Capitão América: Guerra Civil não é só o melhor da Marvel, é um puta filme bom | JUDAO.com.br

A prova de que a ideia de um universo coeso funciona e de que um filme quando bom é bom.

Capitão América: Guerra Civil é um puta filme. Sobre política internacional, direitos civis, amor, amizade e, por acaso, tem uns malucos vestidos de maneira ENGRAÇADINHA. Não é só um bom filme do famigerado “gênero” dos super-heróis ou o melhor da Marvel... Capitão América: Guerra Civil é um dos melhores filmes que você vai assistir na sua vida.

Se tropeços como Thor e Vingadores: Era de Ultron mostram que ideias não são à prova de balas, Capitão América: Guerra Civil é o MIC DROP da Marvel em relação ao tal do universo coeso. Nem sempre é necessário, entendo quem não goste da ideia de uma história sendo contada através de vários filmes e anos, mas a indústria do cinema agora tem a PROVA CABAL de que isso tudo funciona, se bem feito. Quão bem feito?

Esqueça os quadrinhos. Guerra Civil surge num ponto em que a Marvel já se dá ao direito de fazer referências às outras DOZE produções, ao invés das HQs — que, no caso de Guerra Civil, só mesmo empresta o nome, os personagens principais e uma das cenas mais bonitas do filme. Aqui surge seu primeiro trunfo: Guerra Civil funciona sozinho. Mesmo sem as referências, mesmo sem todo o fan service, é um filme. Um bom filme. Que por acaso funciona também como um HUB, tipo um aeroporto de todo o MCU, com as mais diversas viagens começando, terminando ou se conectando uma a outra.

Não que isso seja algum tipo de surpresa, mas Capitão América: Guerra Civil não é sobre o registro de super-heróis — o que seria um enorme contrassenso, uma vez que pelo menos até o fim do segundo ato, absolutamente todos os heróis do Universo Cinematográfico da Marvel são identificados, incluindo os de Agents of SHIELD. O que o Governo quer aqui é controlar os Vingadores, baseado nos Acordos de Sokovia, em que mais de 100 países exigem que os Maiores Heróis da Terra ajam apenas quando acharem que devem, onde acharem que devem.

Capitão América: Guerra Civil

O playboy armamentista que achou que podia resolver o mundo com as próprias mãos, armaduras e dinheiro, “privatizando a paz mundial”, percebeu que as coisas quase sempre saem do controle e ter toda a responsabilidade nos ombros é um peso grande demais. Tony Stark ainda é um ser humano, ressentido pela morte do pai, de saco cheio de carregar esse peso nas costas... Mas às vezes, alguém precisa fazer o que é certo.

Steve Rogers acredita na liberdade individual acima de tudo. Pra ele, governos agem de acordo com os interesses de quem governa e se deixar ser controlado assim vai contra tudo o que sempre defendeu e acreditou. E aí tem o Bucky, cometendo grandes ATROCIDADES enquanto tinha sua mente controlada. É justo que ele seja responsabilizado por tudo o que fez, uma vez que não sabia o que estava fazendo?

O Pantera Negra acredita que sim. Porque T’Challa não tem nada a ver com o que aconteceu antes, a única coisa que importa é que o que todos acreditam que o Bucky fez interfere diretamente na sua vida. Não há nenhum tipo de amizade ou emoção envolvida.... Pelo menos no começo.

A viagem de T’Challa é uma das que começam em Guerra Civil. Claro que no seu filme solo provavelmente conheceremos um pouco mais dele, mas, de maneira simples, mas MUITO bem feita — não só conectando ele ao arco principal do filme, mas como ao que acontece entre Capitão e Homem de Ferro — conhecemos a pessoa por baixo da roupa do Pantera Negra, a mitologia do herói (com direito à uma das Dora Milaje, provavelmente a única referência direta às HQs, como não poderia deixar de ser nesse caso), vemos seu amadurecimento de um guerreiro de um país africano “isolado” a um cara disposto e pronto a salvar o mundo, em meio a todos os seus problemas, que cresce como pessoa e como personagem.

Outro trunfo do filme: é impressionante o trabalho de direção e do roteiro que, no meio de tantos outros personagens, cada um com seu arco, maior ou menor, mais ou menos importante, consegue apresentar e construir um outro tão importante e cheio de camadas como o Pantera Negra. Nesse filme, tudo acontece por uma razão que, de uma maneira ou de outra, foi referenciada em algum outro momento. Nada é por acaso. Às vezes você nem precisa saber o que é, mas sabe que aquilo aconteceu por conta de outra coisa que você viu ou ouviu falar.

Capitão América: Guerra Civil

Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate, embora ainda tenha um papel pequeno em termos de “tempo de tela” no filme, é uma das personagens mais importantes desse momento da história — o que o relacionamento com o Visão só ajuda a ressaltar e a explicar: se até ele não consegue mais agir binária e logicamente na hora em que precisa, dá pra entender que todos os princípios do Capitão América estejam misturados, borrados e difíceis de serem seguidos e enxergados.

Mais um trunfo de Guerra Civil: os dois lados dessa história estão certos. É impossível assistir ao filme e escolher um lado, mesmo quando ele te apresenta todas as razões e argumentos pra que você se posicione de alguma maneira, não dá pra não ser a favor de ambos — ou, mais importante aqui, a favor da união dos dois. Num mundo em que tanta gente se divide por conta de quem tá cagando por você, é um alívio enorme ver que, pelo menos na ficção, as coisas podem ser de alguma outra maneira. Há esperança, no fim das contas.

“Tudo acaba em luta” diz Bucky Barnes, resignado, em determinado momento do filme. Em Guerra Civil são duas: a primeira, a maior, mais espetaculosa e que você pensa que viu no trailer é uma das grandes cenas de ação da história do cinema... mas só acontece como “último recurso”, dentro daquela história, e em nenhum momento porque #TeamCap odeia o #TeamIronMan e vice versa. Pelo contrário: os personagens se cumprimentam, conversam e até pedem desculpas. A tal da Guerra Civil não é o objetivo, o fim que justifica o meio. É quase uma metáfora pra uma discussão ideológica, em que a vitória não é importante, simplesmente cada lado quer uma coisa diferente.

Homem-Aranha? Sim, é a melhor encarnação do personagem nos cinemas, de longe. É o adolescente que manja dos paranauês da ciência, mora sozinho com a Tia no Queens, em Nova York, e que foi picado por uma aranha. Você já sabe disso há 70 anos e o fato de terem deixado nas mãos de pessoas que CONHECEM o personagem foi o melhor que podia ter sido feito, definitivamente.

Agora... Na sessão em que eu assisti ao filme, pessoas vibraram quando perceberam que era chegada a hora, ao entrarmos no seu apartamento; quando ele aparece na luta, exatamente como acontece no trailer, porém, não. Ainda considero um erro, uma experiência que me foi tirada por conta do marketing... Mas passei a entender, pelo menos: esse não é, nem de longe, o GRANDE momento do filme, aquele que “CARALHO É POR ISSO QUE EU GOSTO DESSAS COISAS”. O momento que coloca diversão em uma das camadas do filme que mais tem raízes no mundo real. E que, olha só, nem por isso deixa de ser sério em nenhum segundo.

Capitão América: Guerra Civil

“Capitão América” no título, antes de “Guerra Civil”, faz sentido e importa. É um filme sobre ele, sobre como ele lida com o novo mundo em que vive e conhece há tão pouco tempo. Mesmo que exista toda a questão de Capitão América, Tony Stark, hashtag no twitter, Robert Downey Jr. prova porque é esse ator foda pra caralho: interpreta um coadjuvante como se fosse um protagonista, sem roubar um segundo da luz de quem realmente importa. E é assim que chegamos à segunda luta: emocionante, guiada apenas e tão somente por emoção, em que o Homem de Ferro enfrenta o grande personagem dessa história, em todos os sentidos. Ao contrário daquela primeira, essa acontece num lugar pequeno, escala menor, poucos personagens e é triste. Porque sabemos que ela não precisaria acontecer. Sabemos, até, que por um lado ela não faz sentido. Por outro, fica complicadíssimo não reagir com violência.

Uma luta que, veja só, ajuda a construir também o Pantera Negra, que em momento nenhum se envolve, mas que se torna o personagem que veremos daqui pra frente por conta dela. Nada nesse filme acontece por acaso. Nada.

Existe uma enorme chance que, depois de você assistir ao filme, saindo do cinema (existe uma cena no meio dos créditos e, até a publicação dessa resenha, não sabíamos se era a única), não seja necessário recolher seus miolos que grudaram no teto. Pra falar a verdade, é bem provável que você não tenha muito o que dizer, com palavras, sobre ele. Homem-Aranha, Pantera Negra, sim, claro.

Mas num mundo em que tantos filmes sensacionais são esquecidos em uma ou duas semanas, Capitão América: Guerra Civil só cresce depois de visto... Como todos os grandes filmes da história.