Liga da Justiça é um fracasso de bilheterias. De quem é a culpa?

Muito mais gente elogiou a sequência de Batman VS. Superman, então dessa vez não dá pra dizer que o problema foram os críticos. Talvez seja o momento de olhar pra si mesmo, mudar e assumir as mudanças, né?

Quando Batman VS. Superman atingiu um impressionante placar de 27% de críticas positivas no Rotten Tomatoes, foi quase uma unanimidade, entre aqueles que vamos chamar aqui de “Fãs dos filmes da DC”, o ataque a críticos, jornalistas e até ao próprio Rotten Tomatoes que, olha só, apenas agrega o que escrevem internet afora, e não é exatamente um sistema que possa ser “comprado”.

Claro, há algumas falhas, especialmente porque ele funciona baseado no “positivo” ou “negativo”, sendo que às vezes você escreve super bem sobre um filme mas não gostou tanto assim dele, ou vice-versa — até por isso, aqui no JUDAO.com.br, não utilizamos um sistema de notas, por exemplo.

Porém, contudo, entretanto, todavia, os mais de US$ 873 Milhões faturados em bilheterias ao redor do mundo funcionaram quase como um alívio para esses tais Fãs dos Filmes da DC, que faziam chover notas de dólares em ataques como se o dinheiro fosse deles, como se isso significasse lucro de fato e, principalmente, como se resultado de bilheterias fosse sinônimo de qualidade de um filme.

Liga da Justiça, por sua vez, convive, até agora, com cerca de 40% de críticas positivas no Rotten Tomatoes, enquanto AMARGA uma derrota gigantesca nas bilheterias que, apesar de ter quebrado “todos os recordes em seu dia de estreia no Brasil”, ficou em apenas US$ 93 milhões dentro dos EUA — que, não se engane, é o mercado que realmente importa se você não tiver fazendo um Velozes e Furiosos da vida — o que significa que a Warner terá sérios problemas pra conseguir PELO MENOS zerar seus gastos com o filme.

Já tem até gente dizendo que talvez tenha chegado a hora de usar os ensinamentos de Jason Blum, até.

Apenas como comparação: Batman VS. Superman faturou US$166 Milhões em seu primeiro fim de semana. Pra uma sequência de um filme que tanta gente gosta tanto, a queda foi IMPRESSIONANTE. E não dá pra culpar os críticos e jornalistas dessa vez, porque muito mais gente elogiou, de alguma maneira, Liga da Justiça.

Seguindo o DITO POPULAR que resolveram atribuir a Homer Simpson, “a culpa é minha e eu ponho em quem eu quiser”, e mostrando uma total e respeitosa incapacidade de parar de passar vergonha, os tais Fãs dos Filmes da DC resolveram criar uma petição on-line exigindo a versão do diretor e a trilha de Junkie XL pro lançamento do filme em Blu-ray.

Sendo minimamente justo com as mais de 71.000 pessoas que assinaram o abaixo-assinado até o momento em que eu escrevia isso aqui (incluindo Richard Cetrone, o dublê do Ben Affleck no filme), essencialmente o que eles pedem é coerência com tudo o que foi feito até agora no falecido DCEU. O problema é que isso que foi feito e que querem agora é absolutamente incoerente com décadas e décadas de história daqueles personagens nos cinemas, TV e, principalmente, quadrinhos.

A única exceção, claro, sendo Mulher-Maravilha — não só o filme mais elogiado como o que teve, proporcionalmente, os melhores resultados nas bilheterias entre os filmes dos / com seus colegas de trabalho.

“A DC tem muita vergonha de seus personagens. (...) é impressionante como o medo de abraçar o universo ridículo daqueles super-heróis do século passado faz com que a casa de Superman, Batman e Mulher-Maravilha tenha resultados ainda mais patéticos”, afirmou o professor Chico Barney em sua coluna no UOL. É mais ou menos o que nosso BUROCRATA DO AMOR, o jornalista Eduardo, afirmou ao comemorar a trilha de Danny Elfman e a correção de curso que Liga da Justiça representa. “Tanto pelo sucesso comercial da trilogia de Nolan, quanto pelo fracasso de Superman: O Retorno anos antes, decidiu-se que o ideal seria buscar novas direções, meio que esquecendo, meio que renegando mesmo, tudo aquilo que havia sido feito antes”.

Essa foi a peça de marketing que mais chegou perto de vender o filme da Liga da Justiça que está nos cinemas

Acredito, porém, que o problema seja muito menos HEROICO, baseado em ideias e ideais de mundo, e muito mais uma questão de uma absoluta falta de noção de como lidar com o monstro criado há pouco mais de dez anos. Um monstro muitíssimo bem alimentado por fãs que parecem mais fanáticos e que, ao olhar pro espelho, preferem fazer tudo ao contrário, como se essa fosse a receita do sucesso do que chamam por aí de Distinta Concorrência (o que, aliás, na China foi levado um pouco a sério demais).

O marketing de Liga da Justiça talvez seja o melhor exemplo do tanto de ideias que circularam pelo departamento da Caixa D’Água. O Superman morreu em Batman VS. Superman, certo? Certo. Mas, seja baseado na Morte do Superman nos quadrinhos, seja pela terra flutuando sobre o caixão no fim do filme, sabíamos, desde aquele momento, que o Superman voltaria. Era uma questão de saber apenas COMO.

Liga da Justiça é um gigantesco retcon que, entre tantas outras coisas, adiciona toda uma importância do Superman à humanidade, sendo que em momento algum dos outros filmes isso foi minimamente sentido. Uma ideia realmente legal, que deveria ter sido explorada desde Homem de Aço e que deveria ter sido utilizada pra vender Liga da Justiça — se não pela história, que é muito mais relacionada a ele do que os pôsteres e trailers dão a entender, pelo simples fato de que se conhecemos o conceito de super-herói hoje é por conta do Superman.

Na coletiva de anúncio do elenco de Turma da Mônica – Laços, Mauricio de Sousa afirmou, brincando mas com toda a razão do mundo, que “não tem ninguém que não conheça a Turma da Mônica. Quer dizer, talvez alguém lá no fim da Amazônia... Se bem que eu já visitei algumas tribos indígenas e tinha gente desenhando os personagens”. Joga isso pra uma escala UNIVERSAL. Não há ninguém que não saiba quem é o Superman, absolutamente NINGUÉM.

Por que não usar isso em seu favor?

Uma amiga me disse que teria endoidado no cinema se, quando assistiu a Thor: Ragnarok, tivesse visto o Hulk pela primeira vez — e eu compartilho dessa ideia. Ao mesmo tempo, quantas pessoas não foram assistir ao filme por conta dele, ESPECIALMENTE depois dos outros filmes solo do Thor?

Nem o Hulk e nem o Superman são fanservice, como foi o Homem-Aranha em Capitão América: Guerra Civil que, aí sim, eu acredito que deveria ter sido mantido em segredo. Os filmes não existiriam sem eles. As histórias não seriam contadas sem eles.

Impressiona que mesmo depois da estreia nada tenha sido divulgado nesse sentido. Com exceção de um vídeo no Reino Unido, o foco continua sendo na equipe formada por Mulher-Maravilha, Batman, Aquaman, Ciborgue e Flash, que não chega a fazer muita coisa antes do ressurgimento do Superman, que nem no filme é tratado como surpreendente.

Os tais “adesivos” do Snapchat, por exemplo, só foram anunciados na página oficial do filme no Facebook depois da estreia. Por que não tem um do Superman? Aquela pessoa que viu e gostou do que ele faz fica sem esse tipo de coisa. O marketing de Liga da Justiça é praticamente canibal, correndo atrás do próprio rabo o tempo todo.

Isso tudo sem contar que, bom, não se pode salvar o Wundo sozinho. :P

Pouco depois de publicarmos esse artigo, a Warner lançou novas artes com o Superman... PERCEBAM A DIFERENÇA! Pena que foi tarde demais.

Difícil saber se os resultados seriam diferentes se a campanha de marketing fosse diferente, mas funcionou com Mulher-Maravilha e, principalmente, com Thor: Ragnarok toda essa mudança de clima e rumos em relação ao que se conhecia, mesmo que alguns fãs mais... HARDCORE tenham sido perdidos no caminho. “Assumir nossa participação ativa nos dispositivos de cultura e nos responsabilizar pela manutenção de um determinado padrão de história, discurso e ação implicaria ter que mudar algo em nós, de fato”, nos disse a psicanalista Aline Sieiro. “É um mecanismo de defesa projetar no outro as mudanças que sabemos serem desejos nossos, mas que implicariam riscos e por isso são evitados a todo custo.”

Talvez seja isso o que falta pros filmes da DC, enfim, funcionarem do jeito que se espera deles, mais até do que o abraço ao seu GLORIOSO passado: não ter medo das mudanças e do que elas significarão pra algumas pessoas. Afinal de contas, como dizem por aí, “os incomodados que se mudem”.

E isso vale pra todos os lados.