Ryan Penagos, vice presidente da divisão digital da Marvel, sabe quem é que vai interpretar aquele personagem, já viu o trailer, leu o gibi e jogou o que você não vê a hora de jogar e conversou com o JUDÃO sobre todos esses #seeekrits, séries de TV, gibis, parques de diversão e, claro, o seu trabalho dentro da Casa das Ideias
O gravador tava desligado quando, olhando pro alto e fazendo algumas contas, ele afirmou que, dali algumas horas, haveria algum anúncio, assim como na terça, quarta e quinta.
Naquele sábado, Marvel VS. Capcom: Infinite foi anunciado oficialmente; na terça-feira, conhecemos a data de retorno e o arco que será explorado pelo restante da quarta temporada de Agents of SHIELD; na quarta-feira, o teaser exibido durante a CCXP avisou o mundo de que o primeiro trailer de Homem-Aranha: De Volta ao Lar sairia na quinta.
Ryan Penagos é vice presidente e editor executivo da Marvel Digital Media, além de uma das principais conexões entre os fãs e o Universo Marvel. É aquele cara que sabe quando um “HOT SCOOP!” é de fato real, mas não pode confirmar; que sabe quase tudo sobre futuro dos quadrinhos e filmes e séries, mas não pode falar; ele é o cara que divide com a esposa todos os #seeeekrits que conhece, e que milhões de pessoas fariam coisas inimagináveis pra conhecer.
“Eu acho ao mesmo tempo divertido e frustrante, para ser honesto” nos conta Penagos, em entrevista exclusiva ao JUDÃO realizada durante a comic con de São Paulo. “Todos têm aquela pessoa que está contando alguma coisa. E na maior parte das vezes são coisas inventadas, ou então é algo que uma pessoa ouviu de uma pessoa que ouviu de outra e que ouviu de outra, que era realmente informação seis meses atrás... e que agora não faz mais sentido nenhum. Eu tento não ficar muito bravo com isso, é da natureza das coisas, todos ficam empolgados e querem falar sobre as paradas. No fim do dia, tenho que lembrar que são pessoas falando da Marvel, sobre nossas coisas, e elas estão empolgadíssimas. E se elas tão empolgadas, é tudo que eu podia querer, que elas fiquem empolgadas e entrem na onda do que tamos fazendo. Se estão espalhando rumores, isso é ruim, mas eventualmente a verdade virá à tona. E os fatos vão surgir e a informação vai surgir. E tomara que elas continuem tão empolgadas quanto naquele momento em que elas ouviram e falaram sobre aquela coisa lá atrás”.
Quando The Rock ou Vin Diesel usam suas páginas no Facebook ou Instagram pra exibir uma foto de um filme, ou um trailer, as vantagens das redes sociais ficam bem claras pra todas essas empresas, que cada vez mais exigem presença online de seus contratados. Mas nem tudo é sempre assim tão bom. “Pra nós é muito importante. Uma ferramenta muito importante, mas também muito perigosa. Não que todos tenham este tipo de compreensão ainda, mas tem isso de revelar coisas que não era pra todo mundo saber, ou então com as quais nem todos tão alinhados ainda”, diz Penagos. “Eu sempre me preocupo com isso. Porque eu sei tanta coisa sobre tantas coisas diferentes que eles tão fazendo. Todos os filmes, todos os videogames, todas as séries de TV... E tenho que pensar: ‘o que o público sabe?’. E antes de fazer qualquer coisa, porque não quero ser o cara que vai soltar um spoiler, tenho que fazer todos pensarem desta forma lá dentro. Pense em quem você é, soltando estas informações, mas lembre que você está representando uma marca, uma empresa, da melhor maneira possível”
Mais conhecido por aí como Agent M, Ryan é o responsável por uma das respostas mais sensacionais da história das mídias sociais, um “Dammit, Hydra”, pouco depois de o trailer de Vingadores: Era de Ultron, cair nas internets, há pouco mais de dois anos. “Eu estava cercado de pessoas com as quais tinha que falar, cheguei com algumas ideias, todos toparam esta e colocamos no ar. E isso se tornou uma forma de ‘acalmar a tempestade’, de entender que isso acontece e temos que seguir em frente” conta. “Não dá pra ser sempre deste jeito, fazemos o nosso melhor. É duro. Mas vão ter muitas outras vezes, num dia qualquer, em que as pessoas vão me marcar e eu só direi ‘OK’. Não vou dizer nada. RISOS.”
Penagos foi uma das primeiras pessoas contratadas para o time digital da Marvel, há cerca de 10 anos — um time, que, hoje, ele nem sabe exatamente quantas pessoas tem. “Cuidamos de quadrinhos digitais, videos digitais, conteúdo digital, mídias sociais, videogames meio que entram neste meio... É muita gente”.
“Antes da Marvel, eu trabalhava na revista Wizard”, conta Penagos. “Lá eu trabalhava com o guia de preços dos quadrinhos e coisas assim. Mas eu era principalmente o contato da Wizard com a Marvel Comics, mais ou menos como o grande repórter da Wizard especializado em assuntos Marvel, fui construindo ótimos relacionamentos. Um dia eu tava visitando a Marvel, usando uma bermuda camuflada, camiseta de banda de heavy metal, falando com os editores e casualmente fazendo o que eu fazia, e aí um dos vice-presidentes me chamou no seu escritório. Eu o conhecia há muitos anos, era algo casual, mas acabou sendo uma entrevista de emprego, assim, sem qualquer aviso. E em certo momento, eles disseram ‘queremos que você venha e crie conteúdo para o marvel.com'”.
“Eles queriam ter as próprias notícias lá, suas próprias entrevistas de bastidores. Conteúdo que serviria de suporte, naquela época, para os quadrinhos. Falando um pouquinho dos brinquedos, um pouquinho das animações, mas muito pouco dos filmes. Mas também, era 2006, era muito cedo ainda”, conta. O Universo Marvel ainda era um sonho, o twitter mal existia... “É interessante porque as mídias sociais vêm crescendo ao longo deste meu tempo na Marvel. Todo o material da Marvel que está nas mídias sociais passou por mim ou eu ajudei a criar. (...) Aprender e crescer com estas plataformas me ajudou muito a chegar nas pessoas da empresa que não estavam nesta e dizer: ‘você tem que fazer isso, é muito importante'”.
Se você pega as séries do Netflix, é como se elas existissem num mundo só delas. Agents of SHIELD e Agent Carter tinham alguma relação com os filmes, formando tipo um outro mundo. Ainda assim, a Marvel insiste que está tudo conectado — o que Penagos disse gostar de pensar, também. “Tantas coisas podem acontecer, em tantos lugares, que você não necessariamente sabe sempre sobre o que tá rolando. Enquanto os Vingadores são gigantes, mundialmente, não necessariamente um cara socando bandidos em Hell’s Kitchen pode chegar ao conhecimento deles”, explica, relembrando um expediente comum nas HQs da editora, aquele negócio de que, por mais que estejam todos em Nova York, nem sempre o que rola no gibi de um impacta no gibi do outro.
Sabe aquilo que os leitores das antigas sempre pensaram, do tipo “mas cara, o Homem-Aranha acabou de salvar a cidade de um plano pra transformar todo mundo em lagartos gigantes, cadê os Vingadores ou o Quarteto?”. Pois é. ;)
“Eu gosto de pensar neles todos como conectados, mesmo com os Inumanos — com Agents of SHIELD a gente introduziu o conceito, veremos se e como isso vai ser transportado pra série deles”, afirma o VP. “Há muito potencial pra que eles se encontrem no meio do caminho, mesmo que os programas não mostrem”.
Ah, claro, Marvel’s The Inhumans, né. O filme que virou série, ou a série que não tem lá muito a ver com filme, sendo financiada e filmada em IMAX... E aí? “Eu sei muito sobre tudo isso, mas eu não sei o quanto eu posso te falar, pra ser sincero. A gente ainda não falou muito sobre isso”, despista, quando chegamos neste assunto. Ele reforça que não pode falar muito, nem mesmo há quanto tempo o projeto tá sendo desenvolvido – embora diga que não, não é algo que aconteceu do nada. “Jeph Loeb, que é o chefe de TV, e a galera que tá criando o show vão falar mais disso quando chegarmos mais perto”.
No entanto, seu lado fã de gibis e, em especial, da obra de Jack Kirby, se derrete em elogios a respeito do conteúdo que pode vir por aí. “Vai envolver a Família Real, que pra mim é a coisa mais legal do mundo — Raio Negro, Medusa, Cristalys, Karnak, Gorgon, Triton, Dentinho, Maximus, os quadrinhos envolvendo todos esses personagens são tão legais, eu amo esses personagens”.
Enquanto os Vingadores são gigantes, mundialmente, não necessariamente um cara socando bandidos em Hell’s Kitchen pode chegar ao conhecimento deles
Penagos ainda relembra outros projetos que a Marvel tá fazendo pra TV, como as produções das séries de Manto e Adaga (“Não temos nenhuma notícia sobre ela no momento”) e também a dos Fugitivos. “Acredite: tem tanta coisa sensacional acontecendo na televisão”, reforça.
Maaaaaaaaas... e sobre a Agent Carter, hein? “Eu tenho certeza que a galera do lado da TV tem ideias e maneiras que poderiam fazer acontecer”, diz, quando a gente OBVIAMENTE questiona sobre a possibilidade de termos um retorno das aventuras da fundadora da SHIELD. Ele tenta dar aquela quebrada nas nossas pernas, falando que a produção tem muitas partes e que alguns dos criadores / produtores executivos já entraram em novos projetos, além da atriz Hayley Atwell já ter entrado em outra série...“Que foi cancelada. Ela tá livre”, retrucamos na lata. :)
“Eu acho ela supertalentosa, eu queria que ela fizesse tudo. Mas nunca se sabe”, diz Penagos.
Existem muitas oportunidades... Se as coisas se alinharem novamente, seria sensacional
Você sabe, a Marvel ganha milhões com cinema, TV, bonequinhos, desenhos animados... Mas histórias em quadrinhos são, ainda, a base do que eles produzem, além de terem se transformado em um grande repositório de ideias e tendências que podem ir para outras mídias.
Os gibis também fazem parte do dia a dia do Agent M. Penagos é um dos responsáveis pelo podcast This Week in Marvel, que meio que o obriga a ficar de olho em tudo que o lado editorial está publicando. “Há cinco anos, por aí, nós começamos o programa e eu disse ‘se eu quero fazer um podcast, semanalmente, tenho que ler todas as revistas’. Geralmente eu leio todas as revistas de qualquer jeito, para ser capaz de falar sobre elas de forma inteligente”, explica. No entanto, ele diz que “é trabalho, mas eu amo quadrinhos, leio desde os meus seis anos de idade, eu amo. Sempre haverá revistas que gosto mais do que outras, sempre vai acontecer. Mas, por sorte, eu realmente amo o trabalho que publicamos. Isso ajuda”.
Eu tenho que ler todas as revistas
Tudo isso que Ryan lê semanalmente não é a mesma coisa que os brasileiros estão lendo por aqui – não, ao menos, para a maioria de nós, que acompanha as revistas mensais da Panini. Há um delay entre o que sai lá nos EUA e o que tá acontecendo aqui, que hoje está por volta de um ano. Esse atraso já foi maior, mas tem muita gente que sonha poder ler, em português, o que tá sendo publicado neste exato momento pela Marvel Comics. A Casa das Ideias, há alguns anos, chegou a dar o primeiro passo nesse sentido, lançando o app Marvel Global Comics (que trazia gibis em português, entre outras línguas, como o mandarim), mas a iniciativa foi silenciosamente esquecida. O app nem está mais disponível.
“Honestamente, eu não lembro a história especificamente. Eu lembro do aplicativo que você está falando, que traduzia para algumas línguas algumas revistas selecionadas”, revela Ryan Penagos. “Eu não sei se o negócio funcionou, no sentido daquele app especificamente. Mas eu não acho que as portas estão fechadas para oportunidades como essa no futuro”.
Ok, não foi pra frente. Entendemos. Mas será que a ideia está morta e enterrada? “Eu não quero falar de uma forma ou de outra, porque não tenho todos os fatos, não quero falar sem saber. Mas eu acredito que nós, obviamente, damos muito valor para o mercado brasileiro e a América Latina – o mundo é muito importante para nós. Então definitivamente nós vamos encontrar formas de fazer isso”.
Se você pensar bem, a Marvel Studios já faz isso, lançando seus filmes (quase) ao mesmo tempo em todo o Mundo. No entanto, é na parceria com o Netflix que esse formato de distribuição mundial encontra seu ápice, com as séries da Casa das Ideias saindo simultaneamente em cerca de 200 países ao mesmo tempo. Só que, infelizmente, HQ é um pouco mais complicada que uma série de TV.
“Eu adoraria ter todos os nossos quadrinhos para todo mundo no mesmo dia. Só que nós lançamos cerca de 80 revistas por mês, em inglês. Então, pra ter todas elas traduzidos para outras línguas antes do lançamento, o pessoal de produção tem que ter certeza que consegue lidar com isso. Eu acho que seria incrível”. Apesar de toda essa dificuldade, o Agent M acredita que o pessoal que cuida do editorial está de olho nisso, procurando uma forma de resolver essa equação.
Agora, você acha que chegar aqui e ver que os brasileiros estão lendo algo que ele já viu há mais de um ano assusta o Penagos? Que nada: ele ficou empolgado ao ver que todo mundo aqui está acompanhando Guerras Secretas. “Eu amei tanto Guerras Secretas porque sou fã das HQs ‘O Que Aconteceria Se...?’ e de histórias malucas”, explicou. “Saber que vocês têm isso agora me deixou empolgado sobre essa história”, disse. “Mas tenho a esperança que, em algum momento, vocês estejam lendo ao mesmo tempo que nós”.
Naquele momento, Ryan Penagos contava os minutos para o painel que apresentaria no evento, focado na Marvel Comics. No papel, ele havia preparado um conteúdo relacionado diretamente ao que a editora está publicando atualmente no mercado americano, até porque, antes de chegar aqui, ele nem sabia o que está saindo pela Panini. “Eu vou mostrar pra vocês coisas que vocês não devem ver por vários meses, o que, pelo outro lado, é muito legal pode mostrar pra vocês porque isso é coisa nova”.
Pena que, na prática, o painel não foi tão legal assim. Não por culpa do Agent M, nem dos quadrinistas presentes no painel, que fizeram o que eles sempre fazem em uma comic con. Mas ficou claro, na hora, que a maior parte do público estava viajando sobre o que rolava no palco. Uma parte provavelmente porque, bom, não está acompanhando o atual momento da Marvel Comics nos EUA. O restante – que devia ser a maioria – nem estava no auditório principal do evento por causa dos quadrinhos. Além disso, não rolou um Q&A, algo que é sempre a alma desse tipo de painel na San Diego Comic-Con e outros eventos do tipo nos EUA.
De qualquer forma, não foi nada que tirasse a empolgação de Penagos para falar de uma nova personagem da editora: Nina, The Conjuror, uma personagem brasileira que veio direto dos anos 1950 e surgiu nas páginas de Doctor Strange and the Sorcerers Supreme #1, publicada em outubro. A origem da heroína ainda será explorada na edição 4 da mesma revista.
Nina se junta a um ROL de personagens brasileiros que, apesar de ainda pequeno, vem crescendo em importância. O Mancha Solar, mutante que já aparece nas publicações da Casa das Ideias há algumas décadas, atualmente é o líder de uma das versões dos Vingadores, chamada de USAvengers, por exemplo. Mas, por que será que isso está acontecendo?
“Eu acredito que é apenas natural... Nós, quem nós somos culturalmente, nós somos uma força de trabalho muito diversa na Marvel. E olhamos para nossos criadores, artistas, roteiristas... Todo mundo que está envolvido na criação das histórias vêm de diversos lugares”, explica Penagos, também lembrando que o atual cenário é bem diferente dos primórdios da editora. “Lá atrás, nos anos 1960, você tinha a Marvel Comics, a redação, e os roteiristas e a equipe de arte era bem local. Agora é insano. Quando você olha pra Amazing Spider-Man, Dan Slott, o roteirista, está em Nova York, mas Humberto Ramos está no México. Tem gente em vários lugares do mundo. Giuseppe Camuncoli está na Itália... Todo mundo pode vir de qualquer lugar”.
Ele continua: “Por aqui eu conheci o Leonardo Romero, que está agora trabalhando na Gaviã Arqueira pra nós, e ele é daqui. Danilo Beyruth, que é daqui. São quadrinistas incríveis. Nós precisamos trazer as perspectivas deles, as ideias deles, a cultura deles, as experiências deles, para as nossas revistas. É natural. É mais do que isso: está acontecendo por causa de quem nós somos e por causa de quem está trabalhando no conteúdo do que qualquer coisas”.
Mesmo sendo um processo natural, orgânico, há quem aponte o dedo e diga que a Marvel está forçando a barra, procurando ser politicamente correta, que a editora está desesperada para vender gibis ou algo assim. Só que o Agent M rechaça que isso seja uma estratégia apenas para atingir um público específico.
“Eu não sei se esse é, necessariamente, o objetivo, tentar trazer mais leitores brasileiros. Eu acho que é mais porque essa personagem ser brasileira. Nina, The Conjurer. É quem ela é. Ela é uma feiticeira, ela é incrível. Vocês viram os designs dela? Ela é uma personagem muito legal”, explica. “Essa foi uma história que o roteirista, Robbie Thompson, e o artista, Javier Rodriguez, pensaram. Isso é mais importante para a história e para os mundos que eles estão construindo, e para as histórias futuras que eles querem contar. Não estamos tentando dizer ‘hey, Brasil, olhe para o que fizemos’. Não é quem somos. As histórias são as coisas mais importantes”.
Para explicar melhor essa dinâmica, Penagos nos lembra de algo importante: os personagens têm vida. Eles podem não existir fisicamente, mas existem nas mentes de seus criadores, surgindo de uma forma inquieta e procurando o caminho pra fora, para serem revelados ao mundo. “Quando eles acham esses personagens... – ou, às vezes, são os personagens que os encontram seus criadores. Essas coisas acontecem, esses personagens se manifestam em suas histórias, e eles têm pouco controle do que estão contando. É quase como se esses personagens estivessem dizendo a eles o que fazer. É mais sobre isso do que nós tentando chegar no público”.
Caímos nessa questão de diversidade. Por isso, era hora de entrar em um assunto que fatalmente tiraria Penagos do eixo: Donald Trump. É que, durante a última San Diego Comic-Con, o editor-chefe da Marvel, Axel Alonso, falou sobre como os quadrinhos deles são uma forma de mostrar o que acontece para além de nossas janelas, no mundo. E nada mais que um reflexo do que o mundo está se tornando do que a última eleição presidencial dos EUA.
Costumam dizer que esse é o caso: se as pessoas estão apreensivas, as coisas que elas produzem são mais carregadas. Então, eu espero, nós vamos ter bons e artísticos chutes na bunda
“Eu vou fazer o meu melhor para ficar longe de política”, respondeu Penagos, obviamente incomodado por, de uma forma ou de outra, se ver nessa situação – mostrando que a pergunta, no final das contas, deu certo. “Mas eu acredito que isso irá acontecer naturalmente. A atmosfera política e ambiente no qual os quadrinistas vivem, as situações nas quais eles se encontram, isso vai vir à tona de alguma forma. Se é mais aparente, ou se é mais sutil, vamos ver. Nós temos, teoricamente, quatro anos de qualquer coisa que pode acontecer com o nosso próximo presidente”.
“Histórias são contadas, e podemos olhar para as histórias nas quais o presidente Obama estava. Não acho que o personagem mudou muita coisa que fizemos, o presidente e suas políticas, mas havia mais esperança. Vamos tentar ver o que fazer e, talvez, nós busquemos produzir uma grande arte e histórias muito interessantes. Costumam dizer que esse é o caso: se as pessoas estão apreensivas, as coisas que elas produzem são mais carregadas. Então, eu espero, nós vamos ter bons e artísticos chutes na bunda”.
Ryan Penagos é o cara da Marvel. Sabe tudo que tá rolando nas revistas da editora. Mas, será que ele sabe algo do que é publicado Brasil? Bom... não. Não à toa, ele postou, no Instagram, um vídeo da Mônica Jovem fazendo cosplay da Sailor Moon na comic con daqui – tudo numa daquelas fantasias da personagem brasileira com aquele enorme cabeção com os olhos se mexendo, sabe? “Eu achei que era uma Sailor Moon estranha”, nos confidenciou.
“Não sei muita coisa, pra ser honesto. Ou não é traduzido ou... Pra ser honesto, eu leio tudo que a Marvel lança, toda semana. É muita coisa, às vezes 20, 25 edições por semana. Eu não tenho muito tempo para ler os outros gibis que quero, outras histórias. O lado bom é que posso ler HQs o tempo todo de graça, o ruim é que eu direciono mais para as coisas relacionadas ao trabalho. Meus hobbies tendem a ser fora dos quadrinhos, na maior parte das vezes. Então eu não faço muita leitura casual”.
É, Ryan Penagos pode ter um dos trabalhos mais divertidos do mundo, que inclui ler uma CARALHADA de HQ, mas ninguém disse que é fácil – nem que não exige certos sacrifícios. Ao menos, agora, ele já sabe quem é a Mônica. ;)
Durante a E3 desse ano, a Sony anunciou um novo jogo, exclusivo para o PS4, protagonizado pelo Homem-Aranha. Chamado apenas de Spider-Man ou Spider-Man PS4 Game muito pouco ou quase nada sobre ele foi divulgado até agora. Sabemos que tá sendo desenvolvido pela Insomniac, responsável por Spyro, Ratchet & Clank, Resistance e Sunset Overdrive, que trata-se de uma história original se passando em uma Nova York “aberta” para exploração e que vai ser possível brincar de parkour e explorar os aspectos civis e super-heróicos do personagem.
E, bom, é essencialmente isso que saberemos por um bom tempo, de acordo com Ryan Penagos, já que o jogo ainda tá longe de ser lançado. “Eu já vi toneladas de designs, e a direção que eles tão seguindo, a história, os personagens...” se derrete Penagos, que assume gostar mais de joguinhos estilo videogame do que qualquer outra coisa. “As pessoas envolvidas com isso, do lado da Marvel, eles tão tipo... É isso. Eles tão sentindo que é a mesma coisa que assistir ao primeiro filme do Homem de Ferro. Eu acho que o mesmo sentimento que você vai ter quando jogar Homem-Aranha no PS4”.
O pessoal da Marvel, que vive e respira esses personagens, tá fazendo filmes. Agora o pessoal da Marvel que vive e respira esses personagens tá fazendo jogos
Pera, calma. Oi? “Sim, e eu digo isso entendendo perfeitamente o que significa. O fator WOW... Eles finalmente entenderam o que fazer em termos de conseguir atingir todo mundo, mas atingindo especialmente o fã da Marvel bem no coração. É o personagem que você amou sua vida toda e você vai jogar com ele” diz, sem parecer preocupado, Penagos. “Ainda tem muito tempo pra eles estragarem tudo, mas eu não acho que isso vai acontecer. O pessoal tá fazendo um trabalho incrível, e é sensacional porque o estúdio em que eles tão trabalhando fica a uns 10mins da equipe de jogos da Marvel, então eles tão constantemente juntos”, conta.
“O DNA da Marvel é muito forte no jogo, não é como ‘ok, aqui tá o Homem-Aranha, vão lá e façam um jogo depois mostrem pra gente como ficou’. É por essa razão que eu acho que os filmes dão tão certo: o pessoal da Marvel, que vive e respira esses personagens, tá fazendo filmes. Agora o pessoal da Marvel que vive e respira esses personagens tá fazendo jogos. Essa é a parte mais empolgante”.
A Marvel, definitivamente, não sabe quando parar — e não que isso seja ruim, claro. “Tem tanta coisa a mais pra gente fazer, seja com Homem-Aranha ou além... É muito foda. A última vez que eu visitei o escritório da Marvel Games, cheguei todo ‘e aí mano, como tão as coisas?’ e eles ‘aqui, tó, eu vou te mostrar tudo’ e eu fiquei ‘GREEEEAT'”, nos conta realmente empolgado. “É tipo andar nas nuvens, porque eu sei o que nós tamos fazendo e o quanto isso é importante pra eles, e quão especial é pros fãs”.
Além dos joguinhos — que já tão bem estabelecidos nos celulares e tablets — a Marvel quer também dominar as “experiências ao vivo”, começando com a Iron Man Experience, na Disneyland de Hong Kong. “O fã da Marvel pode não conseguir visitar facilmente, mas eu acho fascinante e importante, porque eu amo ir aos parques da Disney. Eu já fui pra DisneyWorld uma vez esse ano, em Orlando, pra DisneyLand na Califórnia umas três vezes...”, conta Penagos. “Eu gosto de ir e nós temos uma equipe, de entretenimento, que tem muitos projetos, tipo o Mission Breakout, que a gente mostrou em San Diego, algumas coisas de bastidores, como o elenco do filme se envolveram e é muito legal. Eu tou empolgado. Meu estômago não gosta muito desses brinquedos que sobem e descem, mas eu quero experimentar...”
Mission Breakout, no caso, é o Guardians of the Galaxy: Mission Breakout, que assume o lugar da Tower of Terror no Disney California Adventure, estreia no ano que vem. ;)
“E a gente ainda tem brinquedos e atrações em Dubai, num centro de entretenimento gigante, coberto, com toda uma seção de atrações da Marvel. Tá ficando bem legal e, como tudo que é da Marvel, nós tamos sempre pensando no que vem a seguir, qual o futuro” conta.
Antes de ser comprada pela Disney (notícia que ele recebeu da própria mãe, que ligou pra ele no seu escritório antes mesmo de ele chegar), a Marvel já tinha algumas atrações nos parques da Universal em Orlando e na Califórnia — o que, aliás, impede que coisas como o Iron Man Experience rolem nos EUA. Mas, você sabe... Brasileiro não diz que vai pra Orlando, ou Califórnia, diz que vai pra Disney.
Titio Mickey Mouse é meio que CONHECIDO por esses parques, né?
Isso não significa, porém, que as coisas tenham mudado muito na Marvel depois disso — tirando, claro, as oportunidades. “É um grupo dentro do time de entretenimento da Marvel que pensa em experiências ao vivo. Então tem parques, mas tem também a meia-maratona que a gente faz na Disneyland, com corridas baseadas na Marvel, com os personagens; tem o Marvel Universe Live, um show de acrobacias itinerante, que eles ajudaram a supervisionar criativamente... Há uma variedade de coisas diferentes. Meio que se você vir algo ‘ao vivo’, eles vão estar envolvidos”, explica o Agent M.
Esse mesmo pessoal que, por enquanto, trabalha com os principais nomes da empresa, mas tem o conhecimento necessário pra visitar os lados mais obscuros do Universo Marvel — como já foi, aliás, com Guardiões da Galáxia. “Na Disneyland, na Califórnia, agora tem uma seção onde você pode tirar foto com o Homem-Aranha, Doutor Estranho e tem tipo essa delegacia, com a câmera do Aranha presa na parede com teia, uma parte com pôsteres de shows... Nesses, tem uma banda que é de um gibi dos anos 1980, que muito pouca gente vai reconhecer”, conta Penagos. “Brian Crosby, líder do nosso time de entretenimento, viu um post no meu instagram daquele quadrinho e veio todo ‘você sabia que eu coloquei isso no California Adventure?’ e eu fiquei tipo ‘Por que você faria isso? Eu amei! Acho fascinante, maravilhoso! :D'”
“As possibilidades estarão lá, precisamente porque você tem pessoas que vivem e respiram Marvel trabalhando nessas coisas e elas vão encontrar maneiras de encaixar personagens que nem todo mundo sabe de maneiras que sejam interessantes, inesperadas e muito legais”. Ryan Penagos, o Agent M, tava falando sobre os parques temáticos, mas explica a cultura pop nesse momento. :)