Arrowverse: o fim de mais um capítulo, desta vez rumo à Crise | JUDAO.com.br

As quatro séries do multiverso compartilhado DC-CW terminam suas respectivas temporadas atuais algumas muito bem, outras mal pra diabo, mas todas focadas no próximo crossover, inspirado na saga que colocou ordem na casa dos gibis. Será…?

SPOILER! Não dá pra saber exatamente se o CW vai aproveitar a chance de ouro que tem nas mãos e chacoalhar de vez o status quo de seu universo de séries baseadas nos gibis da DC. Afinal, o próximo crossover conjunto dos caras é nada menos do que Crise nas Infinitas Terras, aquela prometida desde a primeira temporada de Flash, o que, nos gibis, virou faxina geral, refez cronologia, apagou mundos que não interessavam.

O que sabemos é que, na TV, já temos o Monitor rondando nossos heróis desde o crossover anterior, o Pirata Psíquico surtando, o aviso de que tem um mal muito maior a caminho — seria ele o Antimonitor? Já sabemos também que a história única vai conectar cinco séries, incluindo Legends e a novata Batwoman, que tá pra começar.

Os executivos/roteiristas vão aproveitar pra trazer a National City da Supergirl de vez pro mesmo mundo de Arrow/Flash? O mesmo vai acontecer com a Gotham City da Batgirl? Será que esta é a chance que eles tanto queriam de trazer o Raio Negro para esta festa também? Conforme algumas especulações esperançosas, este é o momento de acenar para a a turminha que se desenha no serviço de streaming DC Universe, incluindo os Titãs e a Patrulha do Destino? Um pouco ousado mas quem sabe?

Vamos ver o que vem por aí, não dá pra saber ainda. O que dá REALMENTE pra sacar é que o CW parece mais focado neste crossover do que nos anteriores. É a hora de apostar todas as fichas. Porque ele vai ser maior, mais ambicioso, mais intenso... e porque todas as temporadas atuais, sem exceção, acabaram (cada uma à sua forma, obviamente) apontando diretamente para a Crise. Ainda que umas tenham se encerrado de um jeito meio enrolado, esquisito, enquanto outras tenham enfim voltado a encontrar seu caminho, sua história, sua personalidade. Vamos falar de cada uma delas, em particular? Sobre o que rolou e o que ainda pode rolar? Ah, vamos sim. ;)

Arrow: olha, tava precisando, hein?

Depois daquela maravilhosa quinta temporada com o Adrian Chase / Prometheus no papel de antagonista, talvez um dos vilões mais interessantes não apenas da série mas também de todo o Arrowverse, foi difícil se manter fiel à série ao longo de uma sexta temporada confusa, bagunçada, sem apelo, sem graça. Todos os problemas visíveis nos anos anteriores foram ampliados e esfregados na cara do coitado do espectador. Mas quem persistiu, bom, pelo menos teve a chance de ser premiado com uma sétima temporada bem OK. Não foi genial? Não, não foi. Mas foi, digamos, digna. O suficiente para servir de prólogo para a oitava e derradeira — já que, sim, a temporada de número 8 será a final para Arrow. E ainda mais curta, com meros 10 episódios (o que deveria ser o padrão aqui, mas tudo bem).

Talvez eu tivesse deixado o Oliver na cadeia por mais tempo, para aproveitar um pouco mais a pegada do filme do Arqueiro Verde que nunca saiu? Ah, sim. E talvez eu fizesse um uso diferente do Nono Círculo, adição pós-Renascimento à mitologia do Arqueiro nos gibis e que é uma ótima ideia, um banco de investimento para projetos envolvendo supervilões e afins? Sem dúvida alguma.

Mas, no frigir dos ovos, Arrow acertou principalmente nas personagens femininas. Felicity enfim ganhou uma personalidade descolada do marido, surpreendendo todo mundo ao seu redor ao revelar um lado mais audacioso e até mesmo mais sombrio. A dicotomia entre a trajetória de vigilante mascarada e a carreira na polícia de Dinah, que ainda teve que encarar a brutal perda de seus poderes, também foi um arco interessante. E o mesmo vale para a redenção da Laurel da Terra-2, que se encontrou como uma Black Siren heroína, que provou ter aprendido muito no período em que conviveu com Quentin, que aprendeu a escrever a própria história ao invés daquela que se espera dela.

E aí tivemos Emiko. A irmã que a família Queen tentou esconder, aquela que nos quadrinhos mais recentes tornou-se uma das melhores e mais importantes aquisições ao elenco de coadjuvantes do título do herói. E que se revelou uma antagonista BASTANTE surpreendente. Não queria tê-la perdido assim, tão prematuramente... mas pelos rumos que a série está tomando, fechando o seu ciclo, aparentemente não tinha outro jeito.

Tudo leva a crer que Arrow deve ditar os rumos da Crise, o que faz todo o sentido, já que foi aqui que tudo começou. Oliver Queen fez uma promessa ao Monitor para salvar as vidas do Flash e da Supergirl. Agora, o ser cósmico veio cobrar seu tributo e vai carregar o homem dos arcos e flechas consigo numa jornada pra preservar o universo — e com o fim de sua série própria, já dá a maior pinta de que o Oliver deve se tornar, ao fim da Crise, uma espécie de Vigia, aquele mesmo da Marvel, que tudo observa mas (quase) nunca interfere. Ou talvez um novo Monitor? Alguém que vai poder aparecer como convidado especial sempre que for necessário...? É uma boa saída. ;)

O mais legal, no entanto, é que a sétima temporada da série do Arqueiro não foi apenas a amarração do LEGADO do herói em Star City, de assassino a vigilante, de vigilante a herói. Mas também o fechamento completo de uma trama, conectando as linhas temporais de passado e futuro que vinham sendo contadas em paralelo desde o início da temporada. Ou seja... o que restou para os 10 episódios finais? Ninguém sabe. Nenhuma pista. E isso costuma ser sempre um ótimo sinal. Uma oportunidade para ser surpreendido enquanto espectador. Ainda bem.

The Flash: tava ruim, melhorou, parece que piorou

Olha, vai fazer aí umas duas ou três temporadas que tá bem osso acompanhar a série do Velocista Escarlate, sério mesmo. Eu mesmo já pensei algumas vezes em largar de vez, mas sou teimoso e persistente. O ponto é que The Flash passou a ser a cristalização de todas as principais críticas às séries do CW: roteiros esquemáticos e focados DEMAIS no dramalhão familiar. Não dava mais pra aguentar todo aquele sofrimento e as eternas DRs entre Barry e Iris. Virou mais novelão do que um fã de novelões conseguiria aturar.

Trazer Nora, a filha do casal vinda do futuro, pareceu mesmo uma boa ideia. Jessica Parker Kennedy, a atriz, é carismática, divertida, trouxe sangue novo à série. Junte isso à mais nova versão de Harrison Wells vivida pelo brilhante Tom Cavanagh, o empertigado investigador francês Sherloque, e o palco tava bem preparado para voltar a dar uma dose bacana de humor e leveza, aqueles mesmos que sobravam nas duas primeiras temporadas e que se tornaram tão escassos de lá pra cá.

Rolou? Não, infelizmente não rolou. Apesar de protagonizar alguns bons momentos, numa trama que, a exemplo de Arrow, também girou em torno da palavra “legado”, Nora acabou se tornando só mais um catalisador possível para intermináveis discussões sofridas e amarguradas sobre responsabilidade e amores perdidos nas linhas temporais. Não, gente, não é sobre isso que The Flash deveria ser. Nem o tão aguardado confronto entre o Rei Tubarão e o Gorilla Grodd, que deve ter gastado todo o orçamento de efeitos especiais DO ANO na emissora, ajudou a segurar a bronca. Mas também, com um vilão tão meia boca quanto aquele Cicada, tanto na primeira quanto na segunda versão, masculino e feminino, socorro.

Em se falando no assunto vilão, no entanto, a grande surpresa foi a ótima sacada de trazer Cavanagh de volta ao papel de Flash Reverso, o antagonista que melhor funcionou na série até o momento. E com o olhar sereno e a voz sussurrada de Eobard Thawne, o cara simplesmente rouba a cena. Talvez a maior sacada de toda a série tenha sido mesmo a revelação de que era tudo uma armação do sujeito — que agora está à solta! SIM! COMEMOREM COMIGO!

A chance de que ele seja o vilão da próxima temporada e também um dos responsáveis pela Crise é grande, embora muito se fale sobre a saída do ator do elenco da série depois do crossover, a exemplo de Cisco/Carlos Valdes (o que, neste caso, faria sentido, dada a escolha de seu personagem ao abrir mão dos superpoderes).

A página principal do jornal na sala secreta mudou a data e agora indica que o Flash desapareceu durante uma Crise em 2019. A hora da mudança é agora, é regra na DC que toda Crise traz mudanças drásticas para o Flash vigente. Sem o Flash Reverso pra tentar dar uma animada nas coisas, se for pra continuar na mesma toada, talvez faça sentido que o CW pense mesmo em fazer o Homem Mais Rápido do Mundo desaparecer, ainda que temporariamente. Um tempinho maior perdido na Força de Aceleração, talvez?

Supergirl: obrigado por isso, de verdade

Que grande alívio foi ver esta nova temporada da Garota de Aço, na real. Os romances açucarados ainda existem, claro, mas ficaram de lado, como acessórios, e deixaram de se tornar empecilhos na jornada da heroína. Kara retomou seu protagonismo na série que carrega seu nome, afinal de contas. E os roteiristas ainda foram ousados de um jeito que deveria servir de exemplo pro restante dos coleguinhas de Arrowverse ao abordar de maneira bem corajosa um tema tão pulsante na sociedade americana hoje: a questão dos imigrantes.

Eu juro que até perdoo o fato de que a trama da Red Daughter, inspirada na série A Foice e o Martelo, tenha sido usada de maneira mais econômica do que se pensava originalmente — serviu pra trama geral da série, obviamente que sim, só que não foi nada tão grandioso quanto os fãs da obra de Mark Millar esperavam. Mas ao colocar os alienígenas no papel dos refugiados da vida e iniciar, semanalmente, uma discussão relevante sobre o papel da sociedade e do governo na situação destas pessoas que só querem começar uma nova vida em paz, Supergirl se colocou num papel incrível, do tipo que te faz ter orgulho de ver uma série, sabe? Do mesmo tipo que senti ao ver a primeira temporada, aliás.

Lindo de tudo foi ver ainda a inclusão de dois novos personagens – a Sonhadora, uma heroína trans cuja trajetória foi toda tratada de um jeito natural, doce até, que a tornou uma coadjuvante indispensável e que, sim, PRECISA e MERECE ganhar mais espaço ao longo da próxima temporada. Não é a primeira incursão de Supergirl com maior representatividade LGBT e tomara que não seja a última.

Ah, sim: e aí que tivemos também o Lex Luthor, né. Vivido por ninguém menos do que o irmão do Charlie.

Olha só... talvez eu esteja pisando em terreno minado aqui mas vou dizer mesmo assim: talvez esta versão do Lex fora dos gibis tenha sido a melhor até o momento, sem exagero algum. Talvez dê pra colocar ombro a ombro com a do Michael Rosenbaum em Smallville. Funcionou BEM direitinho. Jon Cryer entregou um Lex maníaco, maquiavélico, manipulador, com uma pitada de canastrice e exagero que se espera de um vilão de gibi, afinal de contas. E que bom que, no fim das contas, além de dar a fagulha inicial na aguardada transformação de sua irmã Lena (o que, se for bem conduzido, promete ser um grande momento da próxima temporada), ele foi resgatado pelo Monitor. Porque, afinal, de contas, Alexander Luthor é um elemento crucial para a Crise nas Infinitas Terras, não é mesmo?

Já sabemos que a temporada seguinte deve se focar na organização secreta Leviathan, aquela mesma que Brian Michael Bendis está reconstruindo neste momento nos gibis americanos da DC. Mas confesso que me surpreendi com a aparição final de um irmão do Caçador de Marte. Seria ele um personagem inédito? Ou quem sabe uma adaptação de Ma’alefa’ak J’onzz, o Malefic, que nas HQs foi um dos responsáveis pela maldição que varreu quase todos os marcianos do mapa em seu planeta natal? A ver.

Legends of Tomorrow: o mais puro creme da galhofa

Sim, sim, sim, a glória. Vou dizer que agradeço sempre pela existência desta série, depois que os roteiristas sacaram que não tinham os grandes medalhões nas mãos e, portanto, não tinham necessidade nenhuma de se levar a sério. A atual temporada só ajudou a cravar que LOT é, ao lado de Patrulha do Destino, ainda que por motivos BEM diferentes, a série baseada em gibis do meu coração (Legion e Preacher são, digamos, uma OUTRA coisa, né, e portanto ocupam um lugar diferente no meu peito).

Apesar de pequenas escorregadas ao longo da temporada, o que é absolutamente natural, a série soube brincar com metalinguagem, com o próprio Arrowverse e consigo mesma, tirando sarro de suas próprias limitações. Nem mesmo o Constantine escapou, ainda que os roteiristas tenham sido bem inteligentes ao trazer para sua ambientação, costurando e “fechando” uma trama que ficou aberta lá daquela série extinta do mago sacana.

Destaque não apenas para a participação maravilhosa de Thomas F. Wilson, o eterno Biff do filme De Volta Para o Futuro, como o pai de Nate, mas também para a ampliação da participação de ninguém menos do que... GARY.

Só uma série na pegada de Legends of Tomorrow permitiria a existência de um sujeito como Gary, o alívio cômico carismático inacreditável criado para ficar nos bastidores mas que naturalmente cresce e rouba a cena, que é quase como a nossa cara dentro da série, do tipo “o que aconteceria se a gente se tornasse personagem da vida destas Lendas?”.

Assim como números musicais com canções de James Taylor e também numa cantoria inspirada em filmes de princesa da Disney. Uma sequência inteira de dança a la Bollywood. Um purgatório todo ambientado dentro de uma interminável loja de artigos domésticos. Uma convenção de fãs de livros românticos. Um unicórnio dando um rolê por Woodstock. Uma fada madrinha from hell. E por aí vai. Os caras até tiveram a manha de colocar o Monitor comendo pipoca (!!!) e trazer o Vandal Savage de volta pra uma participação especial — só que, ao contrário de uma temporada na qual a zoeira ainda não imperava de maneira tão leve, livre e solta, o cara até tava sorrindo. E jogando Jenga!!!!!!

Depois das criaturas mitológicas/monstros, tá claro que quem vai infernizar a vida deste grupo disfuncional de heróis na próxima temporada são personagens históricos de moral questionável e cujas almas foram libertadas do inferno, como Gengis Khan, Charles Manson, Ted Bundy e Joseph Stalin. Alguns deles podem ser, digamos, mais delicados de trabalhar numa narrativa tresloucada como a desta série? Ah, mas isso sem dúvida alguma. Mas eu dou meu voto de confiança aqui. Só vai. Só vem.