Lady Gaga quer transformar a sua sala numa pista de dança | JUDAO.com.br

Não é o melhor disco de música pop do ano? Não é, este título tem outra dona (é bom estarem preparados para falar sobre isso, porque eu vou falar e pronto). Mas ainda assim é a cantora de volta à sua melhor forma e no momento mais oportuno! <3

Olha só, vamos deixar uma parada bem clara antes de qualquer coisa, já que a provocação foi devidamente feita — Future Nostalgia, da Dua Lipa, é até o momento a melhor coisa que a música pop produzir em 2020. Quanto a isso, não estamos abertos à discussão aqui nesta casa. Vai lá ouvir e não me @. Pois bem. No entanto, Lady Gaga é Lady Gaga sempre e, bom, ela nunca chega pra brincar, né. Então, digamos que este novo álbum da Mamãe Monstro, Chromatica, é uma prata cheia de orgulho. Discão do bão, pop com P maiúsculo. Porque, vamos lá, não é apenas porque é o DETENTOR do segundo lugar que ele é um álbum a ser relegado. Bem pelo contrário.

O mais legal de Chromatica, aliás, é que ele faz bem jus ao seu título. É uma bolacha, antes de tudo, cheia de COR. Uma coleção de canções vivas, dançantes, pra cima. É, como muita gente fez questão de dizer, trilha sonora ideal pra pista de dança. Isso sim. Mas é preciso dizer que tamos falando de faixas que te fazem querer chacoalhar, sair do chão, não importa onde você esteja. Não é disco de pista numa pegada NOTURNA, fumaça, mais densa, cheia de efeitos, estrobo, grave bombando e te fazendo tremer o corpo. Nada disso.

Aqui o papo é em outro tipo de pista, multicolorida, tecnicolor, mais iluminada, produção limpa e esmerada. Uma pista que dá pra fazer em casa, aliás, por falar nos tempos que vivemos hoje. Eu mesmo escutei Chromatica pela primeira vez quando lavava a louça e, na sequência, lá fui eu rebolando passar vassoura na casa. E estava estranhamente achando que cada uma daquelas 16 músicas tinha sido feita EXATAMENTE para aquele momento.

No geral, tenho gostado bastante do exercício de deixar passar o hype todo para escrever sobre este tipo de blockbuster — e é inegável que uma Lady Gaga é ARRASA-QUARTEIRÃO do mundinho da música. Escuto duas, três, quatro, cinco vezes antes de começar a formular uma opinião. Dá para enxergar e principalmente ouvir melhor as pequenas nuances, indo além das muitas camadas de marketing e da gritaria do fandom. Foi assim com Chromatica. Eu experimentei pela primeira vez dando um trato no apartamento. E depois fui saboreando aos poucos.

Só depois de ouvir o disco mais de uma vez, por exemplo, eu consegui curtir o primeiro single, Stupid Love, de outro jeito, cada vez imaginando a canção como a abertura de uma série diferente — da última vez, pensei numa comédia romântica ambientada em um futuro distópico, juro procêis.

Só depois de mais de uma audição é que você enfim embarca na LETRA de Fun Tonight, delicinha de canção com jeitão retrô, quase Cyndi Lauper do final dos anos 1980, mas que é praticamente alguém chorando de tristeza em plena balada ao se deparar com a prisão que é a alegria forçada da fama e dos paparazzi. O mesmo acontece com a iluminada Replay, que apesar das muitas tonalidades sonoras, no fim é uma canção de letra arrasadora sobre monstros que torturam uma pessoa cheia de cicatrizes na mente. O resultado chega a ser agridoce.

Achei, aliás, Dona Gaga bem da esperta ao não apenas sacar o potencial pop das meninas coreanas do BLACKPINK mas trazê-las pro seu lado na gostosinha Sour Candy, um dos bons duetos que a cantora faz ao longo do disco. Se talvez Rain On Me fique um taaaaaaaaaaaaaantinho aquém do que se esperava de um momento ao lado da Ariana Grande, em Sine From Above ela saca o que Ozzy Osbourne fez lindamente em seu último disco e também convoca Sir Elton John pra entrar na dança. Mas aqui o resultado não é um triste canto do cisne de dois cavalheiros e sim uma ferveção cheia de plumas e paetês que dá vontade não só de dançar como também de CANTAR junto.

Ainda assim, no entanto, é sozinha que Stefani Joanne Angelina Germanotta brilha ainda mais em Chromatica. Porque cada vez que escuto Enigma, por exemplo, na sua crescente de uma semibalada para um batidão poderoso, uau, a coisa ganha ainda mais corpo, mais contornos, mais vibrações. E pra encerrar, toma Babylon, uma daquelas músicas feitas e costuradas menos pra ouvir e mais até para uma bela performance no palco, com caras, bocas e muitos bailarinos, tipicamente Lady Gaga.

Chromatica é um prazer de ouvir, de dançar, de deixar te iluminar nestes dias tão cinzentos. E quando você pensa que a mulher por trás do disco não se cala do alto de seus privilégios, vai lá e apoia protestos, abre as portas para discussões sobre questões sociais... maluco, aí é que a gente vai chacoalhar a raba até o chão COM GOSTO.