Não, não é a Carol Danvers. Tô falando da Kamala Khan! E parece que o Joe Quesada concorda… ;)
Representatividade importa. Já falamos isso diversas vezes aqui no JUDÃO e continuaremos repetindo. E quem também sabe disso é a Marvel, de acordo com o discurso, as estratégias e os resultados da divisão de quadrinhos da Casa das Ideias. Nos cinemas, porém, ainda não é exatamente assim, muito por conta da visão de Isaac Perlmutter, CEO da Marvel Entertainment, que enxergava riscos desnecessários em filmes com elencos mais diversos.
O “enxergava” ali não é porque ele deixou de enxergar, infelizmente, mas sim porque ele não apita mais nada na divisão de filmes da empresa, como ficou mais do que claro durante a Comic-Con desse ano. E as mudanças continuam: pelo que parece, já estão pensando lá na Marvel sobre a possibilidade de levar a Miss Marvel – a versão atual, a Kamala Khan – para o mundo live action.
Joe Quesada, ex-editor-chefe da Marvel Comics e atual CCO (ou seja, o CRIATIVO) da Marvel Entertainment, deu uma entrevista ao CBR, ainda durante a San Diego Comic Con, explicando um pouco sobre os bastidores da Casa das Ideias e a relação dos gibis com o resto do que é produzido por lá. “Se a Marvel é uma roda, os quadrinhos são o cubo, onde todo os aros se conectam. Filmes, TV... eles todos são aros da roda. Se você quer saber onde está o futuro, nos filmes, séries, games, animações, veja os gibis, porque tem uma grande possibilidade de que o que você está lendo hoje – ou uma versão disso – apareça em outras mídias. Pode ser no próximo ano, ou daqui quatro, cinco anos, talvez daqui 10 anos”, comentou Quesada.
Se você quer saber onde está o futuro, nos filmes, séries, games, animações, veja os gibis
“Se você olhar para o que o estúdio está lançando agora... Guerra Civil, certo? Isso foi há dez anos [nos quadrinhos], e aqui estamos, é um grande filme. É a mesma coisa na divisão de televisão – Jessica Jones era um gibi, e isso faz mais de dez anos. Então, quem sabe onde a Garota-Esquilo vai parar? Pra mim, essa é a incrível riqueza e a beleza das HQs – nós podemos ser muito criativos. No final do dia, se isso falha para a empresa, uma divisão que publica revistas, você perde milhares de dólares. Se é uma série de TV, você perde milhões”.
Reparou algo na fala de Joe Q? Sim: Garota-Esquilo. A entrevista foi na SDCC e, naquela época, a heroína era apenas uma personagem legal dos gibis. Hoje sabemos que ela está envolvida em um projeto de série dos Novos Guerreiros, que surge na esteira do sucesso dela nas HQs.
Até por isso, a entrevista com o cara fica mais interessante a seguir, com um segundo exemplo de personagem que poderia ser adaptado para outra mídia. “Nossos leitores são como o Johnny Appleseeds [folclórico personagem americano, que semeou o Meio-Oeste do país com maçãs]”, explica Quesada. “Eles nos falam que algo tem ressonância, que está atingindo algo essencial, e que é algo que deveríamos cultivar. Outro grande exemplo: Miss Marvel. Se nós fossemos lançar essa revista há dez anos, provavelmente nunca teria dado certo. Não só achamos o público, mas também tínhamos as pessoas certas na publicação e achamos a editora certa, os quadrinistas certos. E agora temos uma personagem que é muito conhecida – e isso muito, muito rápido. Isso não acontece muito”. “Quem sabe onde a Miss Marvel vai chegar?”, continuou Quesada. “Você pode ter certeza: em algum momento, ela será parte do futuro da Marvel em outra mídia”.
BOOM.
Quando Joe se refere às “pessoas certas” nos quadrinhos para criarem a personagem, isso é inegável. A personagem começou com a editora Sana Amanat que, conversando com o também editor Stephen Wacker, percebeu que havia espaço para criar uma personagem que, assim com ela, fosse uma adolescente muçulmana crescendo nos EUA. Foi aí que entrou a roteirista G. Willow Wilson, uma norte-americana que se converteu ao islamismo durante a faculdade e viveu muitos anos em Cairo, no Egito. Para a arte foi chamado o canadense Adrian Alphona, que co-criou Fugitivos — uma equipe de adolescentes que fez muito sucesso quando foi publicada como encadernado.
Assim surgiu a Kamala Khan, a primeira heroína muçulmana a ter uma publicação própria nos EUA – e, vale lembrar, ela não é árabe, mas sim “desi”, um termo que descreve os povos que surgiram a partir da diáspora do subcontinente Indiano, ou seja, India, Bangladesh, Paquistão e por aí vai. É a mesma origem da família da Sana.
No entanto, o discurso do executivo também pode se referir à própria Marvel Studios. Sem Ike por perto e com Kevin Feige, o presidente da bagaça, tendo mais liberdade, as coisas podem fluir melhor por lá. Além disso, os sucessos dos filmes do Pantera Negra (com o elenco praticamente todo negro) e da Capitã Marvel (a inspiração da Kamala e a primeira heroína a estrelar um longa da Casa das Ideias) podem criar também o momento perfeito para um filme da nova Miss Marvel, seguindo mais ou menos o mesmo processo que vimos nas HQs.
Tem a Marvel Television, também. Apesar dessa divisão ainda continuar sob o guarda-chuva de Isaac Perlmutter, é inegável que ele não rasga dinheiro. Boas bilheterias dos mesmos filmes da Capitã Marvel e do Pantera Negra poderiam apressar as coisas por lá, assim como o possível sucesso do novo Motoqueiro Fantasma em Agents of SHIELD – que, vamos lembrar, representa também uma outra minoria dentro dos EUA. Pra ajudar nisso tudo, o próprio Quesada ainda tem muita voz dentro da divisão, que é liderada pelo Jeph Loeb.
Mas, quer saber? O ideal mesmo era ver a Kamala Khan na tela grande, num filme de sucesso com orçamento enorme e um marketing para atingir o maior público possível. Kamala Khan não merece menos, vai por mim. ;)