The Mandalorian foi a arma nada secreta do streaming do Mickey Mouse, deixando o Netflix preocupado. Só que tudo indica que, ao final da série, o Disney+ perdeu assinantes. E agora? Quem ganhou este primeiro duelo mesmo…?
Muito que bem. Finalmente, foi dada a largada na tal GUERRA DO STREAMING, assim mesmo, em caixa alta, pra ficar dramático. Se o Netflix já tinha que encarar a concorrência da Amazon, cujas produções originais têm sido no geral de boa qualidade, em 2019 a briga se tornou de cachorro grande com a estreia do Disney+, o streaming oficial da turma do Tio Patinhas.
Além do catálogo gigante, com tudo que é Disney clássico, Pixar, Marvel, Star Wars, este monte de marca estabelecida, o novo serviço também deu as caras com uma série original que polarizou as conversas ao longo de OITO semanas e, bom, definiu alguns rumos da cultura pop: The Mandalorian. Além de ser, ao lado de Rebels, uma das melhores coisas relacionadas a Star Wars, nos últimos anos, uma série original incrível, tamos falando de quem mesmo? Isso, Baby Yoda.
Foi justamente ISSO, muito mais do que qualquer saga Skywalker nos cinemas, que fez as pessoas fora do mundinho Star Wars se interessarem pela série. Porque quem teria a capacidade de ignorar aquela pequena criatura verde de olhos e sorriso encantador, afinal?
Foram 10 milhões de assinantes só NO PRIMEIRO FUCKING DIA, do lançamento do serviço, ultrapassando o que os analistas davam como certo para que a empresa fechasse estes primeiros meses em 2019. De acordo com o site especializado Apptopia, o aplicativo do Disney+ foi baixado quase 4 milhões de vezes em apenas 24 horas. E apesar da Disney já ter declarado que só vai soltar números OFICIAIS a partir de seu primeiro balanço, em Fevereiro, um estudo da financeira Cowen & Co. estima que cerca de 1 milhão de pessoas, só nos EUA, cancelaram suas assinaturas do Netflix e migraram pro Disney+.
O estudo dá conta ainda que, até o final de novembro, o streaming do Pateta deva ter chegado a cerca de 24 milhões de assinantes na Terra do Tio Sam. Em entrevista pra Variety, o analista Daniel Ives, da especializada Wedbush, aposta que, se continuar nesta TOADA, o Disney+ pode atingir seu objetivo de 60 a 90 milhões de inscritos GLOBALMENTE, originalmente previsto para 2024, pelo menos dois anos antes do previsto.
Mas nem tudo são flores nesta guerra? né. E se você dá seu primeiro tiro, tem que estar preparado pra receber de volta. Ainda que não seja do seu principal adversário, mas sim de seu próprio público.
Aí que The Mandalorian acabou, também, né? E ainda que Baby Yoda continue por aí, TANTA coisa tá acontecendo no mundo (e não só da cultura pop, infelizmente) que a gente já conseguiu até esquecer um pouco. Catálogo? Tá bom, muito legal ter acesso direto a um milhão de filmes, mas isso nunca importou MUITO — ou importou quando o serviço de streaming surgiu pra substituir o que restou das locadoras.
Locadoras, lembra, esse universo paralelo que, assim como alguns canais de TV aberta que exibem filmes, sempre tiveram aquela FITA que “nossa não sabia que era da Disney”. Quem de fato ia atrás dessas produções muitas vezes feitas para o home vídeo? Tipo... AVIÕES? Numa época pré-celular, pré-tablet, era isso o que os pais usavam pra distrair as crianças. Mas agora...
Por que estamos falando isso? Porque, ainda que não se tenham números PRECISOS, alguns sites especializados tipo o Comicbook.com, por exemplo, se valeram dos comentários da galera das redes sociais, dizendo que era hora de cancelar o Disney+ até que a segunda temporada de The Mandalorian começasse (e antes que você pergunte, sim, tá confirmada pra este ano ainda, no outono americano).
De novo: isso é só uma medição de temperatura em comentários num Twitter da vida, não dá pra saber VERDADEIRAMENTE que impacto isso teve mesmo. Mas não é surpresa, porém, que os números que provavelmente fizeram o Netflix ficar com o ZOIÃO aberto estejam diminuindo. Além de um movimento saudável, no meio de tantos serviços, as pessoas queriam novidades de Star Wars e Baby Yoda. Se não tem mais isso, pra que continuar?
“Porra, tem as séries da Marvel!”, gente. Então, verdade. Mas tinha só uma prevista originalmente pra esse ano, The Falcon and the Winter Soldier. Não parece ser coincidência, portanto, que tenhamos WandaVision TAMBÉM adiantada para este ano (no calendário original, a estreia da mais interessante das tramas desta Casa das Ideias televisiva até o momento tava prevista só pra 2021). Aí temos, já confirmados pra este ano, a comédia teen Diary of a Future President, a última temporada de Star Wars: The Clone Wars, o revamp de Lizzie McGuire...
Vale a pena assinar Disney+ por isso? Não é POUCO em termos de originais, comparando com a quantidade de coisas que um Netflix lança POR MÊS?
A resposta curta é NÃO, não vale a pena assinar. Mas calma, que é mais complicado do que isso. Porque o mais interessante dessa história é que o Mickey de terno e gravata, diante de seus muitos gráficos e planilhas do Excel, SABE disso. Porque a Disney, meu amor, não dá ponto sem nó, já começa daí. E sabe, da mesma forma que seus concorrentes de Los Gatos, que tem muito tempo que o mundo não se resume aos Estados Unidos.
Vamos começar falando aqui de PIRATARIA? Vamos. Todo mundo fora dos EUA baixou The Mandalorian, deixemos a hipocrisia de lado. Quer falar que foi ver na Argentina? Pois foi, tudo bem. O ponto é que, mercadologicamente falando, faz todo sentido a Disney cagar e andar pra pirataria GLOBAL. Porque a plataforma não existe pro lado de cá. Logo, eles não tão perdendo dinheiro; tão no máximo deixando de ganhar. Aí fica a dúvida pra vocês: será que o que eles não tão embolsando seria maior do que eles gastariam pra lançar a plataforma globalmente? Outra resposta NÃO aqui.
O mundo inteiro assistiu à uma coisa e comprou a ideia. O mundo inteiro quer mais. E isso sem que eles tivessem precisado fazer qualquer investimento além de EUA, Canadá, Holanda e demais territórios de lançamento inicial. Mais efetivo do que dar “um mês grátis” de teste, não acha?
Vem um hiato de interesse global agora, até que comecem a aparecer as séries da Marvel e outras promessas. Aí o pessoal já vai saber do que são capazes, aí já vai valer investir em marketing. E quando chegarem, vai estar todo mundo com o dinheiro na mão pronto pra gastar. Não sejamos inocentes aqui, minha gente: grandes corporações fazem o que podem, literalmente, pra não diminuir lucro. Nada é de graça, na base do amor. Era ÓBVIO que essa história não poderia ser tratada como burrice. E se pensarmos na quantidade de produtos envolvendo a série (aka “bonequinhos do Baby Yoda”), que todo mundo que viu The Mandalorian, legalmente ou não, vai comprar...
Mas, enquanto isso, no finalzinho de 2019, o Netflix resolveu contra-atacar com um negócio chamado The Witcher. Que, com aqueles pernão do Henry Cavill e uma música que não sai da cabeça de nenhum ser humano que viu a série (e que temos certeza que você está cantarolando NESTE EXATO MOMENTO), conseguiu destronar The Mandalorian do posto de queridinha da galera que consome streaming. Mas, neste caso, não tem só uma medição em redes sociais não, tamos falando de um estudo feito pelos caras da Parrot Analytics, empresa de dados pro mercado de TV que tem uma metodologia própria para medir desejo, engajamento e visualização de uma série, categorizadas por ordem de importância graças às chamadas “demand expressions”... o que inclui TAMBÉM os lançamentos das plataformas de streaming.
Ao longo de 2019, quem tava na frente, absolutamente disparado, imbatível ao longo de 21 semanas, era Stranger Things. Mas quando The Mandalorian estreou, derrubou a Eleven e agregados do primeiro lugar. Mas foi só o bruxão chegar pra assumir a liderança. Levando em consideração que o ranking de final de ano do próprio Netflix, aliás, coloca The Witcher no seu top 10 de lançamentos mais populares nos EUA (sexto lugar ao se misturar filmes e séries e segundo lugar na lista apenas de seriados, com Stranger Things na ponta), entende-se o fenômeno.
Vejamos como vai ser o próximo round desta batalha que, obviamente, não tem data pra terminar...