Annabelle 2 é bem melhor que o primeiro | JUDAO.com.br

Mas isso nem pode ser levado muito em consideração, porque aí é nivelar por baixo!

David F. Sandberg, diretor de Annabelle 2: A Criação do Mal e um dos queridinhos de James Wan (ele também dirigiu Quando as Luzes se Apagam, produzido pelo malaio) disse certa vez em entrevista ao Bloody-Disgusting que essa continuação seria como “O Poderoso Chefão II dos filmes de bonecos assustadores”, fazendo uma alusão ao fato de muitos considerarem a sequência do filme de máfia de Francis Ford Coppola como algo superior ao original.

Pois bem: o longa que chega às salas brasileiras nesta quinta-feira, cercado da expectativa em novamente faturar um caminhão de dinheiro — Annabelle é historicamente nada menos que A MAIOR bilheteria de um filme de terror no Brasil, levando mais de 3,6 milhões de espectadores aos cinemas — é sim BEM melhor que o primeiro filme. Mas aí é chutar cachorro morto, né? Porque isso nem pode ser levado muito em consideração, uma vez que a primeira incursão cinematográfica solo da boneca do Capiroto é uma das coisas mais xexelentas já feitas no gênero.

Muito da superioridade desta prequência se deve exatamente à direção de Sandberg, anos luz à frente do trabalho burocrático de John R. Leonetti no original, tanto em estética quanto em direção de atores, composição e movimento de câmera, além da ambientação de época e da sensação de isolamento. Tudo trabalhado numa atmosfera mais próxima de um longa tipicamente de casa mal-assombrada (ou internato mal-assombrado, se preferir) do que só uma versão CANHESTRA na vibe O Bebê de Rosemary, como fez seu antecessor, aquele mesmo feito à toque de caixa para surfar na onda do sucesso de Invocação do Mal.

Este segundo pode abusar até um pouco mais da violência e do horror gráfico (eu juro que vi uma cena totalmente em homenagem a Terror Nas Trevas, de Lucio Fulci), porém, com relação à eficiência em assustar de verdade, aquele terror que vem do ÂMAGO e te faz suar frio, com os pelos da nuca arrepiados, ambos falham miseravelmente (tirando a já inspirada sequência no depósito do prédio, no primeiro).

Na trama, Samuel Mullins, interpretado por um inexpressivo Anthony LaPaglia, é um fabricante de bonecas na década de 40 que mora em uma fazenda isolada com sua esposa, Esther (Miranda Otto, subaproveitadíssima) e sua única filha, Bee (Samara Lee). Subitamente eles são acometidos por uma tragédia quando a menina morre em um terrível acidente. Pulo no tempo, doze anos mais tarde eles resolvem transformar a casa em um orfanato para garotas, no qual não irá demorar muito para as meninas serem aterrorizadas pela presença demoníaca existente naquela boneca feia de doer, que vai começar sua peregrinação em busca de almas.

Do primeiro ao último frame de Annabelle 2 tudo é absurdamente previsível, naquele típico filme carola maniqueísta, repleto de sustos fáceis e um terceiro ato de correria, receitinha de bolo do cinema de James Wan, seguindo o manual de todo e qualquer enlatado mainstream do terror moderno.

Só que, vá lá, isso também não é NENHUMA novidade e você senta a bunda na cadeira do cinema tão preparado para tudo de óbvio que vai acontecer que não consegue sentir nem raiva, porque já não esperava absolutamente nada diferente. A falta de profundidade, de uma história melhor desenvolvida que não seja pautada em longas tomadas resultantes em jumpscare (que por incrível que pareça, existem em uma quantidade bem menor que eu imaginava) ou a banalização da aparição física do Tinhoso (erro já cometido amplamente no primeiro), o transforma num daqueles filmes MÉH, que não são ruins, mas também não são bons. São só... desnecessários. E disso as salas de cinema já tão cheias.

É fato que existem muitas tentativas, da parte de todos os envolvidos, em tentar justificar a existência de Annabelle 2 como algo além de apenas mais uma sequência caça-níquéis. O filme da boneca que já tem seu lugar definitivo no firmamento dos ícones do horror (bem do ladinho do Chucky, lide com isso) explica sua origem e tem ligação direta de seu final com o começo do primeiro filme. E, acredite, ainda faz menção e conexão com o autointitulado (e bem oportunista) Conjuringverse de Wan, trazendo até uma cena pós-créditos!

Como já diria o poeta: está tudo conectado...

Pois é, amiguinhos, não adianta gritar, chorar, se descabelar e xingar muito no Twitter. Annabelle 2: A Criação do Mal vai SIM fazer um baita sucesso e arrastar muita gente para o cinema, por todo o hype criado em cima da personagem de madeira, e por entregar exatamente aquilo que o público médio – e nada exigente – do gênero, quer ver.

E, para os executivos, só alegria, com um monte de dinheiro fácil entrando nos cofres, uma vez que a “franquia” faturou até agora impressionantes US$ 966 milhões no mundo todo desde Invocação do Mal, lançado lá em 2013, isso já somando os US$ 35 milhões da estreia de Annabelle 2 em primeiro lugar nas bilheterias americanas, justamente em um verão cheio de incertezas e fracassos nos EUA.

Portanto, tire o cavalo da chuva porque vem mais por aí: já temos a caminho mais dois spinoffs vindos diretamente de Invocação do Mal 2, chamados de A Freira e The Crooked Man, isso sem contar a terceira parte das desventuras paranormais de Ed & Lorraine Warren, também já confirmada.

É melhor a Marvel se cuidar, viu?