Star Wars: A Ascensão Skywalker se rende e acaba entregando nada além do que já era esperado... | JUDAO.com.br

É quase como se J.J. Abrams quisesse fazer mais de um filme em um só, acrescentando conflitos clássicos de uma parte dois e a conclusão da parte três de uma trilogia, corrigindo erros que não existiram e deixando, assim, uma parte dos fãs (essa sim que não deveria existir) feliz

Existiu imensa expectativa quando JJ Abrams foi anunciado como a pessoa que introduziria um novo capítulo no icônico universo de Star Wars. O cineasta havia sido responsável pelo bem sucedido reinício de Star Trek em 2009 e todos viam sua contratação com bons olhos, o que acabou sendo comprovado com o lançamento de O Despertar da Força, filme que sabe ser introdutório e uma sequência de respeito ao mesmo tempo.

Mas a contribuição de Abrams ao universo Star Wars deveria ter se encerrado por lá mesmo — a ideia inicial, inclusive, era ter um diretor diferente por episódio. O desligamento de Colin Trevorrow, que cuidaria do capítulo final da nova trilogia, por divergências criativas com a produtora e presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, porém, fez com que Abrams fosse recontratado para finalizar a história que ele mesmo começou em 2015 e, claro, tentar aliviar as reações negativas EXARCEBADAS do fandom após o lançamento de Os Últimos Jedi.

Falando em português claro, essas reações foram uma enorme tempestade de merda. Lembre-se que Rian Johnson recebeu ameaças de morte e Kelly Marie Tran sofreu tantos ataques que precisou excluir sua conta no Instagram — algo que Daisy Ridley também precisou fazer depois de passar por uma considerável quantidade de assédio online após o lançamento do primeiro filme. Tran chegou a comentar em uma participação recente no programa Good Morning America que teve que fazer terapia para lidar com as mensagens de ódio que recebeu.

Nenhum fã saudável deveria reagir dessa forma aos filmes e séries dos quais não gostou, mas esse ódio direcionado acabou se tornando terrivelmente comum nos dias de hoje. Se foi isso que fez a Disney chamar Abrams novamente, para garantir que mesmo esta parte tóxica do fã-clube da franquia também fosse aos cinemas (“calma, tá tudo bem, suas navezinhas favoritas tão aqui, ninguém vai estragar sua infância”), nunca vai dar pra saber DE FATO até aparecer uma declaração concreta sobre o assunto. Mas é decepcionante ver como o diretor simplesmente corta o peso e a importância de Os Últimos Jedi em Star Wars: A Ascensão Skywalker.

Além de ser um buraco narrativo e ignorar os ganchos criados por Johnson, é extremamente problemático que Star Wars: A Ascensão Skywalker tenha diminuído Tran a uma figurante de luxo e lhe dado pouquíssimas falas. Dessa forma, parece que esse bando de racistas e misóginos que infernizaram a vida da atriz foram recompensados pelo show de horror de criaram. Não é como se Johnson não tivesse dado um caminho narrativo que a personagem poderia trilhar e dificilmente alguém pode argumentar que não tinha tempo hábil para completar o seu arco, já que o filme é extenso e até um tanto repetitivo nas aventuras do trio Rey, Finn e Poe.

Star Wars: A Ascensão Skywalker tem excesso de acontecimentos, narrativas e sinalizações que se desenrolam freneticamente desde o primeiro minuto. É quase como se JJ Abrams quisesse fazer mais de um filme em um só, acrescentando conflitos clássicos de uma parte dois e a conclusão da parte três de uma trilogia. Esse frenesi narrativo é extremamente prejudicial para a narrativa por não ter tempo para se concentrar e desenvolver questões dos personagens que conhecemos, e muito menos apresentar apropriadamente quem é novo, sub-utilizando muita gente.

Sim, existem coisas boas em Star Wars: A Ascensão Skywalker exatamente por manter esse DNA de esperança contra a opressão e a importância da união perante as dificuldades, elementos muito importantes que tornaram essa história tão humana. Apesar de ser desconfortável ver como as imagens usadas de Leia parecem deslocadas e deixaram a General sem reação em alguns momentos, dificilmente você não vai se emocionar com as homenagens feitas à Carrie Fisher e a forma como o filme frisa a importância da personagem e da atriz para Star Wars – ela é a única que permanece nas trincheiras, enquanto todos os aliados do passado debandaram pela galáxia.

Mas Abrams sabe exatamente quando e COMO virar as chaves das nossas emoções e nos dar todos os momentos que já esperávamos ver. E esse é o problema: nós já esperávamos. Nem sempre o fan service funciona durante um filme INTEIRO, principalmente quando faltam toques de originalidade na narrativa e todos os gatilhos reconhecíveis desse universo já foram usados antes pelo mesmo diretor.

Você merecia mais, Rose.

Fazia todo sentido do mundo Abrams abraçar uma narrativa mais nostálgica e explorar todos os elementos reconhecíveis do universo Star Wars em O Despertar da Força. Depois de tanto tempo, estávamos voltando para uma galáxia muito, muito distante com a esperança de uma trilogia muito melhor desenvolvida do que a última no comando do criador George Lucas. Mas enquanto Johnson abraçou uma ousadia refrescante e deliciosa que abriu caminhos narrativos desafiadores para a franquia, Abrams retornou a trilogia para um caminho esperado e previsível que é muito pouco perto do potencial que a história vislumbrava.

Recentemente, Johnson comentou em sua participação no programa de rádio Swings & Mrs que entregar exatamente o que o fã espera é um erro — e ele não está errado. É divertido quando existem pequenos acenos aos fãs, mas está longe de ser desafiador quando um filme entrega exatamente o que esperamos. Ser surpreendido é muito mais divertido do que nadar em águas previsíveis. Esse é o momento perfeito para você reassistir a Os Últimos Jedi e valorizar um bom contador de histórias.

Algumas pessoas ficarão satisfeitas em ouvir a icônica trilha de John Williams pela última vez, ver o trio passando por lugares icônicos dessa mitologia e dar um adeus para Carrie Fisher, porque muitas pessoas realmente QUEREM ver isso e só isso. Entretanto, para quem vai ao cinema querendo um pouco mais, Star Wars: A Ascensão Skywalker soa como outro passeio pelo passado, quando o que queria mesmo era me aventurar por um lugar novo e inexplorado.