Mark Millar ainda vai dominar Hollywood | JUDAO.com.br

Huck, nova série em quadrinhos de Mark Millar, com arte do BR Rafael Albuquerque, nem foi lançada ainda e já teve os direitos para o cinema devidamente comprados. Mais uma pra coleção.

“Mamãe e Papai”. É assim que o escocês Mark Millar se refere às suas duas maiores referências no mundo dos quadrinhos, Alan Moore e Frank Miller. No entanto, chega a ser irônico que Millar cite Moore como seu modelo e inspiração, já que ultimamente os dois não poderiam pensar mais diferente em relação aos seus trabalhos e suas carreiras.

Do seu lado, Moore brinca de ERMITÃO e renega completamente qualquer adaptação para os cinemas de suas obras, além de evitar a todo custo dar entrevistas, mexer em redes sociais ou se enfiar em eventos de qualquer espécie. Millar, do outro lado, não poderia ser um sujeito mais sorridente e acessível, circulando aos sorrisos em convenções e tapetes vermelhos, tirando fotos com todo mundo e fazendo graça no twitter... E vendendo os direitos de suas HQs pra Hollywood.

Do chamado Millarworld, O Procurado, os dois Kick-Ass e Kingsman já foram produzidos, estrearam e, bom, os que foram dirigidos por Matthew Vaughn ainda são ÓTIMOS filmes. Chrononauts, Jupiter’s Legacy, MPH, Starlight, Superior e Nemesis já tiveram seus direitos de adaptação pros cinemas vendidos e estão em algum estágio de pré-produção (que pode ser, inclusive, “absolutamente parado”). Isso sem contar os trabalhos que fez ~pra fora, como War Heroes, da Image, e o livro infantil Kindergarten Heroes. E se der uma forçada, ainda encaixa Capitão América: Guerra Civil...

De maneira inteligente, Millar está sabendo suprir a Hollywood que não tem acesso à biblioteca de super-heróis da Marvel ou da DC com personagens interessantes e instigantes para que todo mundo possa surfar na onda da popularidade dos gibis nas telonas e, como resultado, tendo “100 Milhões de dólares em propaganda” pras suas HQs. “Eu não entrei nos quadrinhos pra sair deles. Nunca foi um atalho pra chegar aos cinemas, pra mim. Quadrinhos são meu trabalho e filmes são um extrazinho bem legal” disse, certa vez, em uma entrevista.

Moore compara as adaptações das suas obras com UM FILHO ESTRIPADO, e não tem interesse nenhum em participar de qualquer parte desse processo, já que não tem o cinema nem entre suas cinco favoritas formas de arte e prefere “dedicar minha energia a uma mídia que eu entendo, gosto e pela qual sou capaz de me empolgar”.

Millar é produtor de todos os filmes baseados em suas obras. E mais: é pago pela Fox pra servir como consultor de todos os seus filmes baseados em histórias em quadrinhos e até chegou a se aventurar como diretor, até descobrir o Poder Sem Limites, de Josh Trank. “Acho que tenho cerca de quatro dias de filmagem gravados”, conta ele para o Den of Geek. “Mas ainda bem que descobrimos o filme de Josh Trank em tempo hábil, porque fazer uma versão vergonhosa de um filme excelente seria a pior estreia como diretor da história do cinema”.

Mark Millar na Comic-Con

Mark Millar na Comic-Con

Nosso amigo JM Trevisan escreveu um artigo interessante, defendendo o ódio que Alan Moore sente nesses casos, uma vez que Watchmen, por exemplo, foi “feito para extrair o máximo dos quadros, das páginas, da mídia escrita. (...) Nada disso é reproduzível de maneira satisfatória na tela de cinema, justamente porque Watchmen foi escrito e desenhado para demonstrar o que só os quadrinhos são capazes de fazer”. Ele ainda afirma que esses filmes são desnecessários, “prejudicados justamente por forçarem a adaptação de algo que não precisava ser adaptado”.

Trevisan está absolutamente correto. Mas, na teoria, toda e qualquer adaptação é desnecessária, uma vez que, na teoria, as obras originais são feitas pra extrair o máximo da mídia em que são feitas. Livro pra Quadrinho, Jogo pra Filme, Filme pra Livro, seja lá o que for.

Tem alguém errado nessa história? Talvez aquele cara que insiste numa entrevista com Moore pra saber o que ele tá achando da última adaptação de uma história em quadrinhos sua... E só. Porque, no fim das contas, passamos a ter duas obras, que existem independentes uma da outra. Que podem ser divertidas a seu modo, extraindo o máximo da sua mídia. :)

Huck

E por que falamos tudo isso? Porque Huck, nova série em quadrinhos que Mark Millar tá escrevendo para a Image Comics com traço do brasileiro Rafael Albuquerque (Vampiro Americano) e que só sai no dia 18 de Novembro já está com seus direitos de adaptação devidamente ADQUIRIDOS pelo Studio 8, fundado pelo figurão Jeff Robinov, ex todo-poderoso da Warner, em parceria com a empresa de investimentos chinesa Fosun Group e com a Sony Pictures Entertainment. A produção ficará a cargo de Jon Silk (Caça aos Gângsteres).

A trama — que não envolve nenhum tipo de carro velho, táxi ou concurso de soletração — fala sobre um superhumano que, apesar dos poderes, é apenas um cara simples e comum, sem muita inteligência. Sua intenção é a de fazer o bem de maneira anônima, um dia de cada vez, dos atos mais simplórios aos mais impressionantes. Mas ele acaba sendo revelado ao mundo por um jornalista. E aí a casa cai de vez e ele se torna alvo de um monte de vilões. Justamente aqueles dos quais se escondeu a vida inteira. “Uma mistura de Capitão América com Forrest Gump”, definiu o comunicado oficial sobre o lançamento da HQ.

A intenção, segundo Rafael explicou durante a Image Expo em julho deste ano, é trazer de volta aos gibis o clima dos clássicos filmes da Amblin nos anos 1980. “Vocês verão isso refletido na arte”, contou ele. “Esta é uma HQ bem diferente, talvez a mais diferente na qual já qual trabalhei”.

Pera. Trazer elementos de cinema para histórias em quadrinhos? Que puxa, não? ;)