Miles Morales: o outro filho do Bendis que merecia uma chance fora das HQs | JUDAO.com.br

Fan film mostra que o Homem-Aranha Ultimate tem um potencial incrível para reforçar o MCU

Agora que a série da Jessica Jones finalmente se aproxima e você já sabe que o universo PRECISA dela, o que não vai faltar é gente falando da obra de Brian Michael Bendis, criador da personagem e roteirista queridinho da Marvel já há alguns anos. Dono de bons diálogos e cheio de referências inteligentes, ele fez de Alias, a HQ do selo adulto Max na qual Jessica surgiu, uma das melhores HQs da Casa das Ideias nesta última década.

Mas se temos a oportunidade de falar sobre Bendis, é importante que se diga que Alias não foi o seu único grande acerto na editora – e Jessica Jones também não foi a única personagem cativante criada por ele. Porque em meio às histórias decadentes do Universo Ultimate, ele não apenas teve coragem de matar aquela versão de Peter Parker como ainda colocou um outro moleque sob a máscara de Homem-Aranha. Surgiria ali Miles Morales, o adolescente que é um verdadeiro VULCÃO de carisma e simpatia, desafeto da Fox News e estrela de um dos principais destaques recentes dos títulos da Casa das Ideias.

As histórias com Miles tem muito de Peter Parker? Claro que tem. Mas também tem um sabor que as de Parker jamais teriam. Por mais que Miles seja um nerd como Peter Parker era em sua adolescência, algumas situações vividas por Miles não caberiam na vidinha do moleque branco que cresceu num bairro de classe média nova-iorquino da década de 1960. Era preciso crescer, evoluir, ousar, explorar mais. Pra poder falar de preconceito, de superação, de autoestima com um outro repertório, completamente diferente.

Homem-Aranha

“Peter Parker é um nerd, excluído. Qualquer um, de qualquer classe social, pode ser um nerd excluído. Não há nada inerentemente branco sobre Peter Parker”, afirmou Dan Slott, justamente o roteirista das histórias do “universo regular”, estreladas por Peter Parker. “Uma das razões pelas quais o Homem-Aranha fala com todo mundo, em todo o mundo, é a máscara. Conheci muitos jovens fãs do personagem, que cresceram e hoje estão velhos, que quando encontraram o Homem-Aranha pela primeira vez eles meio que não sabiam quem estava sob a máscara. E isso dá a liberdade pra ele ser qualquer um. A liberdade pra ele ser como você”. Miles virou o Homem-Aranha para toda uma geração de fãs que nunca se sentiu representada.

Quando Miles foi anunciado como sendo parte oficial do Universo Marvel tradicional, junto com Peter Parker, o próprio Bendis deu uma declaração que deixa clara a questão da representatividade. Um de seus filhos — no caso, uma menina negra de quatro anos — encontrou uma máscara do Miles Morales em uma loja de departamentos, vestiu e disse “olha, papai, eu sou o Homem-Aranha”. “Eu comecei a chorar no meio do corredor”, contou o roteirista. “Eu percebi que meus filhos estão crescendo em um mundo que tem um Homem-Aranha multirracial, um Capitão América negro e uma Thor mulher”.

E por isso mesmo que eu sempre defendi que Miles Morales merecia um espaço neste universo cinematográfico da Marvel — que já é mesmo tão inspirado nos primórdios do Universo Ultimate... Tá bom, eu sei que a Marvel e a Sony optaram por trabalhar mais uma vez com Peter Parker neste novo filme. Ok, eu estou genuinamente empolgado, sou apaixonado pelo personagem desde os 7 anos de idade, não tenho como impedir. Só que, sei que o Peter me perdoaria, eu estava DE VERDADE torcendo por um filme do Miles. E, aliás, em um dado momento a Sony chegou a cogitar seriamente ter o cara como personagem principal.

De qualquer maneira, para entender como Miles funcionaria perfeitamente na telona — ou, quem sabe, na telinha — basta dar uma olhada neste LINDO fan film que a galera da produtora norte-americana Bard Tales lançou esta semana. Batizado de Spider-Man Lives: A Miles Morales Story, o filme de quase 10 minutos é dirigido por Ivan Kander, do documentário Survive. Recover. Live: The Rob Jones Story, sobre um militar amputado que pedalou pelos EUA durante um inverno rigoroso para levantar fundos para causas de caridade.

Bastante emocional, a trama começa imediatamente depois de Miles ter sido picado pela aranha modificada saída do mesmo laboratório que aquela que picou Parker. Ainda se acostumando com a ideia de ter poderes e sem saber o que vai fazer com estas habilidades, ele tenta digerir toda a comoção nacional com a morte do Homem-Aranha, exatamente como aconteceu nos gibis. “Como vou me comparar com este cara? Como eu poderia ser VOCÊ?”. Apesar de ter uma cena de ação, a grande graça da história toda acaba sendo a clássica discussão sobre poder e responsabilidade, surgida na mesa de jantar dos Morales, quando o pai de Miles questiona a atuação de Peter e deixa claro que acha que super-heróis e demais superpoderosos são aberrações, ameaças que devem ser temidas.

Destaque para a boa performance do jovem Demetrius Stephens, ator iniciante com uma curta carreira na TV, como Miles. Ele é declaradamente fã do Batman e já disse algumas vezes que tinha o sonho de interpretá-lo em algum momento.

O próprio Brian Michael Bendis elogiou o filme no Twitter: “Eu amei isso! Grande trabalho!”. Não foi só ele que gostou. Eu também amei. Me emocionei, até. E como fã do Homem-Aranha, de verdade, fiquei pedindo mais. No meu casting aqui pro JUDÃO, eu até cheguei a mencionar que o Chris, aquele que todo mundo odiava, poderia ser um bom Miles. Mas digamos que o Demetrius me convenceu.

IMPORTANTE: Spider-Man Lives é um filme baseado em personagem da Marvel. Então, por mais que seja uma produção de fã, façam o favor de esperar porque tem cena depois dos créditos. ;)