RESENHA! Pantera Negra

Um filme que, assim como Mulher-Maravilha, ajuda a mudar e definir a maneira como encaramos esses tais filmes “de super-heróis”

Pois você se prepare pra ler internet afora e ouvir em lugares que você definitivamente não deveria frequentar coisas como “ah, mas os próprios negros escravizam os negros”, alguma coisa relacionada a ser um filme “anti-brancos”, aquela história imbecil de “racismo reverso” e demais passadas de pano racistas quando o assunto for Pantera Negra.

No mundo em que vivemos esse é o tipo de coisa que vai, infelizmente, acontecer pra caralho. É um mundo que acredita que justiça social é algo ruim, que diversidade não importa, que não faz a MENOR ideia do que significa representatividade pelo simples fato de não conhecer, pelo menos, o conceito de empatia — todas coisas que se fazem NECESSÁRIAS pra conseguir entender, absorver e curtir o mais novo filme da Marvel Studios.

Porque, olha só, Pantera Negra é, no verbo “cinema”, um filme bom. Não só uma das melhores histórias de origem desses filmes todos, mas também uma história que estabelece T’Challa — e todo o seu Mundo — como um dos personagens mais importantes do Universo Cinematográfico da Marvel.

Tem o melhor elenco de todos os oitocentos filmes do MCU lançados até o momento, os melhores personagens — a Shuri, vivida por Laetitia Wright, é absolutamente sensacional! Insuportável como todos os irmãos mais novos, mas autoconsciente pra caralho e um carisma absurdo, além de uma cientista / inventora genial que, se tudo der muito certo, vai inspirar muitas garotas vida real à fora.

Shuri, vivida por Laetitia Wright

Nakia, o ~interesse amoroso vivido por Lupita Nyong’o, é independente e apaixonante, enquanto Danai Gurira entrega uma Okoye, líder das Dora Milaje, maravilhosa o suficiente pra que torçamos pra que ela faça o que consideramos ser o certo a ser feito... Enquanto aceitamos tranquilamente a sua decisão de ser leal ao Reino do Wakanda, acima de tudo.

E, embora eu saiba que isso não é exatamente muito difícil, Pantera Negra tem também um grande vilão. Não o Ulysses Klaue, que é legal e fica ainda mais interessante por ser o Andy Serkis mostrando a cara, mas sim Erik Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan.

Tá, eu sei que “vilão dos filmes da Marvel” é algo que não é muito difícil superar, mas eu tou falando de um personagem tão bom quanto o Zemo de Capitão América: Guerra Civil. Personagens com camadas e motivações reais, que não fazem o mal por gostarem ou porque se acham os heróis daquelas histórias. São pessoas magoadas, com raiva e, no caso de Killmonger, um personagem que por mais que faça as coisas do pior jeito possível, tem lá o seu QUINHÃO de razão — é realmente impossível odiar o cara ou não entender exatamente o quê e por quê, ele faz o que faz.

Ponto pra direção de Ryan Coogler e pro roteiro que ele escreveu com Joe Robert Cole, que acaba atualizando e trazendo para os filmes a mesma dualidade dos líderes Martin Luther King e Malcolm X que baseou a criação dos X-Men, lá nos anos 60.

Danai Gurira e o diretor Ryan Coogler no set de Pantera Negra

Talvez Pantera Negra, como filme do verbo cinema, seja um pouco didático demais? Sim. Mas não tinha como ser diferente quando se estreia nesse momento, nesse mundo. Pantera Negra é muito mais do que um filme com super-herói; é, ao lado de Capitão América: Soldado Invernal, EXTREMAMENTE político na história que conta e, mais ainda, com quem ele conversa dentro da sala de cinema. É uma história profunda demais e, sem aquela empatia e noção de importância de representatividade, fica muito difícil conseguir entender o filme — e é justamente por isso que Pantera Negra pega na mão da galera, senta do lado e tenta explicar o que é cada uma dessas coisas.

Porque Pantera Negra é muito mais que um filme. ;)

É uma mostra e explicação sobre a importância de se colocar no lugar do outro; do quanto ter bons exemplos, de poder se enxergar FISICAMENTE em algo que você admira, forma bons caracteres e um mundo melhor. Um mundo que se abre ao outro, àquele com menos oportunidades e recursos e estica a mão pelo simples fato de que, no fim das contas, ninguém é melhor do que ninguém e, mais importante ainda, somos todos iguais.

Não faço a menor ideia de em qual lugar eu vou colocar esse filme no meu ranking de Marvel Studios. Sendo muito sincero, é absolutamente diferente de tudo o que eles já fizeram, ainda que não seja tão artisticamente livre quanto Thor: Ragnarok, por exemplo. Pantera Negra é um filme que se destaca por ser algo novo e inédito, enquanto consegue se encaixar perfeitamente numa história que começou a ser contada dez anos atrás.

Pantera Negra é um filme que, assim como Mulher-Maravilha, vai mudar a maneira como enxergamos esses filmes. E eu espero que, como Mulher-Maravilha, defina esse “gênero”. O mundo em que vivemos precisa exatamente disso. E que bom que vivemos nesse mundo.