Ótima ficção científica, personagens carismáticos, uma história bem contada, bem desenvolvida, com novos elementos que ajudam a manter essa velha história respirando e com a pele belíssima. Não só é o melhor Exterminador do Futuro desde o Julgamento Final, como também a única sequência e timeline possíveis.
Pra quem sabe contar histórias, toda a coisa de viagem no tempo deve ser uma delícia. Não só dá pra fazer QUALQUER coisa como, se for o caso, ainda dá pra DESFAZER qualquer coisa — mas isso, é claro e eu repito, serve pra quem sabe contar histórias, o que, no cinema, exige ainda algumas outras habilidades INERENTES. Até porque, uma história, no cinema, é contada das mais diversas maneiras ao mesmo tempo.
James Cameron fez, em mais ou menos cinco anos, um filme B e sua sequência se tornarem clássicos, BASTIÕES da cultura pop, contando e recontando (com mais de US$ 95 Milhões de diferença entre um e outro) a história de Sarah e John Connor, dos andróides que vêm do futuro para matá-los e/ou salvá-los. Isso aconteceu porque o cara sabe contar histórias Você pode até não gostar delas, mas ele as conta como pouca gente consegue no cinema. Mais do que isso, James Cameron sabe recontar histórias, fazendo os mais diversos upgrades a elas, sendo os principais em termos de tecnologia. Avatar, Alien 2, até Titanic se você levar em consideração a vida real, tão aí pra provar.
Na franquia Exterminador do Futuro, nada do que se viu depois de Julgamento Final fez jus aos dois primeiros filmes. Ninguém que acabou colocando as mãos na franquia sabia contar histórias do jeito que James Cameron sabe, muito menos recontá-las. De nenhum jeito.
A Rebelião das Máquinas era uma sequência direta, mas se perdeu realmente rápido na sua própria lama. A Salvação não conseguiu salvar nada, se passando totalmente no futuro. ATÉ TEM tem uma coisa interessante de mostrar como começou essa coisa toda de mandar os robôs pro passado, mas nossa, é só isso e olhe lá. Gênesis tem uma sequência inicial que, eu confesso, adoro horrores como pessoa física, mas tem também o Skynet’s John Connor e nossa. NOSSA.
Única coisa em comum entre os três é uma tentativa de contar como o Mundo seguiu depois da explosão da Cyberdine, cada um a sua maneira, criando as mais diferentes timelines, nenhuma delas realmente satisfatória. Não há qualquer relação além dessa, a ponto de nem ser possível chamar esses cinco filmes de uma “série”.
Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, que estreia nessa quinta (30) no Brasil, porém, tem a volta de James Cameron, dessa vez como produtor. Por consequência, também retorna aquilo tudo que vimos no final dos anos 1980 e início dos anos 1990: uma ótima ficção científica, personagens carismáticos, uma história bem contada, bem desenvolvida, com novos elementos que ajudam a manter essa velha história respirando e com a pele belíssima. Exterminador do Futuro: Destino Sombrio não só é o melhor Exterminador do Futuro desde o Julgamento Final, como também a única sequência e timeline possíveis — ainda que se aproveite de algumas coisinhas introduzidas nos filmes anteriores.
Até o Schwarzenegger faz algo de diferente nessa franquia pela primeira vez. É quase como se tivessem deixado ele atuar — ou, se isso não for exatamente possível, usar seu carisma livremente. Mas nada disso funcionaria se não fosse por uma outra pessoa que também retorna em seu melhor: Linda Hamilton.
Exterminador do Futuro: Destino Sombrio começa alguns anos depois da tal explosão que impediu o Dia do Julgamento Final. São poucos anos, o que significa muitos no passado aqui na vida real, e isso nos entrega um caso realmente impressionante daquela tecnologia de DEAGING que tá dominando Hollywood nos últimos tempos.
A impressão é de que tanto Linda Hamilton, quando Edward Furlong e Arnold Scharzenegger gravaram aquelas cenas láááá em 1990 e elas acabaram sendo remasterizadas e usadas agora. Mas não. É tudo novo, inclusive a timeline que se desenvolve a partir daquele momento. Uma timeline em que a Skynet não é a Skynet, mas sim a Legião; uma timeline em que John Connor não liderou a rebelião, e sim uma mulher que, pelo trailer, eu pensei que fosse Isabela Doner, de 18 anos, mas que, na verdade, se trata de Natalia Reyes, uma colombiana de 32 anos.
Eu só percebi que a personagem não era uma adolescente quando ela apareceu trabalhando numa fábrica de carros. :P
Natalia interpreta Dani Ramos (que, em minha defesa, tem 21 anos no filme!), uma mexicana que Grace (Mackenzie Davis) veio do futuro pra evitar que fosse morta.
O negócio é que Grace não é uma androide, como o T-800 dos filmes passados, e sim uma humana APRIMORADA, com foco em sprints curtos de força, o que a faz esquentar e quase morrer com certa facilidade, ainda mais com um IMPARÁVEL Rev-9 (Gabriel Luna), o androide que não só se transforma em quem encosta (de maneira bem parecida com o que fazia a T-X) como ainda consegue separar seu esqueleto metálico do corpo, criando dois problemas de uma única vez. Como resolver isso, então? Bem... Sarah Connor vem, há anos, recebendo mensagens com coordenadas de onde surgirão Exterminadores vindo do Futuro. E ela vem, há anos, acabando com todos eles. E pretende continuar.
E é aqui que Linda Hamilton assume o filme pra si. Sem qualquer tentativa de esconder a idade, ela revive todo o carisma paranoico da personagem que definiu sua carreira há quase 35 anos. Paranoico e, claro, amargurado e duro. Uma personagem que reluta em receber qualquer ajuda e, quando o faz, avisa que aquilo é uma questão temporária... e a gente aceita. A gente concorda.
A história não é sobre ela, nem sobre seu filme. Mas é sua presença que coloca nossos pés no chão e nos lembra de que se trata de um Exterminador do Futuro, exatamente como aqueles filmes de 1987 e 1991.
Mackenzie Davis, é bom que se diga, também merece destaque. Essa mulher, que conhece tanto a ideia de futuro por conta de Blade Runner 2049 e de passado por causa de San Junipero, transmite uma força incrível. É uma estrela de ação em nascimento e seria muito legal se mais produções olhassem pra ela como Exterminador do Futuro: Destino Sombrio fez — até pra que a gente não perca um talento tão claro como aconteceu com Linda Hamilton que, sim, nunca parou de trabalhar, mas muito provavelmente você nunca a viu em nenhum outro filme tirando, sei lá, O Inferno de Dante.
Bom pros filmes, bom pro cinema, bom pra ela e, no fim das contas, bom pra todos nós.
E aí tem Carl, o personagem interpretado por Arnold Schwarzenegger. Ele AINDA é o T-800, mas, dessa vez, ele já cumpriu sua missão e acabou ficando por aí, o que o fez se misturar humanos (olá, Gênesis!) e até CONSTITUIR FAMÍLIA — uma ideia que, eu sei, soa tão absurda quanto o John Connor ser da Skynet mas que, numa história bem contada e encaixada, acaba não só fazendo sentido como ainda emocionando.
É realmente interessante ver esse robô, já velho, encontrando propósitos pra ele. É quase como se fosse o próprio Schwarzenegger ali dentro, ou um espelho de toda essa franquia, que enfim consegue se soltar, enfim consegue ir além daquelas coisas absolutamente binárias que ele fazia — ainda que, no quarto, ele já tenha claramente se divertido fazendo o tal do Papi. Dessa vez, porém, é mais do que diversão. É um respiro, é um alívio.
Pra ele, pra franquia... Pra nós... ;)
Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, sem qualquer tipo de spoiler aqui, termina da mesma maneira que Julgamento Final e isso, eu confesso, me assusta. Consigo ver exatamente as mesmas sequências acontecendo e eu não sei se eu quero ver mais disso, essa bagunça, essa disputa de fanfics. Ao mesmo tempo, ao deixar a Skynet de lado, ao trazer Sarah Connor de volta e deixá-la ser a protagonista que merece, assim como mostrar que o futuro e a resistência é e será liderado por mulheres, me dá uma vontade ENORME de ver mais e mais disso.
Vamos ver, não dá pra saber ainda o que o futuro nos reserva. Mas tanto lá quanto na vida real, a esperança fala mais alto. E o caminho tá claro.