You did good, kid! | JUDAO.com.br
7 de agosto de 2020
Editorial

You did good, kid!

Nem tudo foi alegria. Mas quando foi bom, foi bom pra caralho.

Se você tá lendo isso aqui, conseguiu ser rápido o suficiente pra fazer isso antes de tudo ir pelos ares, já deve saber que o JUDAO.com.br tá acabando. As luzes estão se apagando e é hora de fazer a saudação final. Muita gente que acompanha o site só há alguns anos provavelmente não lembra de mim, então é mais fácil me apresentar antes de eu poder BEBER O MORTO.

Oi, eu já fui o “estagiário”, eu já foi o “garoto de sotaque” e até, de acordo com Marlon Wayans em uma entrevista completamente insana, o belo de Curitiba. Eu era só um leitor do JUDAO.com.br, como todo mundo aqui, que acabou entrando no site em 2007 e ficou nele até o finalzinho de 2013. Eu sou o Oda, apelido que graças ao JUDAO.com.br, provavelmente vai me acompanhar até o fim dos tempos.

Eu cheguei aqui quando o site tava começando a ser mais “profissional”, se é que as coisas que a gente publicava poderiam ser todas chamadas assim. O caos reinava e a gente ainda era um bando de moleques escrevendo loucuras sobre filmes, quadrinhos e essa baguncinha gostosa que é o nosso mundo. E por um bom tempo, era essa a grande graça da coisa.

Enquanto boa parte da internet queria tratar tudo de um jeito mais sério, a gente queria contar as coisas legais pros nossos amigos. E apesar de ter muito leitor chato pra cacete naquela época, também tinha muita gente legal. Ali, era amigo contando pro outro sobre, sei lá, o trailer do filme do Homem de Ferro ou criar discussões sobre como Scott Pilgrim deveria ganhar o Oscar (algo que no meu coração, sempre merecerá).

A gente fez vídeos quando o YouTube ainda nem deixava geral subir conteúdo longo (e aí rolou algo no finado BLIP.TV. Que cagada). A gente passou em portal de conteúdo que deixou o site fora do ar por semanas, a gente foi pra outro que acabou colocando a minha cara e a do Borbs na tela de TV. A gente gravou podcast completamente sem noção, em que boa parte dele era a gente rindo das próprias piadas internas e, de alguma forma, vocês acabaram fazendo parte delas.

O Borbs correu pela Paulista enquanto eu mandava SMS com pistas pro viral do filme do Batman. O Borbs, o Morph e eu tínhamos threads imensas que começavam com alguma ideia de pauta e se transformavam em conversas que não faziam sentido algum. Volta e meia, eu me via falando de gibi e perguntando coisas pro Renan.

Eu encarei coberturas da Comic-Con que mesmo sendo feitas inteiramente daqui, não perdiam em nada até pros gringos que estavam lá. Eu quase toquei uma Comic-Con sozinho porque o Borbs não conseguia conexão quando tava em San Diego. Eu FUI pra San Diego cobrir uma Comic-Con (minha primeira viagem internacional).

Eu quero acreditar que o JUDAO.com.br chegou até onde chegou porque eu estava ali. Às vezes carregando um piano pesado demais pra mim, mas carreguei. Só que pessoas mudam. Expectativas mudam. E no momento em que eu vi que talvez aquilo que eu via como mais precioso que o JUDAO.com.br me proporcionou poderia ir pro saco, eu saí. O site mudou e até não tem 98% dos textos que eu fiz aqui. Isso é ótimo, porque eu escrevi muita merda, mas alguns ainda são bem importantes pra mim (never forget aquele da Summer). De certa forma, o JUDAO.com.br que eu vivi já acabou em 2013/2014. O novo JUDAO.com.br foi por outro caminho, com algumas ideias que a gente já cogitava lá atrás, mas que só entraram ali. E eu vi de fora.

Confesso que acessava bem menos. não pelas mudanças, mas porque ainda me parecia estranho eu não escrever mais no JUDAO.com.br. Durante 6 anos da minha vida, era isso o que que eu queria pra mim, até o momento que não era mais, mas ainda ficou aquela sensação de “isso não tá certo”.

Apesar de ter continuado a escrever sobre os mesmos assuntos fora dali, eu ainda tinha uma coisa de que “um dia eu volto”. Era estranho, cheguei a comentar com o Borbs, mas acho que os dois sabiam que não iria pra frente. Talvez, não fosse pra ser mesmo, apesar de um texto sobre lutinhas durante um Wrestlemania ali, uma ideia que surgiu numa conversa acolá.

E agora, o JUDAO.com.br tá acabando. Se você leu até aqui, provavelmente já sentiu o tom de desabafo e despedida, mas é isso mesmo. Eu não tenho uma piada ou um conteúdo explosivo sobre cultura pop. Mesmo tendo saído há 7 anos, eu ainda tinha uma coisa de “Tá ali o JUDAO.com.br. Eu fazia parte daquilo”. E agora, isso não vai mais existir e isso me afeta por um motivo bem mais pessoal e acho que é a primeira vez que falo isso pra todo mundo e acho apropriado no fim de tudo.

Eu sempre fui muito tímido, como boa parte dos nerds que cresceram na época que ser nerd era só se foder na vida. Durante um período bem complicado, eu quase desisti. Até que um gibi fez com que eu continuasse. Só que eu me fechei nesse mundinho por anos por conta disso. Até 2007. Em 2007, em um momento em que eu vi um grupo de tonto falando merda num site, rindo e se zoando numa comunidade de Orkut, eu vi uma oportunidade de pertencer a algo. Aproveitei um post de “Quem quer escrever no JUDAO.com.br?” e tentei a sorte.

Sem a chance que o Borbs me deu e o JUDAO.com.br como plataforma, eu não sei o que estaria fazendo hoje. Hoje eu tenho uma carreira construindo conteúdo, eu trabalho pra uma empresa, eu posso falar que tenho experiência. Tudo porque um gordo fanfarrão resolveu olhar o e-mail de um bobo querendo escrever no site.

E mesmo com todas as alegrias, as brigas, os $240k em muambas do GTA Online que eu faço ele perder (foi um acidente), sempre vou ter essa gratidão com o Borbs e com o JUDAO.com.br. Suspeito que depois dele, eu talvez tenha sido o que mais teve a vida afetada por esse site. Eu criei uma carreira pra mim. Eu conheci os meus melhores amigos. Eu entrei no caminho pra me tornar a pessoa que eu sou hoje.

Nem tudo foi alegria, afinal de contas, eu saí lá em 2013, mas quando foi bom, foi bom pra caralho.

As pessoas continuam pra vida. Disso eu não tenho dúvida. Os textos, se perdem, mas outros melhores virão em algum lugar. Com o fim daquele endereço na barra do navegador, sem aquele ícone de asterisco ali, ao apagar das luzes, eu acho que o sentimento que fica é esse do Tio Ben.