Batman #38 trouxe uma grande mudança para o vilão – que faz dele algo maior que o Batman
SPOILER! O Batman é, mais do que nunca, o carro-chefe dos gibis da DC. Muito por conta do grande trabalho do roteirista Scott Snyder e do artista Greg Capullo na principal revista mensal do herói – que já deixou um filho, a série semanal Batman Eternal. De certa forma, dá pra sentir a paixão do Snyder em cada entrevista, em cada palavra, em cada página. Ele ama o Cavaleiro das Trevas.
E, após Batman #38, recém-publicada nos EUA, dá pra dizer: ele também ama o Coringa.
Snyder e Capullo já haviam dado uma boa atenção ao vilão no arco Morte da Família, aquele no qual o Coringa transforma o próprio rosto arrancado em uma máscara e passa a atacar os personagens de apoio do Morcegoman, tudo pra provar (basicamente) que eles o deixam fraco, já que o principal objetivo dele como vilão é deixar o herói mais forte e torná-lo um adversário digno. Depois, no grande (em tamanho e de qualidade, diga-se) arco Ano Zero, os dois estabelecem a Gangue do Capuz Vermelho – cujo líder, o Capuz Vermelho Um, cai num tonel de produtos químicos. Era a origem do Coringa recontada. Aparentemente.
E aí chegamos em Endgame, atual arco do Cavaleiro das Trevas nos EUA e que comemora justamente os 75 anos do Coringa – e, na rabeira, do próprio Batman, celebrado oficialmente no ano passado. Na história, o vilão criou uma “toxina” mais poderosa, que depois é revelada como um verdadeiro vírus, que faz com que as pessoas se tornem doidos varridos do mesmo tipo que o próprio Coringa. Primeiro, ele infecta a Liga da Justiça, que ataca o próprio Cavaleiro das Trevas. Depois, a cidade inteira de Gotham se torna vítima do vírus, que é transmitido pela risada.
Sim, lembra o gás do riso, mas a morte não é em instantes. É algo como uma loucura contagiosa, que pode matar sim, mas com um prazo maior pra isso acontecer.
A grande diferença, ao menos em relação aos conflitos anteriores, é que o Coringa acredita que o Batman se tornou “chato”, que é hora de acabar com a brincadeira de uma vez. Pior: o vilão revela que sabe que Bruce Wayne é o Cruzado Encapuzado, inclusive usando Joe Chill para recriar a noite que Thomas e Martha Wayne foram mortos.
Mais doente, impossível.
É aí que chegamos na edição atual. Gotham está um caos, as pessoas se matando... O Batman não tem um plano, não tem pra onde correr. Parece que o Coringa finalmente venceu.
Com a ajuda de Dick Grayson, Bruce investiga o vírus, descobrindo que a ~doença é a variação de algum soro que faz com que o próprio Coringa se cure de danos fatais – explicando, implicitamente, como ele voltou a ter um rosto ~normal após os eventos de Morte da Família. Além disso, de alguma forma tem ligação com o mesmo soro usado no Poço de Lázaro, aquele do Ra’s Al Ghul. Por dedução, o herói também percebe que o cientista biruta Paul Dekker (que também atende pelo nome de REMENDO MALUCO e dedicou a vida a encontrar algo que possa fazer células humanas a renascerem e se tornarem qualquer coisa) deve estar envolvido nessa história toda, já que teve contato recente com o Coringa. Até aí, tudo bem.
Tudo muda quando o Batman confronta Dekker, que revela NÃO ter desenvolvido nada. Pelo contrário: o soro é algo antiquíssimo, natural do nosso planeta, mas que não É FÁCIL DE SER encontrado na natureza e não pode ser sintetizado – por isso, foi extraído diretamente da ESPINHA do Coringa para, a partir daí, ele criar o vírus. De acordo com o cara, o nome do tal soro é Dionesium, uma referência a Dionísio (ou Baco, pro romanos), o deus das festas, do vinho e associado ao renascimento na mitologia grega – e também o deus da tragédia e da loucura. “Bem-vindo Batman, ao último bacanal”, diz Dekker. Ui.
Não acabou. Dekker, talvez pela loucura, dá duas possíveis justificativas para o soro estar no corpo do Coringa. “O engraçado é que o mecanismo nas histórias antigas funciona quase sempre da mesma maneira, o corpo encontra algo no mundo natural, alguma substância especial no solo, vegetação ou água, e é... transformado”. Na origem clássica do Coringa em A Piada Mortal, que foi recontada em Ano Zero, o Capuz Vermelho cai num tonel químico para se transformar no Coringa. Será que lá tinha, de algum forma, o último exemplar do soro? Ou uma versão de alguma forma artificial? Só que o próprio gibi diz que isso é impossível...
Há outra explicação. Em certo momento, Dekker se refere aos “Transportadores. E Gotham. Pessoas que encontraram esta química anos atrás e ainda andam entre nós. Aqui em Gotham eu ouvi histórias de alguns. Há um selvagem que é praticamente o homem mais velho vivo. Ele encontrou isso na forma mais crua. E o outro é um homem como um demônio que mantém piscinas com o químico ao redor do mundo. Uma versão corrompida, mas efetiva da sua forma. E ele. A ligação com o passado de Gotham. O homem pálido. O homem que ri da gente. Que o encontrou algum tempo antes de Gotham ascender”.
As três referências são bem claras. O primeiro é Vandal Savage, um imortal que surgiu ainda na época das cavernas. O outro é Ra’s Al Ghul, que usa o Poço de Lázaro para restabelecer a saúde quando está quase morrendo, além de estar entre nós há séculos. O terceiro é o Coringa. Que existe antes de Gotham, algo que inclusive é provado por uma rápida pesquisa feita na Batcaverna. WTF!?
Será que isso é verdade? Ou tudo não passa de uma loucura de Dekker? As fotos do passado que acabam encontradas são reais? Por que nunca foram vistas antes? Ou foi tudo plantado pelo vilão? Muitas perguntas – fazendo com que Bruce Wayne fosse até a Corte das Corujas, organização tão antiga quanto a cidade, pra descobrir se o Coringa é realmente imortal.
Não deixa de lembrar, de alguma forma, o Coringa do filme Batman – O Cavaleiro das Trevas, aquele que conta diversas origens, nos deixando na dúvida se uma delas é real.
É provável que não tenhamos respostas definitivas nos gibis, da mesma forma que não tivemos no cinema. “O que eu quero é que você acredite no lado que preferir, porque ele [o Coringa] está fazendo um argumento ao Batman e o Batman absolutamente não irá aceitar. Não é para ser algo que você vê e diz ‘oh, é claro que é verdade’”, disse Snyder em entrevista ao IGN. “Você supostamente deve estar com o Batman, algo como ‘isso não pode ser verdade. É verdade? Eu espero que não seja verdade’, e esse tipo de coisa”.
Basicamente, o texto foi feito pra realmente parecer absurdo – veja, foi escrito para sair da boca de pessoas malucas. E por mais que o Batman pesquise, ele não vai encontrar respostas definitivas. Ele não estava lá no passado pra ver acontecendo.
Resta saber também como as revelações de Endgame casam com a história contada em Ano Zero. Será que o Capuz Vermelho Um nunca foi o Coringa? Ou era e aquele acontecimento, de alguma forma, o mudou? Que o encontro com o Batman apenas deu sentido à vida do maluco? O certo, até agora, é que o vilão já aparece com o característico sorriso em fotos antigas – e o vilão visto em Ano Zero tinha a boca à mostra SEM o sorriso, ao menos em sua forma mais característica.
“Ele é o Capuz Vermelho [de Ano Zero] – se você acredita que ele é o Capuz Vermelho, você sempre tem dúvidas; se você não acredita que ele é aquele cara, tudo bem; ele poderia ter apenas aparecido pela cidade ou ser qualquer um”, disse um enigmático Snyder em entrevista ao Newsarama.
Nem dá pra dizer que isso tudo é um retcon, mas sim parte do plano – até porque o arco de origem já deixa até uma saída clara. Snyder também diz que a história que está contando sobre o Coringa sempre foi planejada. “Pra mim, essa é a segunda parte de uma história do Coringa em duas partes que eu tenho comentado há um longo tempo”, disse o roteirista, fazendo referência a Morte da Família.
Endgame ainda tem mais duas edições e novos detalhes podem ser revelados, principalmente nesse encontro com a Corte das Corujas. Porém, a mudança parece ser bastante positiva, muito pelo fato de estar sendo bem contada. Também é uma inversão interessante, já que o Batman sempre foi visto como “o” eterno, inclusive estrelando a série semanal com esse nome. No final das contas, descobrimos que não é ele, mas sim o mal, a loucura e o bacanal que são eternos. “Por muito tempo eu acreditei que você era [um dos transportadores]. Mais velho que Gotham. Um Barbatos [o Duque dos Infernos na demologia]. É por isso que fiz coisas horríveis. [...] Mas então eu o conheci, e eu percebi... Você é apenas de carne e osso!”, diz um ensandecido Dekker ao Homem-Morcego.
Talvez essa coisa de imortalidade seja a grande mudança ao final do arco, já que o próprio Snyder está avisando que o Batman irá ter um novo status quo após estas edições e a pausa forçada por conta da saga Convergence, quase que começando novamente. “Ele é uma pessoa, o Coringa está dizendo isso. Ele está falando ‘eu sei quem você é, você é nada. Você foi reduzido a ser apenas o Bruce Wayne. Eu sou algo maior que você – e sempre fui’”, disse o Snyder.
Batman eterno, imortal DE VERDADE? Ou, de alguma forma, tentando suprir isso? Não sei, mas o Snyder promete algo bem maluco pro próximo arco. “Endgame é realmente um adeus e um olá. É realmente dizer adeus pra um monte de coisas – na real, pra qualquer coisa que nós fizemos com o Batman e tudo isso. E então vai chegar a edição de junho e será algo como ‘OPA, o que é isso?’”.
Pois é, tudo isso é apenas o começo. ;)