Em frente, mulheres, com bravura! | JUDAO.com.br

Falar sobre feminismo o tempo inteiro é algo cansativo. O que pode nos dar mais gás para seguir sempre?

“Por que o feminismo é esse ato de resistência, protesto e ativismo? Porque a misoginia foi normalizada. Precisamos do feminismo para desbancar a misoginia… mas eu mal posso esperar pelo momento em que o feminismo será normalizado. Eu quero ser celebrada por ser uma artista, antes de tudo, mas preciso passar por muitas interseções até lá. Ser apreciada como pessoa gorda, mulher negra, por promover o feminismo… Mas, um dia, artistas poderão ser apenas artistas porque essa luta já terá sido vencida.”

Essa é uma fala da Lizzo à MTV UK, cantora americana que andou em destaque nas últimas semanas. E representa meu espírito neste Dia Internacional da Mulher. Descobrir o feminismo é descobrir que o seu entorno está ABARROTADO de coisas tóxicas. Que existem pequenos truques para a manutenção do “lugar da mulher” em sociedade. Que discursos do dia-a-dia, estereótipos, páginas de revista, matérias em jornais, anúncios do Instagram, tudo, TUDO tem o poder de mexer com as nossas cabeças, incutir culpas, desejos e necessidades irreais e, olha só, até lucrar em cima de nossas inseguranças. E detectar isso 100% do tempo é exaustivo. Lutar é importante, mas cansa demais e, às vezes, só dá vontade de ficar sonhando com o momento em que isso não vai mais ser necessário.

Patty Jenkins, diretora de Mulher-Maravilha, desejou no seu Twitter um bom final de semana de estreia à equipe de Capitã Marvel (você pode ler nossa resenha do filme AQUI, inclusive), junto com uma ilustração do artista John Yandall que mostra Mulher-Maravilha e Capitã Marvel. E adivinha só? Virou notícia. Uma diretora parabenizando e desejando sucesso a uma outra equipe de cinema! Colegas se cumprimentando. Algo que deveria ser normal.

Mas aí é que tá, né? Não é.

Não só pela pendenga chata e sem fim entre fãs da Marvel e da DC, mas também pelo COISA TODA da competição feminina. Como assim Patty não tá torcendo pra que Anna Boden, uma das diretoras de Capitã Marvel, afunde? Será que ela não acha que Diana Prince ganharia de lavada da Carol Danvers numa briga? Ela não gostaria de lucrar e ganhar audiência propondo um duelo? Em que mundo ela vive?

A gente tá tão absorto em brigas e rivalidades que simplesmente se ESQUECE que boa parte dessa luta também é sobre parar de normalizar a violência. Parar de achar comum que meninas DETESTEM tudo: o próprio corpo, umas às outras, as roupas que vestem, o cabelo, o trabalho das colegas. Que a insegurança seja a norma. Que uma diretora queira que a sua “protagonista-feminina-forte” seja INFINITAMENTE SUPERIOR à do outro estúdio. “Mais feminista”, até.

Mas para que seja possível deixar de noticiar algo assim, ironicamente, é preciso… noticiar. Publicar momentos de afeto, coleguismo e sororidade AO INVÉS de brigas sem sentido entre famosas é um dos passos importantes. Dar exemplos bons é uma ferramenta poderosa pra que se criem novas narrativas que o público vai consumir, admirar e computar como algo corriqueiro. Construir um novo modelo de interação entre pessoas, ESPECIALMENTE entre mulheres, é passar a dar mais espaço para carinho, respeito e cumplicidade.

Não acho que o amanhã guarde um descanso pleno e aquilo que Lizzo disse sobre uma “luta vencida” talvez seja utópico demais. Mas dá pra fazer dos dias que virão algo MUITO melhor. E imaginar um futuro em que direitos das mulheres sejam parte fundamental das discussões das normas da sociedade é um bom combustível pra quando se está tão exausta de repetir discursos e lutar por aquilo que é essencial.