Apple e Amazon entraram na disputa pelos direitos de distribuição do personagem, para atrapalhar a vida de Warner e Sony
Neste momento, nos bastidores, está acontecendo algo que é bem EMBLEMÁTICO sobre os tempos nos quais estamos vivendo. Apple e Amazon, duas empresas que originalmente não tinham relação alguma com cinema, entraram numa das mais valiosas disputas desta indústria: a dos direitos de James Bond. A informação é do Hollywood Reporter.
Tá, eu vi a sua cara de “WTF!?”.
Começando do começo: 007 é, hoje, um dos grandes ATIVOS de Hollywood. Os direitos de adaptação do personagem são, desde os anos 1960, da inglesa Eon, comandada pela Barbara Broccoli, ao lado do meio-irmão Michael G. Wilson, desde a morte do pai e cofundador da empresa, Albert R. Broccoli.
Já contamos essa história com mais detalhes aqui no JUDÃO mas, basicamente, parte da Eon foi parar nas mãos do estúdio United Artists, já responsável pela distribuição, e depois foi comprado pela MGM que, por sua vez, é hoje nem sombra do que já foi e não consegue mais distribuir filmes por conta própria. Por isso, o Leo the Lion – sim, esse é o nome do mascote deles – tem, desde Cassino Royale, um acordo de coprodução com a Sony, via Columbia Pictures, que foi renovado antes do lançamento de 007 – Operação Skyfall. Esses rolos de Hollywood, eu sei.
Acontece que o segundo contrato acabou após o lançamento de 007 Contra Spectre e, há mais de dois anos, a MGM está buscando um novo acordo – conversando com, além da própria Sony, Universal, Fox e Warner, com esta última liderando a BOLSA DE APOSTAS — até agora. E foi aí que Apple e Amazon entraram. Inclusive, a Apple é vista como uma forte competidora, o que estaria fazendo a WB pressionar o pessoal da MGM para assinar logo o contrato que eles botaram na mesa.
Tudo isso tem um motivo: desde que o Netflix virou o jogo, ficou cada vez mais claro que ter conteúdo exclusivo é o caminho para ganhar espaço no mercado de streaming – ainda mais com empresas como a Disney confirmando que vão deixar seus brinquedos em uma plataforma própria, de forma exclusiva (inclusive Marvel e LucasFilm). Ao começar antes, o pessoal de Los Gatos ganhou tempo para consolidar franquias do zero, como House of Cards, Orange is the New Black e Narcos. Apple e Amazon dormiram no ponto e, agora, precisam garantir algo já consolidado, que atraia para si os holofotes. E, querendo ou não, James Bond é um dos grandes ASSETS disponíveis no mercado, ainda controlado por uma empresa familiar.
Tanto é, que, veja só, a questão não é mais apenas sobre licenciar direitos ou acordos de coprodução, mas a possibilidade de vender totalmente o personagem. Um acordo, segundo a galera de mercado, que vale algo entre US$ 2 e US$ 5 BILHÕES, ou entre R$ 6,3 e R$ 15,5 bilhões – ou ainda mais de 300 apartamentos do Geddel, pra ficar numa unidade mais PRÓXIMA de nós, se é que você me entende.
Para comparação, a Disney pagou US$ 4 bilhões pela Marvel em 2009, e US$ 4 bilhões pela LucasFilm, alguns anos depois.
“Num mundo de LucasFilm e Marvel, Bond parece subestimado”, disse uma fonte próxima ao negócio, de acordo com o THR. E não é só isso: o veículo afirma que empresas chinesas poderiam se envolver, entrando na parte de licenciamento e deixando o negócio ainda mais lucrativo.
Realmente, pensando como business, 007 parece meio parado nas mãos de MGM e Sony, “apenas” com um filme de tempos em tempos. Criativamente falando, ao menos, a marca não sofre um desgaste com excesso de exposição.
Pelos lados de Cupertino, foram escalados dois novos executivos, Zack Van Amburg e Jamie Erlcht (ambos ex-Sony), para negociar com a MGM. De acordo com informações de bastidores, a ideia da Apple não é só ter para si os filmes anteriores e os próximos, mas também explorar um grande terreno para o personagem, até hoje virgem: as séries.
Nos bastidores, fala-se que a Apple passará a investir pesado em conteúdo em vídeo nos próximos meses. Talvez Bond seja o produto perfeito para testar o formato que a empresa busca, com blockbusters estreando no cinema junto com o iTunes, sem janelas – e o qual exibidores não seriam malucos de boicotar, como aconteceu com a Netflix. Além disso, uma série baseada no universo do personagem poderia ser um ótimo cartão de visita para este tipo de conteúdo no iTunes, que nunca decolou.
O problema é que a Eon não quer sair do atual modelo de distribuição.
O grande desafio aí tem nome: a Eon. Barbara Broccoli e Michael G. Wilson ainda são fiéis ao velho formato do cinema, e que estes filmes devem ser a maior preocupação. Até porque, vamos combinar, eles sabem que a franquia tem outros potenciais e poderiam até ter se metido nisso antes, se quisessem. Se não fizeram até agora...
Nesse sentido, aliás, a Amazon poderia ser o melhor destino: a empresa de Jeff Besos já deixou bem claro que não quer ir contra o funcionamento das janelas da indústria – inclusive vendendo seus filmes no iTunes. Dessa forma, Bond continuaria sua jornada no cinema, enquanto a empresa de Seattle seria mais comedida no uso da marca e em spin-offs, por exemplo.
Enquanto isso, Yakko, Wakko e Dot estão apertando seus esfíncteres. As notícias mais recentes – como aquelas relacionadas a diversos filmes do Coringa rolando ao mesmo tempo – dão conta que eles estão atirando para todos os lados em busca de um caminho para o futuro da empresa. A aposta para ter James Bond é alta e com retorno garantido, mas entrar num leilão para ter o agente secreto não era o que eles estavam esperando...
Bom, Leo the Lion está esfregando as mãos... quer dizer, as patas. E, independentemente de qualquer acordo, ele e a Eon já anunciaram que Bond 25 está previsto para ser lançado em Novembro de 2019. Com Daniel Craig.