DC Entertainment e a Warner têm, constantemente, tesourado personagens do Arrowverse – e a mais recente vítima é ninguém menos que o Exterminador
A relação entre cinema e televisão na DC Entertainment é, no mínimo, curiosa. O chamado Arrowverse, que é nada mais nada menos que o Universo DC da tela pequena, tem uma qualidade, de longe, superior ao que é feito nos DC Filmes, mesmo que com uma verba muito menor. Ainda assim, de forma até que óbvia, não compartilha da mesma exposição e alcance dos heróis na tela grande. É só ver toda a importância construída para o vilão Pistoleiro em quatro temporadas de Arrow para ser eclipsado em cerca de duas horas do Will Smith em Esquadrão Suicida.
Até por isso, os DC Filmes são a MENINA DOS OLHOS lá do pessoal de Burbank, se transformando na grande aposta para a WB retomar a dianteira da grana (que é o que importa) em Hollywood. Exatamente com esse objetivo, Yakko, Wakko e Dot cortam, sem piedade, personagens que são (ou seriam) importantes para as séries de TV, criando uma divisão extrema que é completamente inútil. A última vítima é o Exterminador, o grande vilão da segunda temporada de Arrow – e que tem tudo pra aparecer no novo filme doBatman.
Stephen Amell, o Arqueiro Verde, até tentou botar panos quentes em toda essa polêmica no último fim de semana, durante a Salt Lake Comic Con:
Isso é algo que o pessoal comenta regularmente... Que a DC nos falou que temos que nos livrar [de um personagem]. Não é assim que funciona. Diane Nelson e Geoff Johns – o pessoal na Warner Bros. dos filmes, e o pessoal da Warner Bros. das séries – estão totalmente empenhados para fazerem os melhores produtos para os fãs. Não é porque podemos ou não podemos ter o Exterminador no Universo Estendido DC que quer dizer que o Manu Bennett não pode existir em nossa série
Só que Amell se esqueceu de combinar o discurso com todos os envolvidos – ou, no pior dos casos, foi escolhido pela WB para ser o portador dos panos quentes. Marc Guggenheim, cocriador e produtor executivo de Arrow, já havia comentado que Slade ficaria de fora da quarta temporada da série por “atualmente estar ligado a outro projeto da DC”. Ou seja, não importando muito qual é o discurso nos bastidores, na PRÁTICA as coisas são bem diferentes.
E esse não é o único caso, não. O Esquadrão Suicida tinha uma importância dentro do contexto de Arrow, mas a equipe não dá as caras por lá também desde a segunda temporada. Amanda Waller, a chefe da ARGUS, foi devidamente morta antes da estreia do filme da Força-Tarefa X, o mesmo acontecendo com o Pistoleiro.
Os planos dos produtores ainda incluiam a presença da Arlequina no Esquadrão, e até rolou um pequeno teaser da presença dela. Depois, gravaram uma segunda cena, revelando mais da vilã, mas foram obrigados a “mudar de ideia” e cortar o trecho. “Algo veio da DC, ou alguém mais poderoso, dizendo ‘não, vocês devem parar e desistir disso porque nós vamos fazer um filme e não podemos ter ninguém estragando a ideia’”, disse Willa Holland, a Speedy, no ano passado durante um evento em Londres. “Se pudéssemos ter a Arlequina em nossa série, isso seria incrível. Mas nunca vai acontecer”.
Ao que parece, o único que tem um SALVO-CONDUTO é o Flash. Tivemos a sorte da proposta de série do Corredor Escarlate ter surgido antes da ideia de colocá-lo nos DC Filmes e cancelar totalmente um produto de sucesso por causa disso seria uma grande burrice. Porém, picotá-lo também é.
Talvez pra mostrar que as coisas também podem ser de mão dupla, a Warner não tem planos de usar o Arqueiro Verde nos cinemas. Quem diz isso é o próprio Stephen Amell, também durante a SLCC, que ainda revelou que tá tudo bem pra ele caso escalem outro ator no lugar. “Eu não tenho os direitos do Oliver Queen. Alguém o interpretou antes de mim. Alguém o dublou antes de mim. E alguém vai interpretá-lo depois de mim. Eu não acredito que existam planos para o Oliver Queen no Universo Estendido DC, baseado nas coisas que as pessoas me falam, mas não ficaria chateado se mudarem de ideia”.
Exterminador, Arlequina, Pistoleiro, Amanda Waller: todos, uma hora ou outra, sumiram (ou foram mortos) no Arrowverse
Lá atrás, defendi aqui no JUDÃO a ideia de manter universos separados para a TV e o cinema não era algo ruim. Os gibis – principalmente os da DC – são famosos por existirem dentro de um multiverso, com inúmeras versões dos mesmos personagens e das mesmas histórias. Isso abre a possibilidade de, em menos tempo, termos mais histórias empolgantes e produtos de sucesso. Imagine, por exemplo, a segunda ou a terceira temporada de Arrow explorando a presença da Arlequina dentro da Força-Tarefa X? Estaríamos somando, e não dividindo esforços.
É só deixar claro para os espectadores que existe essa ideia de Multiverso. Também poderia ser interessante criar “zonas neutras”, com alguns personagens longe da TV por um tempo antes e depois da estreia do filme – mas sem explodi-los em milhões de pedaços, como fizeram com o Pistoleiro.
O fato é – não podemos nos enganar aqui – que os filmes atingem muito mais gente. Rapidamente a versão do longa-metragem vai superar não só a da TV, mas também a dos quadrinhos. As séries não vão atrapalhar os filmes, da mesma forma que os gibis não atrapalham. Mais do que isso: um blockbuster é o que vai atrair mais fãs apaixonados por TUDO daquele personagem, INCLUINDO pra série. É só ver o número de cosplayers da Arlequina...
Talvez, agora que Geoff Johns também está assumindo o comando dos DC Filmes, isso acabe — como já não acontece, mesmo que em parte, em Supergirl (que terá a presença do Superman na nova temporada). Vamos torcer.