DiCaprio pode finalmente conseguir o Oscar graças a um filme INFERNAL | JUDAO.com.br

Tá bom que The Revenant se passa no meio do gelo – mas a obra dirigida por Iñárritu vem colecionando tantos elogios quanto problemas de produção

Parece que em 2016 finalmente Leonardo DiCaprio vai poder se ver livre das piadinhas sobre nunca ter conquistado o diacho da estatueta do careca pelado. Agora vai? Pelo menos é o que apostam todos aqueles que tiveram a chance de assistir a O Regresso (The Revenant), dirigido pelo mesmo Alejandro G. Iñárritu, de Birdman.

Com uma performance que o Vulture descreve como sendo “mais física do que verbal”, o site afirma ainda que DiCaprio se entrega completamente aqui. “Vemos uma vingança encharcada de sangue e salpicada de saliva que extermina de uma vez qualquer vestígio daquela visão de ídolo dos sonhos das adolescentes dos anos 90”. Ao ouvir algumas pessoas que assistiram ao filme, por mais que as críticas oficiais estejam embargadas até o dia 4 de dezembro, o The Hollywood Reporter concluiu que Leo é o ponto alto da produção. “Ele não poderia ter feito um trabalho melhor e é mesmo o cara que todos os outros indicados vão ter que lutar pra derrotar na corrida para melhor ator”.

Pudera: numa sessão de perguntas e respostas posterior à exibição a qual a Variety teve acesso, DiCaprio descreveu o processo de gravar a bagaça como sendo o mais difícil de toda a sua carreira. “Na verdade, acho que foi o mais complicado da vida para qualquer um dos envolvidos”.

Ao Yahoo, ele contou que entrou em rios congelados e chegou a dormir em carcaças de animais, sempre lutando constantemente contra a hipotermia. “Bom, eu certamente não como fígado cru de bisão regularmente”, revela ele. “Quando vocês assistirem ao filme, verão a minha reação real, porque Alejandro manteve a cena. Isso diz tudo. Foi uma reação instintiva”.

O Regresso é um filme biográfico, portanto baseado em uma história real (do tipo que a Academia simplesmente ama), uma história de superação (do tipo que a Academia simplesmente ama) que tem ares de western misturado com thriller e é baseada no livro de mesmo nome lançado em 2002, escrito por Michael Punke.

A trama conta a história de Hugh Glass (DiCaprio), um caçador de peles que, em 1823, é atacado e brutalmente ferido por um urso no meio de uma expedição no que seria o território de Dakota (que, mais tarde, se dividiria entre Dakota do Sul e Dakota do Norte). Seus companheiros, liderados por John Fitzgerald (Tom Hardy) o deixam para trás às PORTAS DA MORTE – não sem antes matar seu filho. O caso é que Glass não apenas sobrevive, como se mete em uma jornada de mais de 320 km no meio da neve e enfrentando situações extremas para encontrar os traidores em uma busca por vingança.

A história já tinha virado filme, em 1971: Fúria Selvagem (Man in the Wilderness), com Richard Harris – o falecido primeiro Dumbledore – no papel de Zachary Bass, inspirado em Hugh Glass. Este projeto atual, no entanto, começou em 2001, antes mesmo do tal livro ser lançado: o produtor multiplatinado Akiva Goldsman teve o manuscrito de Punke em mãos e planejava lançá-lo com Samuel L. Jackson no papel principal e Park Chan-wook, do Oldboy original, na direção. Depois, pulou para a dobradinha Christian Bale e John Hillcoat (Os Infratores).

TheRevenant_01Goldsman vazou, a New Regency assumiu, com apoio da RatPac-Dune Entertainment do diretor Brett Ratner e distribuição garantida para a Fox. Em 2011, com orçamento inicial de US$ 60 milhões, Iñárritu assinou. Mas graças a alguns atrasos envolvendo outros projetos, ele só começaria a rodar em Abril do ano passado, finalizando a filmagem principal apenas em agosto deste ano.

Detalhe importante aqui: originalmente, a produção deveria ter se encerrado no final de março. E em julho de 2015, os tais US$ 60 milhões já tinham se tornado 95 – e, no fim das contas, especialistas dão conta de que vai ultrapassar a casa dos 130. A produção, que ganharia o nada simpático adjetivo de “infernal”, contou com integrantes do time reclamando das dificuldades e sendo mandados embora aos montes, ao ponto de certos produtores serem até barrados do set de filmagem (aka Jim Skotchdopole, parceiro de Iñárritu em Birdman).

O ponto aqui: a megalomania do mexicano para dar a este filme o ar épico que imaginou originalmente. “Como diretor, se eu encontro um violino que está tocando desafinado, eu tenho que tirá-lo da orquestra”, diz o cineasta, sem rodeios, para o The Hollywood Reporter. “Não tenho nada a esconder. Tivemos problemas, mas nada do que eu precise me envergonhar”.

Com uma tonelada de cenas externas, Iñarritu fazia questão de usar sempre iluminação natural, o que dava uma janela de trabalho bastante apertada para rodar ao longo do dia. E o diretor de fotografia, Emmanuel “Chivo” Lubezki, ainda tinha os seus momentos de diva, segundo membros da produção que não quiseram se identificar revelaram ao THR. “Eram 16h, todos de pé, ainda tínhamos cerca de uma 1 hora e meia de luz do dia – mas não era a luz que ele queria”, conta uma fonte, com tom de frustração. Chegaram até mesmo a viajar de helicóptero a uma região para inspecionar a possibilidade de filmar, mas voltaram porque a luz não estava satisfatória. Toca mudar todos os planos.

Além disso, tudo sempre tinha que seguir uma regra muito clara: nada de CGI para ajudar a dar um grau nas filmagens. Tudo que pudesse ser real, teria que ser real. “Se acabássemos na telinha verde com café quentinho pra todo mundo, a galera ia ficar feliz mas o filme provavelmente seria uma merda”, aposta o diretor. Pra complicar ainda mais a coisa toda, Iñarritu insistiu para que O Regresso seguisse o mesmo caminho de seus filmes anteriores: tudo filmado em ordem cronológica, exatamente como a gente vai ver na tela, começo, meio e fim. Um pesadelo em estúdio, um verdadeiro inferno gelado para quem está rodando praticamente tudo em externas.

“Esta é a única forma pela qual consigo entender a história e os personagens”, explica ele em entrevista ao Yahoo. “Você tem que ser humilde para ouvir o que está acontecendo e ver as transformações que a história pede – e deste jeito é melhor para fazer as mudanças que a trama vai pedir conforme se desenvolve. Creio que os atores também entendem melhor as emoções que têm que transmitir quando tudo é cronológico”.

Os planos eram de rodar a porra toda totalmente no Canadá – mas o clima, este danado, também não ajudou. E lá foram eles procurar neve no sul da Argentina. Como resultado, um hiato nas filmagens em dezembro que deveria durar duas semanas acabou durando seis, fazendo com que as equipes de produção e os atores tivessem que acomodar suas agendas. E foi justamente por isso que Tom Hardy teve que pular fora do elenco de Esquadrão Suicida, por exemplo.

Por falar em Hardy, aliás, o ator confirmou ao EW que chegou a sair na mão DE VERDADE com o diretor mexicano no meio do trabalho. “As paradas ficaram meio sérias e eu falei: por que a gente não resolve isso na frente desta galera? E acabou com a gente se pegando no meio da neve. Acho que é uma coisa boa. Se eu sou o cara malvado por fazer isso, prefiro continuar sendo o cara malvado e liberar esta tensão toda”.

Mas Hardy não tinha nada ruim a dizer de Iñarritu. Pelo menos, não diretamente.”Ele é diferente de qualquer diretor com o qual eu tenha trabalhado. Ele vê as coisas de um jeito muito particular, então entregar o que ele quer é uma experiência bem interessante. Pode te deixar maluco”, explica.

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Iñarritu e Leo

Como cereja do bolo, junte a esta história uma cena de batalha que envolvia cerca de 30 caçadores de peles e mais uma dezena de índios e que, de uma hora para outra, ganhou nada menos do que 200 extras, com pouquíssimo tempo para a equipe de campo se adaptar e preparar tudo. E Iñarritu ainda quis trazer um sujeito totalmente pelado para a ação, mesmo com aquele frio miserável. Mas o diretor nega todas as acusações de que o ator tenha sido maltratado ou estivesse sentindo qualquer tipo de dor, relembrando as muitas medidas de segurança tomadas com todos envolvidos em cenas extremas como esta. “Eu perguntei diversas vezes se ele estava bem, por exemplo, e ele sempre dizia que estava preparado para outra tomada”.

No fim das contas, Iñarritu defende que O Regresso é um filme sobre sobrevivência – e atores e equipe se “beneficiaram” da possibilidade de poder fazer isso no meio da natureza, vivenciando cada momento de verdade. “Quando vocês assistirem ao filme, verão a escala disso tudo”, aposta. “E aí vão dizer UAU!”, fecha, jogando a modéstia pra casa do caralho.

Nos EUA, O Regresso terá uma estreia limitada a algumas poucas salas no dia 25 de dezembro, para poder ter tempo de ser considerado ao Oscar 2016: a estreia oficial, no entanto, será em 8 de janeiro. Aqui no Brasil o filme está previsto para chegar aos cinemas dia 21 de janeiro.