A renascença televisiva da Marvel | JUDAO.com.br

Com o anúncio de uma batelada de novos projetos para as telinhas, estejam elas onde estiverem, a Casa das Ideias ameaça o que até bem pouco tempo era o reinado absoluto da DC Comics

Nesta eterna disputa de boteco que é Marvel x DC, pelo menos um argumento parecia sólido o bastante para ser chamado de incontestável: tá bom, nos cinemas a turma do Stan Lee permanece inabalável, firme e forte. Mas na TV, no mundinho das séries, não tem jeito, a Marvel ainda precisava comer muito feijão com arroz pra tentar correr atrás da Distinta Concorrência. Se a comparação é entre clássicos, enquanto a Marvel tinha o seu icônico Hulk Lou Ferrigno pintado de verde, a DC teve Adam West e Burt Ward defendendo Gotham City com Soc! e Wham!, teve Lynda Carter rodopiando como a Princesa Amazona, teve a questionada Smallville, teve a fofucha Lois & Clark...

E isso ficando só nas séries live-action, porque se formos falar das animadas, aí a DC andava MESMO ganhando de lavada desde que Paul Dini e Bruce Timm resolveram dar uma nova roupagem pro Homem-Morcego nos anos 1990 e então derivaram pro Homem de Aço e aí pra Liga da Justiça. Aquele negócio era simplesmente de cair o queixo.

Só que depois de tudo que rolou nos últimos anos, parece que a balança começa a não se mostrar assim tãããããããão pesada pro lado da DC. Tá bom, eles têm Gotham, têm todo aquele Arrowverse com trocentos títulos... Mas veja só, o que começou com Agents of SHIELD, ganhou um gostinho delicioso com Agent Carter e um sabor amargo que dá vontade de cuspir com os Inumanos, aí teve novas ofertas na tela do Netflix, seis séries com uma turma mais urbana. E teve Os Fugitivos, Manto e Adaga, e teve ainda duas produções Marvel feitas pela Fox que, eita, The Gifted e a lindíssima e piradíssima Legion.

Mas não vai parar por aí. Porque os heróis Marvel tão chegando às telas menores com bastante disposição. A gente já falou aqui, por exemplo, das séries deles no Disney+ que vão se passar no MCU; também da piração animada com um universo coeso dos Ofensores (?) que eles tão preparando pro Hulu. Só que não acabou aí, minha gente.

Os caras do /Film cravam como certo e vindo de diferentes fontes, por exemplo, que o poderoso chefão Kevin Feige vai supervisionar a produção de MAIS UMA série pro Disney+, uma produção que vai ser animada. E com um conceito que, pelo menos no papel, é incrivelmente delirante e, por isso mesmo, muito maravilhoso: alguém aí já ouviu falar da franquia O Que Aconteceria Se...?.

Originalmente batizada de What If...?, a antologia de histórias surgida em 1977 e que já teve seus quase 200 volumes ao longo dos anos é tipo um Além da Imaginação da Marvel. Com tramas narradas pelo Vigia, aquele mesmo que só observa e jamais pode interferir, ela traz sempre histórias fechadas, com equipes criativas diferentes, explorando realidades alternativas nas quais elementos e eventos icônicos da cronologia da editora rolaram de jeitos diferentes.

Alguns exemplos: o que aconteceria se o Loki tivesse encontrado o martelo do Thor? Se a Tia May tivesse morrido ao invés do Tio Ben? Se o simbionte do Venom tomasse conta do Justiceiro? Se o Capitão América tivesse sido descongelado em 1983? Se o Thanos tivesse entrado para os Vingadores? Se o Doutor Destino tivesse se tornado um herói? Se a Elektra não tivesse morrido? Se o Homem-Aranha tivesse salvado a Gwen Stacy? Se o Professor Xavier tivesse se tornado o Fanático ao invés de seu irmão? E por aí vai. Deu pra sacar o conceito, né?

Agora pensa nisso sendo escrito tendo a cronologia MCU em mente. Porque, claro, a intenção de Feige é companhia não é referenciar, pelo menos não TÃO diretamente, os gibis, mas sim os muitos acontecimentos de um universo compartilhado que agora já tem mais de uma década. Algo na linha de “o que aconteceria se o Thor tivesse acertado o machado na testa do Thanos e não no peito?” ou “o que aconteceria se o Luis fosse o dono da Manopla do Infinito”, sabe? E como é animação, é algo muito mais barato e que daria para trazer grande parte, se não todos, os principais talentos que estiveram nos cinemas, que teriam apenas que dar suas vozes no desenho.

Embora ainda careça de informações e confirmações mais oficiais, de imediato já tem nosso total apoio.

Por outro lado, tem a Sony, que pegou gosto por esta coisa de SUMC, sigla para Sony’s Universe of Marvel Characters, com os sucessos de Venom, Homem-Aranha no Aranhaverso e, claro, da parceria com a Marvel para produzir o Cabeça de Teia como parte integrante do MCU. A mesma Sony que, antes de levar o Oscar pra casa, já tinha soltado uma informação, assim, meio sem querer meio querendo, sobre seus planos para seriados de TV animados ambientados na mesma pegada do Aranhaverso — obviamente, o nome do Porco-Aranha se tornou aposta imediata.

Mas então a Variety colou pra bater um papo com Mike Hopkins, egresso do Hulu e que se tornou o homem forte das operações de TV da Sony. “Estamos desenvolvendo muitos conteúdos relacionados com a Marvel e acho que vamos anunciar isso no mercado logo, algo que será muito transformacional para nós, porque nunca fizemos séries com a Marvel antes, com propriedades intelectuais deles”, explica o executivo. “Este é um grande projeto de desenvolvimento criativo no qual estamos desenvolvidos”. E ainda completa: “podemos sonhar em ter muitos programas em um único universo que criamos e que nos permita intercambiar entre eles — e trabalhando com um parceiro pra fazer isso acontecer”.

O parceiro podia ser o próprio Disney+? Podia. Improvável, mas quem sabe. No entanto, Mike afirmou que o tal grande anúncio preparado para os próximos meses talvez inclua outras parcerias que também estão na mesa.

Só que o chairman da Sony Pictures Entertainment, Tony Vinciquerra, uma cabeça acima de Mike Hopkins, dá uma outra dimensão pra este negócio todo. “Nós temos mapeados os próximos sete ou oito anos do que faremos com este recurso [no caso, o Homem-Aranha e seu mundinho de mais de 900 personagens relacionados], e não apenas no cinema, mas também na TV. Nosso time de televisão terá seu próprio grupo de personagens que vamos desenvolver”.

Talvez uma série jornalística focada apenas na redação do Clarim Diário? Ou então aquele tal projeto, outrora pensado pros cinemas mas agora aparentemente morto e enterrado, da Gata Negra com a Silver Sable? Uma série do Morsa? Da Coelha Branca? Do verdadeiro legado heroico familiar que é a história do Homem-Sapo?

Ah, senhoras e senhores, que tempos são estes em que estamos vivendo, não é mesmo? :)