 52, nos gibis, criatura geneticamente desenvolvida pelos kryptonianos para ser a guerreira perfeita. Ou seja... se for isso mesmo, FODEU. ;)