Marvel e DC estão levando a venda de HQs pra um novo estágio nos EUA: a madrugada
Já falamos diversas vezes aqui no JUDÃO como o mercado de histórias em quadrinhos dos EUA é diferente do Brasil. Por lá, venda em banca não existe e as comic shops tem uma importância muito grande. São os lojistas que fazem um lançamento ser um sucesso ou morrer na praia, e que sempre colocam as novidades na prateleira todas as quartas-feiras.
E é a disputa pelo coração dos lojistas que irá movimentar Marvel e DC agora em Maio.
A editora do Superman sabe que perdeu a confiança da galera das comic shops (assim como a do leitor mais tradicional) com o chamado DC You, o relaunch de 2015. Por isso, estão preparando para este ano o Rebirth, que é uma mistura de volta aos conceitos que fizeram famosos os super-heróis da casa AND a incorporação de alguns conceitos novos, mas sem tentar reinventar a roda. Tudo isso começa no dia 25 do mês que vem, com o especial DC Universe Rebirth.
E é aí que entra a grande jogada: de acordo com o Bleeding Cool, a editora quer liberar a venda do especial já à MEIA-NOITE do dia 25 — enquanto, normalmente, todo mundo é obrigado a iniciar as vendas apenas no início do horário comercial da região. Só que pro lojistas terem essa oportunidade, o número de encomendas de DC Universe Rebirth feitas por ele precisam igualar ou SUPERAR os pedidos de Dark Knight III: The Master Race #1, lançado ano passado e que foi um CAMPEÃO DE VENDAS.
Pra você ter uma ideia, o gibi assinado por Frank Miller e Andy Kubert vendeu 440 mil exemplares pro chamado mercado direto em Novembro do ano passado. A diferença aqui é que DKIII custou US$5,99 por exemplar, enquanto o especial que inicia o Rebirth sai por US$ 2,99 (e com 80 páginas).
Isso é particularmente um risco para os lojistas: não há retornos, como acontece nas bancas do Brasil, e quando ele encomenda um gibi ele efetivamente está comprando aqueles exemplares. Se não vender, o prejuízo é dele — e só dele.
Só que a DC tá apostando muito no especial do Rebirth, assim como na estratégia das vendas antecipadas. Isso pode gerar filas e uma procura parecida com, sei lá, o lançamento de um iPhone, o que acaba aumentando a procura e gerando o famoso EFEITO TOSTINES. Além disso, revendedores podem promover festas e eventos nas lojas, o que ajuda a turbinar as vendas de outros títulos e produtos licenciados.
Ainda de acordo com o BleedingCool, haverá uma capa variante especial para quem “conquistar o direito” das vendas antecipadas, assinada pela dupla brasileira Ivan Reis e Joe Prado – provavelmente a mesma que estampa a edição especial da revista Previews com todos os gibis que vão vir no Rebirth. A editora também vai liberar a venda antecipada de todos os outros gibis que serão lançados no dia 25, incluindo The Dark Knight Returns: The Last Crusade, Justice League #50, Scooby Apocalypse #1 e Superman #52 (que, dizem, pode MATAR o Homem de Aço d’Os Novos 52, o reboot de 2011).
Legal, né? Legal. TÃO legal que a Marvel não vai ficar quieta.
Também de acordo com o Bleeding Cool, a Casa das Ideias é outra que vai liberar a venda de seus lançamentos da semana às 00h do dia 25. Só que a grande diferença é que não há condição pra isso. Se a comic shop quiser, é só abrir e vender os gibis da Marvel que são lançados na semana. E isso inclui o aguardado Captain America: Steve Rogers #1, com o retorno do Bandeiroso clássico.
O mercado de HQs dos EUA precisa dessa força agora. Não que a situação esteja CALAMITOSA: no geral, 2015 foi ótimo, um crescimento de 9% em todos os gibis periódicos vendidos pelas comic shops – no geral, contando encadernados e graphic novels, o aumento foi de 7%. Só que 2016 parece estar andando para trás, como mostram os números da distribuidora Diamond, com uma queda de quase 8% na quantidade de gibis e encadernados vendidos nos três primeiros meses do ano quando comparado com 2015 – em dólares, houve um ligeiro aumento, de 1,32%. Ou seja, as editoras compensaram a queda de um lado com o aumento do preço no outro.
Por tudo isso, dá pra dizer que a meia-noite do dia 25 de Maio se tornou a “hora da verdade” pro mercado de HQs dos EUA este ano. Ou os caras vendem MUITO e a DC consegue usar seu especial pra convencer os leitores a acompanharem o Rebirth (e a Marvel aproveita a chance criada pela Distinta Concorrência para dar um gás nas próprias vendas), ou 2016 vai terminar com o mesmo gosto (e o mesmo resultado financeiro) de 2014...
E, quando se fala em ganhar dinheiro, ninguém gosta de voltar duas casas pra trás...