Pablo Hidalgo bloqueou todo mundo no Twitter, mas o chorume continua. Enquanto isso, Freddie Prinze Jr. define perfeitamente o que acontece no FANDOM.
A gente já falou isso um milhão de vezes, desde a época dos tais VIRAIS de Batman – O Cavaleiro das Trevas: se os nerds se unissem pra buscar, sei lá, a cura de uma doença, da mesma maneira que se unem em torno daquilo que eles são fãs, a paz mundial já teria sido alcançada. Não que a situação atual do mundo seja CULPA dos nerds, mas, bem... Não é como se não fosse, também.
Vamos pegar Star Wars, por exemplo. Xenofobia e misoginia fizeram Kelly Marie Tran abandonar sua conta no Instagram. Daisy Ridley, a Rey, também resolveu abandonar as redes sociais (e seus mais de 2.3 milhões de seguidores) por conta de tudo o que, infelizmente, era obrigada a ler diariamente. Ahmed Best, o ator que interpretou Jar Jar Binks nos três primeiros episódios chegou a cogitar suicídio por conta de todo o ódio DESTILADO contra o personagem que, não por acaso, acabava sobrando pra ele. Teve até gente que resolveu reeditar filmes pra tirar as MULHERES da história. Sabe?
Há pouco mais de um ano, Pablo Hidalgo, o chefe e criador do Lucasfilm Story Group, equipe do estúdio responsável por manter todo o CANON dentro, bem, do CANON, pelos mesmos motivos dos seus colegas de SAGA resolveu resetar sua conta no twitter. Um ato que podemos chamar até de desesperado, depois de tudo o que ele estava sendo obrigado a ouvir depois de Star Wars: Os Últimos Jedis.
Era até meio triste segui-lo, uma vez que sempre parecia que o cara, nascido no Chile em 1974 e que em 2000 se tornou o responsável pelo StarWars.com — onde começou a servir de consultor informal sobre a continuidade das histórias que eram contadas — estava CAMINHANDO PELA BEIRADA, sempre pronto a fazer alguma coisa um pouco mais extrema em relação aos seus seguidores. No caso, o que acabou mesmo acontecendo na última segunda-feira (14), dois dias depois do seu aniversário de 45 anos.
Evocando publicamente o SNAP do Thanos, Pablo resolveu se utilizar da extensão Twitter Block Chain e simplesmente BLOQUEAR todo mundo que o seguia por lá, mas que ele não seguia de volta — eu, por exemplo. A ideia da extensão era bloquear todas as pessoas que seguem uma determinada conta, assim como bloquear todo mundo que uma conta segue. É uma extensão REALMENTE útil, que evita uma enorme quantidade de chorume de aparecer na timeline e nas menções, mas que Hidalgo resolveu rodar na sua própria conta.
Bom pra ele que, a partir de agora, deverá ter alguma paz enquanto se distrai no twitter, rede social que uma colega costuma chamar de “fumódromo da internet”. E, com sua conta trancada, ele nem vai precisar lidar com novos seguidores, que invariavelmente surgiriam, seja só porque querem saber mais sobre o responsável pelo CANON DE STAR WARS, seja porque querem continuar preenchendo seus pacovás. E, pesquisando pelo nome dele lá no twitter, isso fica MAIS DO QUE CLARO que aconteceria. E putaquemepariu, que coisa horrível de ler.
Como acontece quase sempre que se é bloqueado, há uma certa comemoração, como se o fato de ser uma pessoa insuportável pra outra fosse algo bom. Tem gente dizendo que o cara “não aguentou”, que é “típico”, “clássico”, alguém não suportar “ouvir verdades”; tem o pessoal que se faz de vítima, afirmando que “só porque apontou o que há de errado com Star Wars” recebeu o block; a galera que não faz a menor ideia do porque recebeu o block e fica ofendidíssma; em comum, o fato de que essas pessoas acham que é OBRIGAÇÃO do outro ouvir o que você tem a dizer sobre ele, pra ele.
Uma coisa ridícula e terrivelmente egocêntrica, já que se torna um ABSURDO a pessoa OUSAR não ouvir o que você tem de reclamações e críticas e quaisquer outras coisas não elogiosas pra dizer. Uma pessoa que nem exatamente é pública, apenas tem um cargo importante e uma conta numa rede social. É aquela história: liberdade de expressão é uma coisa. Ser um lixo humano é outra completamente diferente.
Entre os comentários e respostas ao block, além dessa história de “tem coisa errada com Star Wars” há muita gente usando hashtags pedindo o BOICOTE de Star Wars: A Ascensão Skywalker, já que, pra eles, o que JJ Abrams e Colin Trevorrow fizeram, foi arruinar o que eles pensam que é Star Wars. Repito: o que ELES pensam que é Star Wars. Como dissemos nesse texto, “fãs de Star Wars odeiam Star Wars”. E isso costuma ser uma verdade universal, sobre absolutamente TUDO.
Isso me lembra, aliás, quando pouco antes da estreia de Star Wars: O Despertar da Força, fui perguntado em um evento se eu não achava que, a partir dali, “Star Wars se tornaria carne de vaca”.
Por isso é realmente interessante ouvir o que Freddie Prinze Jr., o Kanan Jarrus de Star Wars Rebels, tem a dizer sobre fãs e a suas relações com a saga, suas vontades, o que eles acreditam que deveria ser o “caminho correto” para a história seguir. Uma história que SEMPRE teve um dono, que SEMPRE definiu muito bem o que era o que e que, a partir de 2012, passou a ter uma equipe completamente dedicada a não permitir que essa história jamais se desviasse do caminho.
O vídeo, recorte de um podcast que foi publicado em MAIO mas só agora ganhou a internet, está em inglês, mas é realmente interessante. Começa com ele afirmando que as pessoas se irritam com Star Wars porque a saga não envelheceu com elas, já que é uma história para crianças, desde sempre. “Você só tá puto porque o Han Solo deu a porra da Millenium Falcon pra uma garota”, diz, com razão. “Eu sei mais sobre a Força do que a maioria das pessoas, porque o Dave Filoni [criador de Star Wars Rebels] me ensinou, e o George Lucas ensinou pra ele. Todos esses videogames foderam com a ideia do que é a Força”, reclamou, colocando videogames onde não me parece ter qualquer relação mas, se tá criticando a cultura gamer, tem meu apoio de qualquer maneira. “Não são as habilidades do Luke que definem se ele vai ganhar ou perder. O Imperador não decide se ele ganha ou perde. A Força decide quem ganha ou perde baseado em equilíbrio”.
Prinze Jr. vai longe, tanto nas ofensas quanto na explicação do equilíbrio, dizendo até que já sabe exatamente como é que Star Wars: A Ascensão Skywalker vai acabar baseado nisso; mas o importante aqui é que ele fala algumas verdades que todo e qualquer fã deveria parar pra, UMA VEZ NA VIDA, ouvir e absorver, ao invés de querer impor suas próprias ideias pré-concebidas ao que outras pessoas fazem.
É só apertar o play aí embaixo.