O Boneco do Mal que queria ser um garoto... ou vice-versa | JUDAO.com.br

Esqueça Chucky, Annabelle, a boneca da Xuxa, do Fofão e, principalmente, não deixe se enganar pelo título que o filme ganhou por estas bandas…

O cinema de terror já tem uma considerável tradição de bonecos e brinquedos assassinos.

Começou com o filme inglês Na Solidão da Noite, de 1945, onde está presente o conto The Ventroloquist’s Dummy, dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti, que nos traz o ventríloquo Maxwell Frere e seu endiabrado boneco Hugo, passando por Magia Negra com Anthony Hopkins botando pra foder com seu boneco Fats, e chegando na podreira da Full Moon de Charles Band, além de clássico do Cine Trash, Bonecos da Morte (também conhecido como Mestre dos Brinquedos). Isso sem nem sequer precisar citar os dois mais famosos: Chucky e Annabelle.

Supostamente, com a estreia de Boneco do Mal nessa quinta-feira (17) nos cinemas do Brasil, teríamos outro seleto membro nesse grupo de macabras criaturas de madeira, plástico ou porcelana. Supostamente... Porque na verdade o trailer, a sinopse, a pegadinha do Silvio Santos e até o título que ganhou aqui no Brasil (vamos lembrar que o original é The Boy) vendem uma coisa que ele de fato não é. De malvado, aquele boneco não tem nadica — o que até é positivo, uma vez que vamos escapar do clichê envolvendo um boneco matando pessoas e partir para um plot twist no terceiro ato que salva o longa da completa previsibilidade, mas não o suficiente de uma possível futura queda no ostracismo.

Pois bem: Lauren Cohan, a Maggie de The Walking Dead e futura Martha Wayne, é Greta Evans, uma americana que arruma o trampo de babá/governanta do filho de um velho casal em um casarão no interior da Inglaterra. Ao chegar lá, ela descobre que Brahms, o moleque que ela deve tomar conta, na verdade é um... boneco. :)

A história por trás de Brahms é que, há 20 anos, o casal perdera o filho em um incêndio, e o trauma foi tamanho que eles passaram a criar o ser de madeira de tamanho real em seu lugar, colocando-o para dormir com beijo de boa noite, trocando de roupa, dando aulas de música e por aí vai.

Greta deve fazer tudo isso enquanto o casal viajar de férias, seguindo uma rígida lista de regras, tipo não alimentar depois da meia-noite, não expor à luz
forte e não molh.... não, pera!

Mas é óbvio que Greta estará devidamente cagando e andando para essas regras, imaginando que os dois velhos piraram. É uma porra dum boneco, né? Até que “estranhos acontecimentos” (termo chavão para sinopses de filmes de terror) passam a acometê-la naquela casa. Sozinha, logo ela vai encasquetar que de fato o boneco está vivo e que de alguma forma o espírito de Brahms está tentando se comunicar com ela.

Boneco do Mal

Bom, a primeira metade do filme é carregada no terror psicológico, daquele que a gente bem gosta, com a aparência SINISTRA do boneco fazendo a galera suar frio de verdade, junto da direção segura de William Brent Bell. Sua câmera passeia pelos claustrofóbicos e solitários APOSENTOS daquele casarão, numa fotografia gótica com todo seu misé-em-scene básico, levando a heroína para uma situação entre sua sanidade e loucura, insegura com um passado de abuso e violência doméstica que a persegue. A única pessoa com quem ela pode contar é o entregador AND potencial par romântico, Malcom (Rupert Evans, que você deve conhecer como o John Myers de Hellboy).

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Aí vem a tal da virada, que funciona basicamente para duas coisas, conforme disse lá em cima: torna o filme mais interessante e “assistível” do que a explicação sobrenatural PROSAICA e padrão, que tornaria a coisa tosca – taí Annabelle que não me deixa mentir – mas ao mesmo tempo, pra quem esperava outro tipo de desenrolar, ele pode ser frustrante, se pararmos para analisar BEM friamente. Afinal, qualquer explicação que a gente tenta dar pra ele, ainda que embasada no maravilhoso mundo da ficção cinematográfica, simplesmente não encaixa. Tem que forçar muito a suspensão da descrença mesmo. ;)

Boneco do Mal é aquele tipo de filme NHÉ sabe? Ok, tem uma atmosfera muito boa, uns momentos bem climáticos, tem lá sua dose de jumpscare para aqueles que gostam de pular da cadeira e derrubar a pipoca do balde. Mas também nada que seja assim, uma Brastemp.

Esqueça Chucky, Annabelle e cia limitada, pois essa definitivamente não é a pegada de Boneco do Mal. Siga única e exclusivamente essa regra para não achar que comprou um boneco por garoto. Ou vice-versa.