Cineasta sumiu do set sem dar satisfação e ainda tretou com o protagonista, Rami Malek — em mais um capítulo de uma produção que não encara uma trajetória das mais simples
Olha só, talvez esta seja a notícia menos surpreendente da indústria do entretenimento NO ANO, mas o fato é que agora é oficial: Bryan Singer não é mais o diretor de Bohemian Rhapsody, a cinebiografia do senhor Freddie Mercury e de sua banda, a instituição soberana do rock que atende pelo nome de Queen.
“A Twentieth Century Fox Film interrompeu inesperadamente a produção do filme por conta de uma indisponibilidade inesperada de Bryan Singer”, afirmou um LACÔNICO comunicado do estúdio divulgado no último dia 1. Para a BBC, um representante do cineasta afirmou que rolou um problema de saúde envolvendo não apenas ele, mas sua família, e que ele voltaria de onde quer que estivesse (acredita-se que Los Angeles, mas vai saber) para completar as semanas de filmagens que estavam rolando na Inglaterra o quanto antes.
Esta foi a notícia que, nos últimos dias, virou destaque nas principais publicações que cobrem cultura pop em todo o mundo. Nada lá muito incomum, certo? O sujeito fica doente, pede atestado... Os executivos ficam preocupados, já que o Natal se aproxima, logo viria outra pausa, como proceder, talvez trazer um substituto pra terminar os trabalhos? Uma possibilidade.
Só que aí começaram a pintar informações vindas do set que afirmavam que o buraco era BEM mais embaixo...
Fontes afirmaram que a Fox já estava, na miúda, bem discretamente, estudando trazer outro diretor pro projeto. Mas não por causa deste sumiço, sim de alguns muitos outros. “É muito complicado quando um filme já está em produção e o diretor começa a se provar não-confiável”, diz o texto do Deadline a respeito da treta — segundo consta, seus atrasos e desaparecimentos estavam se tornando frequentes, fazendo com que o diretor de fotografia Newton Thomas Sigel, colaborador frequente de Singer, tenha muitas vezes sido forçado a assumir as rédeas.
Isso teria deixado Rami Malek, o ator de Mr.Robot que interpreta o Freddie, bastante frustrado, fazendo com que ele reclamasse não apenas para o estúdio, mas também para o próprio Singer diretamente, criando um clima pouco amistoso no set. Segundo o Daily Mail, a tensão teria chegado ao ponto do diretor jogar um objeto em Rami, fazendo com que um representante do sindicato dos diretores tivesse que estar presente para evitar mais problemas.
O jornal afirma ainda que Tom Hollander, que vive o lendário empresário do grupo, Jim Beach, teria ficado puto com o comportamento de Singer e pedido demissão da produção, sendo posteriormente convencido a voltar.
Na noite dessa segunda-feira (04), porém, a história mudou um pouco de figura. “Bryan Singer é demitido da direção da cinebiografia do Queen depois do caos no set” diz a manchete do Hollywood Reporter. “Bryan Singer não é mais o diretor de Bohemian Rhapsody” disse a Fox, tão lacônica quanto antes, mas um pouco mais objetiva.
Singer, também ao Hollywood Reporter, respondeu com um comunicado em que, em resumo, jogou a bola pro colo da Fox. “Eu não queria nada além de poder terminar esse projeto e ajudar a honrar o legado do Freddie Mercury e do Queen, mas a Fox não me permitiu porque eu precisei, temporariamente, colocar minha saúde e a de pessoas que amo, em primeiro lugar”, disse.
“Bohemian Rhapsody é um projeto dos meus sonhos. Faltando pouco mais de três semanas pra acabar as filmagens, eu pedi à Fox uma folga pra poder voltar aos EUA e lidar com os problemas de saúde urgentes de um dos meus pais. Foi uma experiência muito pesada, que acabou refletindo na minha própria saúde. Infelizmente, o estúdio não quis aceitar isso e encerrou meus serviços. Não foi minha decisão e isso estava fora do meu controle”
No mesmo comunicado, Singer ainda afirmou que os tais problemas com Rami Malek não foram nada além de diferenças criativas, devidamente resolvidas. “Rumores de que minha inesperada partida aconteceu por conta de uma disputa que tive com Rami Malek não são verdade. Enquanto, algumas vezes, tivemos diferenças criativas no set, Rami e Eu colocamos nossas diferenças pra trás e continuamos a trabalhar no filme juntos até antes do Dia de Ação de Graças”, afirmou.
Não foi minha decisão e isso estava fora do meu controle
O problema na história do cara é que esta não é a primeira vez que Singer demonstra este jeitão ERRÁTICO de ser, tendo sumido “momentaneamente” de filmes como Superman: O Retorno (2006) e X-Men: Apocalypse (2016). Há quem afirme, no entanto, que o desaparecimento da vez tem um motivo bastante estratégico: o turbilhão de acusações de assédio sexual pós-Harvey Weinstein poderia apanhá-lo em cheio, já que o seu passado é marcado por casos como o de Michael Egan III, que o acusou de tê-lo drogado e estuprado quando era menor de idade, durante o lançamento de O Aprendiz; e de um jovem que não quis se identificar mas também processou Singer por conduta sexual indevida na época da première do filme do Homem de Aço em Londres.
Assim que o escândalo Weinstein estourou e o caso de Kevin Spacey, seu amigo de longa data, uma imensa reportagem do Buzzfeed publicada em 2014, com o título de Inside Bryan Singer’s Wild Hollywood World e que foi a primeira grande matéria de verdade a retratar Singer como um predador sexual, passou a ser novamente compartilhada furiosamente.
>Caso tenha feito tudo de caso pensado ou não, o ponto é que ele está fora do filme do Queen — e os rumores dão conta de que talvez o filme permaneça em hiato até o ano que vem, embora uma parcela dos executivos da casa da raposa discordem da decisão e prefiram que as filmagens londrinas sejam concluídas nas próximas duas semanas. De qualquer maneira, a data de lançamento original, 25 de Dezembro de 2018, continua mantida.
Importante destacar que o filme, que já roda nos bastidores de Hollywood tem um bom tempo, há cerca de uma década pelo menos, é daquele tipo que carrega um histórico complicado.
Nomes variados como David Fincher (Clube da Luta), Dexter Fletcher (Voando Alto) e Stephen Frears (Alta Fidelidade) já estiveram ligados à direção em algum momento, antes da confirmação de Sinfer, e atores do naipe de Ben Whishaw (o novo Q dos filmes de 007) e Sacha Baron Cohen (Borat HIMSELF) estiveram entre os confirmados para interpretar Freddie Mercury.
Aliás, no caso de Cohen, a coisa gerou até uma certa polêmica, porque o cara saiu do filme depois de três anos ligado a ele meio PISTOLAÇO, até, por mais que tenha dado mil e uma entrevistas empolgadíssimo em viver um de seus ídolos nas telonas. Diz-se que as tais “diferenças criativas” teriam sido, na verdade, porque o ator queria muito contar um lado mais sombrio da história de Freddie Mercury, abordando sem rodeios o seu envolvimento com drogas e tudo mais, enquanto Brian May e Roger Taylor, respectivamente guitarrista e baterista do Queen, além de produtores do filme, queriam uma parada que a família toda pudesse ver e, obviamente, com Freddie como parte do Queen e não com a história 100% focada nele.
Além de Malek, a trama que falará sobre a formação do Queen em Londres na década de 70 e deve se estender até à apoteótica performance no Live Aid em 1985, seis anos da morte do cantor (mas que, claro, vai tratar de alguma maneira de sua morte em 1991), também traz no elenco Ben Hardy (o Anjo do recente filme dos X-Men) como Taylor; Gwilym Lee (Midsomer Murders) como May; e Joseph Mazzello (The Pacific) como o recluso baixista John Deacon, completando a formação.