Eu odeio que esse seja um dos tantos lutos com os quais temos que lidar nessa quarentena eterna, mas a tristeza é suplantada pelo fato de foi cumprida com sucesso uma missão na internet brasileira
Eu devo ter assinado no máximo uns 15, 20 textos no JUDAO.com.br — o que se você pensar, pelo volume de coisas que eram publicadas todos os dias em todos os anos de existência do site, é uma quantidade bem pequena. Apesar disso, alguns deles ficaram no meu portfólio para sempre – nem tanto por serem parágrafos dos quais me orgulho muito enquanto redatora, mas sim por eles estarem aqui, nesse site. O site que mudou minha vida, por mais melodramático que isso possa soar (e eu sei que soa, viu, gente).
Eu faço parte de uma geração enorme que cresceu com o JUDAO.com.br. Quando comecei a acessar o site, lá pra 2003, eu tinha DOZE anos. Quando comecei a mandar emails, aparecer no Judrão RETRUCA! (oiMó!) e querer ser Miss JUDAO.com.br, eu tinha 15 (abaixo da idade mínima, uma mágoa jamais superada).
Fiquei emocionada e fui ao cinema assistir Apenas o Fim porque o Matheus Souza colocou o JUDAO.com.br no roteiro, acompanhei ao vivo enquanto todo mundo desvendava as pistas do filme do Batman e tive os Poooooooodcasts baixados no meu iPod por anos e anos depois do fim deles (oiPu!). Quis fugir de casa para ir a um Rangão, e lia ansiosa os relatos do Morph na cidade grande onde eu sempre quis estar.
Quando escrevi um longo email para o Borbs falando de como eu me sentia acolhida pelo site e sentia falta do senso de comunidade que ele tinha, eu tinha 17. E por conta desse email – e de centenas de outros que se seguiram – eu e o Borbs, meu ídolo-internético, viramos amigos, e eu pude ver o site de outro jeito. Pelos bastidores, como uma mini-jornalistinha curiosa. Sabe aquela história de não-conheça-seus-ídolos? Por aqui foi ao contrário. Ver tudo de perto, e enxergar que as pessoas que faziam tudo isso eram humanas, fez com que eu percebesse que eu podia fazer algo, também.
Com 22 entrei ~oficialmente para a equipe do site, em uma das mudanças das quais o Oda comentou aqui. Fiz mais uma pá de amigos (alô, queridos Bucetônicos e ex-Bucetônicos), cobri eventos, escrevi longamente sobre séries, premiações, clipes da Britney e a bunda da Lady Gaga (que me fez ser suspensa do Facebook por uns dias). Realizei o sonho de escrever sobre o que me divertia, de estar dentro do site que cresci amando, e de estar ali cercada de pessoas que também entendiam e se emocionavam com o potencial que a cultura pop tem de mudar as nossas vidas. De criar conexões inesperadas, de nos mostrar realidades diferentes e de fazer os nossos próprios potenciais acordarem.
Meu primeiro emprego quando me mudei para SP veio de uma entrevista que consegui por um dos editores do site (e eterno amigo), o Thiago Cardim. Um dos primeiros flertes com meu hoje companheiro veio porque um dia o Borbs retuitou um texto que escrevi aqui sobre How I Met Your Mother, e um rapaz interessante que o seguia veio conversar comigo sobre isso. Ter sido uma partezinha do JUDAO.com.br é um orgulho imenso no meu currículo, e muito além disso, proporcionou que eu hoje seja a pessoa que eu sou – morando onde moro, fazendo o que eu faço da vida, conversando com quem converso diariamente. É impossível dissociar o site das amizades e oportunidades que consegui por ter passado por aqui, e do quanto a minha vida inteira mudou por isso.
(Isso sem pensar, claro, nas risadas, bares, karaokês, chamadas de horas via Skype, esfihas pós-Asterisco, almoços no 12, etc etc etc)
Obrigada por mudar a minha vida e a de tantos mais, JUDAO.com.br. Eu odeio que esse seja um dos tantos lutos com os quais temos que lidar nessa quarentena eterna, mas a tristeza é suplantada pelo fato de foi cumprida com sucesso uma missão na internet brasileira – fazer com que uma geração inteira aprendesse a ir além da superfície na cultura pop. Criar conexões, mostrar realidades e fazer potenciais serem acordados. <3
E pelo menos ninguém mais vai ter que lidar com os fãs malucos de The Vampire Diaries, né? ;D