Disney resolveu adiar indefinidamente a produção do Volume 3, enquanto Dave Bautista continua expondo o quão bizarra essa história é. Será que já podemos dizer que já era?
Dave Bautista é um homem com uma missão. Há de se admirar, independente de concordar ou não com ele, todo o desprendimento que ele tem em relação à maior empresa de entretenimento do universo com a qual ele tem um contrato — o que, aliás, pode ser justamente o que permite esse desprendimento MAS MESMO ASSIM.
Em um estado contínuo de pistolice (o que, pra alguém anti-Trump, é absolutamente compreensível) o ator recentemente falou diretamente com o Mickey Mouse ao lembrar a todos QUEM foi que desencavou, pela segunda vez, os tweets imbecis de James Gunn que culminaram na sua demissão de Guardiões da Galáxia Vol. 3 — no caso, um cara que não só compartilha teorias de conspiração (tipo a tal da #Pizzagate) como tem um poder imenso sobre uma horda de seguidores e cujo nome eu não vou citar aqui propositalmente.
Depois de uma série de vídeos em que era zoado pelo humorista Vic Berger, por exemplo, esse maluco começou a dizer em seu twitter que Berger era o líder de uma rede de pedofilia. Em algum outro momento, esse mesmo cara inventou (e admitiu a invenção de) uma história na qual um jornalista teria revelado os dados pessoais de um garoto de 15 anos, e ainda mandou um “aproveite a diversão” em um vídeo, se referindo às ameaças de morte que o tal jornalista tava recebendo.
Citando justamente essa história, Bautista apareceu no celular de quem quer que controle a conta oficial da Disney no twitter, relembrando a todos que foi justamente esse cara que, revoltado com os tweets Anti-Trump de James Gunn, começou uma campanha para encontrar podres em sua timeline e que fez com que Gunn não só fosse DESTITUÍDO do posto de diretor do terceiro filme dos Guardiões da Galáxia, mas conseguiu fazer com que muita gente o acuse de pedofilia.
Quando Bautista chama a atenção da Disney de que “esse é o seu cara!”, ele também expõe a maior das esquisitices dessa história toda, sobre a qual já falamos nesse podcast. Os tais tweets (ou, pelo menos, pseudo-piadas tão indefensáveis quanto) já tinham sido motivo de declarações e pedidos de desculpas em 2012, quando Guardiões da Galáxia ainda era apenas e tão somente um “sério mesmo que a Marvel vai fazer um filme com um guaxinim em cima de uma árvore que fala só uma frase?”, o que aliás ajuda a fazer o desacordo algo realmente complicado.
Mas foi em 2018, no meio de todo esse turbilhão em que vivemos — no Mundo em geral, mas em Hollywood também — que a Disney resolveu, com uma rapidez impressionante, demitir o diretor e, como descobrimos na última semana, adiar por tempo indeterminado a produção de Guardiões da Galáxia Vol. 3, liberando inclusive a equipe que estava começando a se preparar para a pré-produção do filme, que provavelmente começaria a ser gravado entre Janeiro e Fevereiro de 2019.
Penso até que talvez seja o caso de considerar a possibilidade de o filme sequer existir DE FATO.
Se pra essa galera que usa chapéu de alumínio, tem ideias que colocam a vida de pessoas em risco e que, principalmente, não necessariamente discorda do que foi dito naqueles tweets, foi ridiculamente empoderador a demissão do diretor, você imagina o significado do adiamento e possível cancelamento de uma das franquias mais lucrativas de um dos estúdios mais lucrativos?
Não é como se fosse algo de construtivo de fato para o universo e a humanidade. São pessoas que desconhecem a existência de um mundo além do próprio umbigo, conseguindo fazer valer ideias que tendem a fechar ainda mais a percepção da existência de outras pessoas, outras ideias, outros valores.
É realmente assustador pensar esse tipo de coisa — e tudo bem se você não sabe como se posicionar sobre a decisão da Disney. Faz TODO o sentido querer James Gunn fora da direção do filme, mas é uma história tão complicada que levanta infinitas questões sobre a nossa capacidade de aceitar mudanças, de dar segundas chances.
Mais do que isso: uma empresa como a Disney, ao tomar a decisão de demitir o diretor, passaria um atestado de MUITAS COISAS caso ele fosse recontratado. De que errou, de que aceitou pressões... E por aí vai.
Pessoalmente falando, Guardiões da Galáxia acabou pra mim ao som de Father & Son, de Yusuf Islam/Cat Stevens. Mesmo que Taika Waititi venha a dirigir uma nova versão, as coisas serão diferentes — e a não ser que eu sinta saudade de um filme dos Guardiões, a ponto de aceitar coisas diferentes... Não vai adiantar ser só um filme bom. Nunca se tratou apenas de um filme.
Aliás, se fosse só um filme de fato, não estaríamos aqui discutindo tudo isso, né?