O papel é mágico. Ele aceita tudo, desde supersoldados que vestiram a bandeira como uma segunda pele à seres intergalácticos que devoram mundos inteiros. O leitor é parceiro, preenchendo as lacunas e dando movimento à ação com sua imaginação, o que faz o mais surreal dos acontecimento se tornar algo real e verossímil.

Cinema não é tão fácil assim. A página não está em branco, por mais que, hoje, consiga se construir qualquer coisa com o CGI. O espectador médio quer, de alguma forma, ser convencido de que aquilo é real, mesmo quando a situação é a mais nonsense. Por isso que, lá em 2008, a Marvel Studios começou por um ricaço que veste armadura e um homem que, por um acidente, se torna um gigante verde. No nosso bizarro senso de realidade, aquilo era tangível. Depois, o estúdio foi ampliando as bordas, mas, ainda assim, até lugares mitológicos e deuses continuavam com o pé na tecnologia, mesmo que fosse uma tecnologia tão avançada que, pra nós leigos, se tornava magia.

Só que tudo isso acabou oficialmente na madrugada de hoje, 13 de Abril de 2016. Chegou o primeiro teaser de Doutor Estranho e, junto, um pedido: abra sua mente e mude sua realidade.

Como todo bom teaser, esse aí não revela dados maiores sobre a grande treta do filme, ou o grande vilão. Não, ele parte de antes, do primeiro conflito do filme e do Dr. Stephen Strange. Um conflito que será partilhado por praticamente todo mundo que for conhecendo mais sobre o filme: a magia... ela existe? Ela salva vidas?

Stephen é um médico renomado, um grande cirurgião, que sofre um acidente de carro. De um dia para o outro, perde a precisão dos movimentos das mãos e, com isso, vai embora tudo aquilo que faz dele grande, especial. Isso é o fim da vida pra muitos, e pra ele não é diferente.

Só que sendo um homem de ciência, racional ao extremo, Stephen esquece que existe muito mais no mundo do que podemos ver. Ele é também um homem que acredita que a ciência pode fazer um cara voar por aí com uma armadura, mas não vê razão em “fábulas sobre chacras, energia ou sobre o poder da crença”. Só que depois, sem nada a perder, ele vai atrás de tudo isso na Índia e no Himalaia.

É aí que começa o treinamento de Strange pelas mãos do Ancião – ou, no caso, da Anciã, interpretada por Tilda Swinton. Ela vê o potencial do doutor e vai iniciá-lo nas artes ocultas, mostrando pra todos nós, espectadores, que a tal da magia existe.

A magia pode salvar tantas vidas quanto a ciência (ou até mais) e ainda abre portas para outras realidades, dimensões — algo já abordado pelo trailer, provavelmente abrindo espaço para a dimensão sombria de onde vem o vilão Dormammu e também local onde o Barão Mordo, vilão deste primeiro filme do Estranho, foi uma vez exilado nas HQs.

Isso tudo é tão marcante que até mesmo o homem que antes achava que sabia tudo, fica desesperado e pede pra ser ensinado.

Além de buscar abrir o nosso olhar para uma nova vertente do Universo Marvel dos Cinemas, o trailer também faz jus às origens do Doutor Estranho. Criado por Steve Ditko (com Stan Lee originalmente como corroteirista), Estranho é uma homenagem aos personagens que faziam sucesso até os anos 1930/40, com poderes mágicos e origem sobrenatural. Na Casa das Ideias, esses conceitos foram usados para fazer uma leve crítica às HQs dos anos 50 e 60, que tinham quase sempre os “preceitos científicos” como base. Não é só isso: também mergulhava em ideias que estavam fazendo já a cabeça de muita gente nos EUA da época, como o movimento Hare Krishna e a teosofia.

Doutor Estranho nunca foi um simples super-herói, por mais que alguns roteiristas teimem em colocá-lo nessa situação. Trata-se de um personagem num outro nível, um que foi encontrar a si mesmo e acabou por descobrir que há diversas formas de se ajudar o próximo. Pode ser como um bombeiro, um médico, um deus nórdico, um mestre da magia negra.

E você, qual é a sua função para o mundo? Essa é a grande jornada da autodescoberta. A de Stephen Strange começou hoje.

Doutor Estranho estreia no Brasil em 03 de Novembro. :)