Mais uma chance de ler A Última Caçada de Kraven | JUDAO.com.br

Clássico do final dos anos 1980, que é tipo o Cavaleiro das Trevas do Homem-Aranha, tá ganhando uma reedição aqui no Brasil

Tem gente que torce o nariz pro Homem-Aranha dos anos 1980. Besteira. É verdade que os anos 70 e, principalmente, os anos 60 foram incríveis para o personagem, enquanto a terceira década de vida do Escalador de Paredes viu uma profusão de diversos títulos e de roteiristas diferentes, o que acabou trazendo alguns muitos altos e baixos. Porém, esses altos (quase) fazem esquecer a parte ruim.

Podemos citar o uniforme negro (que foi polêmico, sim, mas continuo achando lindo), todo o mistério do Duende Macabro (que foi encerrado de forma ruim, mas trataram de salvar tudo com um retcon nos anos 90) e, claro, A Última Caçada de Kraven, que, mal comparando, é O Cavaleiro das Trevas do Cabeça-de-Teia. Um clássico que tá sendo republicado agora no Brasil em edição encadernada.

A HQ foi originalmente publicada no final de 1987 em seis partes, em Web of Spider-Man #31-32, The Amazing Spider-Man #293-294 e The Spectacular Spider-Man #131-132. Escrita por J.M. DeMatteis (sim, ele que, poucos anos mais tarde, co-assinaria a fase cômica da Liga da Justiça, lá na Distinta Concorrência) e com ilustrações do Michael Zeck, a história acompanha aquela que seria a vingança final do clássico vilão Kraven contra o Homem-Aranha – e, veja só, inicialmente foi pensada como um arco do Magnum, outro herói da Marvel, e repensada depois como uma HQ do Batman enfrentando o Coringa, pra aí sim ganhar o formato que todo mundo conhece.

Kraven

Kraven, após diversas derrotas e ver seu lado caçador SOBREPUJADO por um cara que dispara teias, faz uma última caçada e consegue finalmente prender o nosso herói. Pra restaurar sua honra, Kraven atira no Escalador de Paredes com um rifle e, em seguida, o enterra. Na lápide estava escrito: “Aqui jaz o Homem-Aranha, morto pelo Caçador”.

Mas a vingança não acabou aí: o vilão veste uma réplica do uniforme do herói ~falecido (que, na época, era o negro) e, num enorme delírio, se passa pelo Homem-Aranha. Tudo pra mostrar que ele, Kraven, é melhor, se dando bem onde o antigo usuário daquele uniforme foi derrotado. Porém, por mais que tente, o vilão não consegue se tornar o herói ou fazer melhor do que ele. Falta o coração, o lado humano.

O texto do DeMatteis é incrível, talvez até pelo fato da história ter sido pensada pra três personagens diferentes e ter sido incubada por alguns anos. Afinal, com mais tempo pra pensar, você consegue ir polindo as arestas. Outro detalhe curioso é que a história usa trechos do poema The Tyger, de William Blake – que, depois, também seria base para um episódio de Batman – The Animated Series. Mais uma ligação entre os dois personagens por conta dessa HQ... ;D

A Última Caçada de KravenMike Zeck também estava no melhor da sua forma, numa clara evolução ao trabalho que ele tinha feito em Guerras Secretas. As splash pages são lindas, e cada quadro consegue trazer essa coisa mais sombria do roteiro pra arte – algo no qual o uso do uniforme negro ajuda bastante. As sequências de delírio e quando o Homem-Aranha finalmente sai de sua cova são minhas partes preferidas.

Um clássico que, dizem, poderia inspirar o novo reboot do Homem-Aranha, agora pelas mãos da Marvel. Apesar de rumores indicarem que o Kraven seria o vilão desse filme, que deve estrear em 2017, seria muito cedo para uma abordagem mais sombria – pensando até que a Casa das Ideias deve estabelecer um herói mais jovem e descontraído.

Nessa republicação nacional (a quinta desde 1991), a Panini conseguiu juntar uma boa qualidade do papel, capa dura e um preço justo pra 148 páginas, de R$ 25,90. Só que poderiam ter mais extras além das capas originais ou um trabalho mais específico pra essa republicação. O que fizeram foi apenas reimprimir a edição de 2004 numa qualidade melhor. Ao menos a capa poderiam ter trocado, já que tem artes melhores disponíveis...

Apesar dos pesares, fica uma ótima oportunidade pra (re)ler um grande clássico do Homem-Aranha, de uma época na qual o herói se tornava cada vez mais maduro e ia crescendo com os seus leitores. ;)