Produtor, diretor, cantor, ator, formador de caráter. Luiz Carlos Miele morreu nessa quarta-feira, aos 77 anos, no Rio de Janeiro.
Morreu nesta quarta-feira, 14, vítima de um mal súbito, Luiz Carlos Miele.
Ele tinha 77 anos, mas parecia mais. Não pela aparência física, mas sim pelo fato de que ele era tipo um Samuel L. Jackson da cultura pop Brasileira, tendo feito de absolutamente tudo, durante quase 60 anos de carreira.
Miele sabia, como poucos, fazer entretenimento. Produziu música, produziu e dirigiu shows de música, produziu e dirigiu programas musicais na TV, programas infantis, programas bons, programas completamente aleatórios. Cantou, apresentou, atuou e sempre deu ótimas entrevistas — especialmente quando ia ao Jô Soares 11:30.
Miele sabia, também, fazer história. Convidado por ninguém menos do que Ronaldo Bôscoli, vindo do epicentro da bossa nova, para produzir os shows na lendária casa de shows Beco das Garrafas, abriria caminho para nomes que surgiam na época como Elis Regina e Sérgio Mendes. Produziu espetáculos de Wilson Simonal e foi o responsável pela transformação de palco de Roberto Carlos, nos anos 1970, ajudando-o a tornar um ícone solo à parte da Jovem Guarda, ganhando brilho próprio. Nomes como Stevie Wonder, Burt Bacharach e a diva do jazz Sarah Vaughan também tiveram apresentações produzidas por Miele quando aportaram no Brasil.
Na televisão, foi diretor musical do Fantástico e chegou a trabalhar como humorista em clássicos do gênero na Globo como Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom e o lendário Planeta dos Homens. Esteve em Mandrake, numa época em que o jeito HBO de fazer televisão ainda engatinhava, especialmente no Brasil, e apresentou Coquetel, uma das maiores bizarrices que a TV Brasileira já teve mas que, com um piano de cauda no palco, que imitava um navio, passava a ideia de um glamour absolutamente inexistente.
A ideia era fazer um lance meio “mulheres nuas + música requintada”, inspirado em Hugh Hefner nos primórdios da Playboy. Só que o programa era exibido no SBT. E adivinha quem meteu a mão no conceito? :)
“Quando o Silvio Santos me chamou para fazer aquilo, eu pensei em usar a desculpa da nudez para levar para a TV o que a Playboy fazia. A primeira seção da mulher nua, a outra seção que é jazz e popular, depois outra seção com mulher nua, depois outra com o melhor do cinema…”, contou, em entrevista ao UOL. “Pensei: ‘vou levar isso para a TV’. E gravei o primeiro programa assim, discutindo com o diretor. E ele levou a gravação para o Silvio Santos, que me chamou e falou assim: ‘você não entende nada de SBT. Isso aqui é um programa assim, para atingir o público das onze horas da noite e se você quiser fazer é assim’. E eu fiz. Mas não que eu tenha gostado”.
Um dia depois da notícia que a Playboy vai deixar de ser essa mesma Playboy que Miele por pouco não transformou em televisão, ele se foi. Mas é só coincidência, uma vez que ele chegou a dizer qual frase gostaria que estivesse no seu epitáfio: “Aqui jaz, absolutamente contra a vontade, Luiz Carlos d’Ugo Miele”.
Que assim seja. :)