Adaptação para os cinemas do gibi publicado pela Image Comics, cortesia dos caras do grupo Man of Action, promete ser um verdadeiro espetáculo de absurdos
Não é só a Valiant que tá se esforçando pra surfar na onda dos rentáveis heróis dos quadrinhos e trazendo seu próprio universo para os cinemas. Os caras do Man of Action, coletivo de roteiristas formado por Joe Casey, Joe Kelly, Duncan Rouleau e Steven T. Seagle e agora transformado em uma verdadeira empresa de entretenimento, são macacos velhos do mercado e sabem bem do poder que tem mãos com seus personagens autorais. Por que não apostar em também vê-los nos cinemas?
Agora batizada de Man of Action Entertainment, a empresa é conhecida inicialmente por ter sido a criadora do personagem Ben 10, para o Cartoon Network. Para a Marvel, eles trabalharam como produtores e roteiristas dos desenhos animados The Avengers: Earth’s Mightiest Heroes (2010), Ultimate Spider-Man (2012) e Marvel’s Avengers Assemble (2013), além de serem responsáveis pela vindoura série baseada na animação vencedora do Oscar Big Hero 6. Fora da Casa das Ideias, eles estão mais do que devidamente acertados com a Capcom para produzir um novo desenho animado do Mega Man, para 2017, com exibição prevista para o canal Disney XD.
Agora eles tão indo além, com o filme baseado em Officer Downe, graphic novel escrita por Casey (que já fez um monte de títulos dos X-Men pra Marvel, além de Superman e Flash na DC) com arte de Chris Burnham (de Batman Incorporated, com Grant Morrison), publicada em 2010 pela Image Comics. A dupla já tinha trabalhado junta antes, no elogiado Nixon’s Pals, sobre um agente da condicional forçado a lidar com a enorme população de supervilões em Los Angeles.
O trailer é uma verdadeira festa de divertidos diálogos forçados e balas para todos os lados. Praticamente um Charles Bronson meet Fucker & Sucker, tudo meio super-herói.
Terrence Downe é um dedicado oficial da força policial de Los Angeles, entusiasmado com seu trabalho de combate ao crime, até que ele é morto no cumprimento do dever. Então, numa daquelas viradas que são típicas do mundo dos gibis, o sujeito acaba submetido a um experimento usando uma tecnologia metafísica (não pergunte, história em quadrinhos) e o resultado é que agora ele pode ser trazido de volta do mundo dos mortos. Sempre e sempre. Morreu, volta pra casa que a gente ressuscita. Junte a isso uma dose considerável de violência e um monte de armas gigantescas e você tem o que a polícia precisa pra encarar uma onda de supercrimes cometidos por superseres. Em sua mira, estão por exemplo nomes como Fortune 500, Madre Superiora e suas freiras com metralhadoras e o mestre do kung fu Zen Master Flash.
Downe tem, como os leitores mais atentos já podem imaginar, uma pegada meio Juiz Dredd misturado com o visual anos 70 do clipe Sabotage, dos Beastie Boys, um cara sem muitos tons de cinza: ou é certo ou é errado. O ponto aqui é que, para Downe, fazer o “certo” significa quebrar quaisquer tipos de leis que sejam necessárias para matar a maior quantidade possível de vilões pelo meio do caminho. “Se você já leu a graphic novel e se pergunta o quão longe nós poderíamos ir, bom, nós fomos e seguimos mais adiante ainda”, afirmou Casey durante o painel do Man of Action na San Diego Comic-Con.
Embora admita que pode existir um subtexto na história que remete à uma crítica sobre a violência policial, infelizmente tão comum tanto lá quanto cá (“um tipo de merda que não pode ser tolerada em nenhuma sociedade civilizada”), ele faz questão de deixar claro que Downe tem no fundo, exatamente como Dredd, uma bússola moral bastante definida. Ambos querem, de alguma forma, tentar fazer o bem.
“Eu cheguei a pensar muito nisso enquanto estávamos filmando. Eu sabia que algumas imagens que trabalhamos podem ter uma conotação mais volátil. Mas tive que seguir em frente. Porque eu não quis fazer aqui uma declaração social. Quis fazer um filme pipoca, nada mais do que isso”, conta Casey, em entrevista ao Comic Book Resources,
O roteiro do filme é do próprio Casey e, na direção, um estreante em longas chamado Michael Shawn Crahan, que já tinha experimentado dirigir uns clipes de sua própria banda, chamada de Slipknot, não sei se você já ouviu falar. Crahan é o percussionista dos caras, o músico que atende pelo número 6 ou, se preferir, aquele que usa a máscara de palhaço.
“Ele disse, desde o primeiro momento, que se identificou imediatamente com a história, os personagens, os conceitos. Ele me contou que ama os gibis, o visual, o sangue, o sexo”, revela o escritor. Casey e Burnham dizem até que o diretor andava pra lá e pra cá no set, com sua própria cópia da graphic novel repleta de post-its com anotações por todos os lados. “Ele folheava até encontrar a cena que gravaríamos no dia, pausava para reabsorver o material e aí começava a conduzir a câmera e a equipe de gravação”.
Este filme vai ser melhor do que qualquer coisa que a Marvel e a DC já fizeram
Na produção, a assinatura fica a cargo da dupla Skip Williamson e Mark Neveldine. Enquanto o primeiro é conhecido por ter dado vida à franquia Anjos da Noite, o segundo é um dos diretores de Adrenalina, a piração em alta velocidade estrelada por Jason Statham. “Este filme vai ser melhor do que qualquer coisa que a Marvel e a DC já fizeram”, disparou Neveldine em entrevista ao podcast The Movie Crypt. “[o ator] Kim Coates É o Officer Downe. É tipo um Gene Hackman clássico”.
Downe é interpretado por Coates, mais lembrado recentemente pelo papel do mecânico Tig Trager, integrante do clube de motoqueiros em Sons of Anarchy. Chris, o desenhista, revela que, no set de filmagem, se sentiu numa parada tipo Mulher Nota 1000 ao ver Coates sair vestido como Downes pela primeira vez. “Era o bigode que eu desenhei, os óculos escuros, a roupa, aquela arma semi-plausível. Tudo ali, em três dimensões, de verdade. Foi louco”. Também estão no elenco Tyler Ross (Zumbilândia), Reno Wilson (da série Mike & Molly), Bruno Gunn (Jogos Vorazes) e Lauren Velez (Dexter).
“Pouco depois do lançamento da versão de Officer Downe em capa dura, Skip e Mark entraram em contato para saber a respeito dos direitos de adaptação da HQ para os cinemas”, explica Casey, lembrando que ele e Chris são 100% donos dos direitos do personagem, graças ao acordo de independência com a Image Comics. “Quando encontrei com os dois, não tinha certeza do que eles queriam, mas eu tinha duas demandas bem específicas. A primeira era óbvia: eu escrevo o roteiro e sou produtor do filme. A segunda era menos óbvia: não quero ir para um grande estúdio. Quero fazer o filme de maneira independente. Por sorte, era exatamente o que eles queriam. Ninguém queria lidar com aquela cultura dos estúdios que provavelmente renderia uma versão triste e INSÍPIDA do material original”.
Aí, Casey, Williamson e Neveldine fecharam um acordo para que os três fossem produtores com partes iguais e partiram para as cabeças, pra fazer acontecer. “Embarcamos nesta parada para provar que nosso modelo para fazer este tipo de filme, repleto de adrenalina, baseado em uma HQ, poderia funcionar de maneira independente. E nós conseguimos, nós fizemos o filme. Então, eu não ficaria surpreso se começássemos a ver mais filmes assim, feitos deste jeito. Mas tudo depende das pessoas terem coragem de topar o desafio”.
Casey conta que o primeiro passo no processo de escrever o roteiro foi simplesmente traduzir a história da HQ, sem repensar em nada de maneira muito radical, apenas colocar o gibi na tela. “Quando fiz isso, percebi que tínhamos só metade de um filme. Os quadrinhos eram apenas um rascunho de uma história (e tenho certeza de que qualquer um que leu vai poder atestar isso). Eu e o Burnham estávamos mais interessados no clima e no caos do que em qualquer outra coisa. Mas, no filme, eu tinha que ir mais fundo. Tinha que dar mais corpo aos personagens, acrescentar mais peças, contar uma história maior. Basicamente, queríamos que o personagem fosse mais longe do que o gibi foi”.
Ele diz ainda que percebeu que tinha ido no caminho certo quando Kim Coates topou o papel, o primeiro depois que Sons of Anarchy acabou. “Um ator do calibre dele não teria topado se não tivesse percebido isso. Foi muito gratificante quando ele assinou, porque aí ficou claro que aquela visão do personagem ia funcionar. Basicamente, quando eu e ele falamos sobre o roteiro, Kim me forçou a pensar Downe de formas que nunca tinham me passado pela cabeça. E eu co-criei o diabo do personagem!”.
Officer Downe chega não apenas aos cinemas, mas também nas principais plataformas de VOD americanas, no próximo dia 18 de Novembro. A distribuição fica a cargo da independente Magnet Releasing, braço para filmes “de gênero”, em especial os de ação, da pequena Magnolia Pictures (de títulos como Totalmente Kubrick e a dobradinha Ninfomaníaca, do Lars Von Trier).
Outra produção cinematográfica da Man Of Action, desta vez em parceria com a Treehouse Pictures, já está em andamento: a adaptação para as telonas do gibi I Kill Giants, também da Image, escrito por Joe Kelly e com arte de Ken Niimura. A história de Barbara Thorson, garota que cria um mundo de fantasia com monstros e magia para fugir de sua realidade cheia de complicações, terá produção de Chris Columbus (precisa apresentar?) e direção do dinamarquês Anders Walter, vencedor do Oscar de melhor curta animado com Helium (2013). Zoe Saldana está fechada para interpretar a Sra. Molle, psicóloga que ajuda a menina.