O retorno de Peter Parker às bancas brasileiras | JUDAO.com.br

O Espetacular Homem-Aranha #1 chega em grande estilo, trazendo uma oportunidade inédita por aqui: VOCÊ pode escolher o papel que quiser – não, não é pra você ATUAR no gibi, é o papel da revista, mesmo ;)

Acabou. Depois de meses e meses de polêmica, a fase Superior do Homem-Aranha teve um fim – no Brasil, claro. Peter Parker está de volta ao próprio corpo e, agora, passa a estrelar a novíssima O Espetacular Homem-Aranha #1, que chegou às bancas no final de agosto e abriu a fase Totalmente Nova Marvel (All-New Marvel NOW!, nos EUA) para o Escalador de Paredes.

O título, aliás, é histórico: pela primeira vez em terras brasileiras o Homem-Aranha está assumindo o famoso adjetivo “Espetacular” no topo de sua revista de quadrinhos mensal. Não deixa de ser uma forma (tardia) de capitalizar com os dois últimos filmes da Sony, além de deixar tudo alinhado com a principal revista aracnídea nos States, Amazing Spider-Man.

E é justamente de Amazing Spider-Man #1, publicado em 2014 e que teve mais páginas que o habitual, que chegam boa parte das histórias dessa edição nacional. Na primeira (e mais longa), chamada Sorte de Estar Vivo, Peter acabou de voltar e, aos poucos, vai lidando com a nova realidade construída pelo antigo ~morador de seu corpo, o Dr. Octopus, nos últimos meses. Por exemplo, agora ele é dono das Indústrias Parker, tem um monte de funcionários que dependem dele e tudo mais. Além de ter (finalmente!) terminado o Doutorado.

Só que nem tudo é perfeito. O Homem-Aranha Superior incomodou muita gente, o que vai atrapalhar esse lado da vida do nosso herói. Além disso, o Otto Parker se envolveu com uma mulher chamada Anna Maria Marconi – que ele ia pedir em casamento. Pois é, não vai ser fácil. :D

Espetacular #1

Em meio à tudo isso, ainda rola um flashback do momento no qual Peter Parker ganhava os poderes, trazendo um retcon que faz um link com a saga Pecado Original. De brinde, ficamos sabendo que tudo isso aconteceu há 13 anos (na cronologia dos gibis), que, somando com a idade que Peter tinha no momento do acidente com a aranha radioativa (16 anos), nos permite descobrir a idade atual do personagem: 29. A informação bate com o comentário feito pelo roteirista Dan Slott na San Diego Comic-Con do ano passado. ;)

Falando no Slott, ele faz um bom trabalho no roteiro dessa primeira HQ, apresentando de forma simples e inteligente o novo momento da vida do Cabeça-de-Teia. Ok, talvez seja meio estranha uma parte em que o herói fica (quase) todo pelado e tal, mas a ideia ali era mostrar o quanto Peter Parker se fode – e só ele se fode assim. Como o personagem acabou de voltar ao próprio corpo, ele vai conhecendo cada detalhe da sua nova vida aos poucos, o que é ótimo para novos leitores, que vão descobrindo tudo junto com o protagonista.

Na arte, Humberto Ramos consegue sem dúvida alguma fazer um trabalho cartunesco que funciona como uma verdadeira homenagem ao traço do co-criador do herói, Steve Ditko. Por outro lado, é inegável também que ele exagera em alguns momentos. Ainda assim, o saldo geral de seu trabalho nessa revista é positivo.

Nisso tudo, é interessante (e até engraçado) avaliar a mesma história quase um ano e meio depois. Algumas opiniões se aprofundam, outras mudam...

Em seguida, o gibi continua com outras histórias publicadas em Amazing Spider-Man #1. Primeiro temos uma aventura solo do Electro, escrita por Slott e Christos Cage, além de ser desenhada por Javier Rodriguez e Álvaro Lopez. Aproveitando que na época O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro estava chegando aos cinemas, usaram o velho vilão como antagonista do primeiro arco do novo gibi e, por isso, essa HQ de backup serve justamente para mostrar onde o cara estava, o que ele fez, enfim, construindo tudo para a edição seguinte.

Quem aparece depois é a Gata Negra, numa HQ escrita pela mesma dupla da história anterior e com uma linda arte do Giuseppe Camuncoli. Peter Parker sempre foi muito permissivo com a Felicia Hardy, mas era algo que Otto não sabia – levando o Aranha Superior a ter um encontro desastroso com a Gata Negra. Agora presa, ela só pensa em se vingar do antigo namorado... E Felicia não fica enjaulada por muito tempo... Uh-oh.

Essa é outra que vai infernizar a vida do Aranha nas primeiras edições. ;)

Em seguida temos Espetacular Realidade, a história de um garoto que acaba vendo a primeira participação de Peter Parker na luta livre e, fascinado pelo que o garoto consegue fazer, começa a acompanhá-lo. Um desses encontros acontece no estúdio de TV no qual ele veste o uniforme pela primeira vez – e, bom, é onde o garoto vê um certo ladrão entrando pelos fundos do prédio da emissora. “Que se dane”, diz ele, que não quer perder o lugar na fila pra avisar os seguranças.

Não preciso nem dizer que é o mesmo ladrão que, minutos depois, Peter Parker deixaria escapar ileso. E que depois materia o tio Ben. “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Só que às vezes não reparamos no grande poder que temos nas mãos.

Essa história é incrivelmente desenhada pelo Ramón Perez, que manda muito bem ao juntar o estilo clássico do Ditko em Amazing Fantasy #15 (incluindo aí as roupas, cenários da época e tudo mais) com um estilo mais atual, trazendo até celulares, computadores, enfim. É uma forma inteligente de atualizar tudo aquilo, mas mantendo um respeito sem tamanho ao trabalho original.

Essa HQ, aliás, é uma apresentação para as histórias publicadas nos EUA entre Amazing Spider-Man #1.1 e #1.5, justamente contando como esse mesmo garoto, Clayton Cole, fez parte dos primeiros momentos de Peter Parker como o Homem-Aranha. Foi uma forma interessante que a Marvel encontrou para recontar a origem do herói para os novos leitores, mas sem atualizar o que não precisava de atualização. E é a primeira parte dessa minissérie que fecha a revista brasileira.

No meio disso tudo, a editora Panini deixou de lado três histórias que foram publicadas na primeira edição do relançamento nos EUA. Numa delas, na arte com uma pegada mais infantil de Chris Eliopoulos, o Aranha explica como funcionam os equipamentos que ele usa. As outras duas introduzem os atuais momentos do Homem-Aranha 2099 e do Kaine, aquele clone que deu errado.

Outro problema também é que a edição atrasou. Mesmo tendo na capa o mês de julho de 2015, o gibi só saiu no final de agosto – algo que fica ainda mais claro quando folheamos a revista e vemos uma propaganda da Fest Comix, que rolou há um mês e meio.

O poder é de vocês

Uma das grandes novidades de O Espetacular Homem-Aranha #1 é a chance de poder escolher qual o papel que você quer pra edição. São duas versões, a Edição Espetacular, que tem papel LWC (aquele mais brilhante e bem acabado, usado em edições especiais, minisséries...) e a Edição Amigão da Vizinhança, que tem papel pisa brite (o “papel de jornal”, típico das HQs mensais brasileiras). Cada edição tem, além do selo mostrando o nome das edições, capas diferentes feitas pelo Alex Ross – e, pra cada uma, há ainda uma capa variante, com a arte no lápis.

(Ainda bem que só usaram a arte do Humberto Ramos pra Amazing Spider-Man #1 na quarta capa, porque ela é bem feinha. :D)

De certa forma, gibis mensais em papel LWC são um pedido antigo dos colecionadores, mas é algo que aumenta o preço as revistas – e tudo que encarece muito uma publicação pode ser ruim, vide a experiência negativa com os Super-Heróis Premium da Editora Abril. O que a Panini fez, então, foi lançar logo o gibi com os dois papeis e com R$ 1 de diferença no preço entre as versões, pra saber se as pessoas topam pagar mais pra ter mais qualidade ou não.

No final, as vendas das primeiras edições vão ditar qual das duas opções de papel fica – ou, no melhor dos mundos, se as duas versões continuam.

Em cima, edição gringa; por baixo, as edições brasileiras em LWC e pisa brite

Em cima, edição gringa; por baixo, as edições brasileiras em LWC e pisa brite

É bom lembrar que o papel LWC é mais próximo do papel usado nas publicações da Marvel nos EUA, talvez ligeiramente mais brilhante do que aquele visto nas revistas da Casa das Ideias. Como resultado, o que vemos aqui fica mais próximo do que os artistas, coloristas e editores originais prepararam, o que é sempre o ideal.

Pois é. Peter Parker voltou com boas histórias e, o melhor de tudo!, com oportunidade de escolha. Sensacional. Ou, melhor ainda, ESPETACULAR. :)