Anúncio de remake nunca vem sem reclamações, mas 2018 se superou com a toxicidade dessa tal de nostalgia
Eu não lembro EXATAMENTE quando foi a primeira vez que eu li isso numa rede social, mas me lembro direitinho do que é que eu pensei: quão recheada de bosta foram os primeiros anos de vida da pessoa que diz que um remake, uma nova versão, um reboot de algo que ela gostava quando criança, “vai destruir sua infância”. Porque, é aquela coisa, né? O que quer que ela assistia, continua existindo, do mesmo jeito — ou numa resolução e um som tão podres pros dias de hoje que SÓ ISSO já afasta essa pessoa nostálgica que se considera proprietária daquilo que, muito provavelmente, seus pais usavam pra distraí-la.
Mas, se existe algo que afasta (ou deveria afastar) essa nostalgia imbecil é mesmo a qualidade do que era produzido naquela época. Eu, por exemplo, posso dizer que amo Thundercats, Caverna do Dragão (esse ano o desenho completou 35 anos e nós falamos sobre aquele final) e Nossa Turma (GET UP!)... Mas se eu fizer como fiz com He-Man e resolver assistir sendo quem eu sou hoje, bem... Talvez eu diga que amava. No passado. Porque nossa senhora, como aquilo tudo era ruim. Como aquilo tudo era fruto de um tempo que passou... E não há NADA que se possa fazer quanto a isso.
Nem mesmo os remakes, como esse tal de ThunderCats Roar, anunciado em Maio e que rendeu um dos textos mais lidos de 2018 aqui no JUDAO.com.br: a nostalgia que cega a visão além do alcance. Um texto que foi usado algumas vezes depois, quando surgiu o novo Popeye que come orgânicos e tem um apito no lugar do cachimbo (como se ele usasse o cachimbo pra qualquer outra coisa que não apitar e... bem, você sabia que tem um desenho muito popular em que uma personagem chupa pirulitos ao invés de fumar?!), com a estreia de She-Ra... Tudo por um único motivo: nenhum desses remakes é feito pro adulto que cresceu assistindo ao desenho. Como TODO remake, reboot, relaunch, ele busca uma nova audiência, que tem novas ideias, pensamentos, maneiras de enxergar o mundo.
Sim, podia ser com outra coisa, algo original. Mas é nessa hora em que a nostalgia serve pra algo bom: imagina você assistir à She-Ra (que, se você for um cara, muito provavelmente NUNCA assistiu de livre e espontânea vontade simplesmente porque era “desenho de menininha”) com sua filha, seu filho, sobrinha, sobrinho, afilhada, afilhado?
Eu nem gostei tanto assim dessa nova versão do desenho porque completei 35 anos de idade agora, mas é CLARA E ÓBVIA a importância do que é dito e mostrado pra molecada que tá crescendo. A molecada que, bom... É a nossa esperança de um futuro realmente melhor. Porque, se depender dos adultos, como depende a política por exemplo, já vimos o que dá...
Outro texto bastante lido esse ano aqui no JUDAO.com.br foi publicado agora em Dezembro e fala sobre a decisão certa executada de um jeito errado relacionada ao, olha só, remake de Cavaleiros do Zodíaco do Netflix.
Nele, discutimos a ideia de transformar um dos Cavaleiros em Cavaleira, o que é MUITO legal, se o Cavaleiro escolhido não tivesse sido o Shun. “Aquele que todo moleque de 15 anos de idade vendo os Cavaleiros do Zodíaco na tela da finada TV Manchete dizia que era o ‘viadinho’. Aquele que virou motivo de zoação eterna ao usar seu cosmo num abraço para aquecer o corpo do Cavaleiro de Cisne, congelado na casa de Libra. Aquele que era taxado de bundão sempre que pedia a ajuda do irmão para sair de uma enrascada”.
Um texto que tem bastante a ver com outros que também entraram na nossa lista de mais lidos de 2018, tantos quanto os relacionados a Guerra Infinita, que falam não só sobre o papel geral da cultura pop na justiça social como sobre nostalgia tóxica, masculinidade tóxica... Justamente num ano tóxico.
Não me parece ser coincidência. ;)
Fica difícil desejar um “Feliz 2019”, porque o que nos espera parece incompatível com felicidade. Mas que o próximo ano seja, pelo menos, menos tóxico. Da nossa parte, continuaremos sendo resistência. Quem vem com a gente?