Sexo teen amador live XXX: quem está do outro lado da tela? | JUDAO.com.br

Garotas impreterivelmente novas, com idade a partir de 18 anos. Aos 21, já são consideradas veteranas ou “passadas”. A regra silenciosa do mercado atual, inclusive, torna MILFs meninas de 25 anos.

Todo mundo já viu pornografia. Alguns amam, outros gostam, muitos simplesmente não resistem e os que sobram não entendem como alguém consome algo que deprecia tanto o ser humano para se chegar ao produto final em questão. Não sou hipócrita e assumo que esse assunto sempre foi nebuloso na minha cabeça, a despeito do consumo mais ou menos intenso desse material em momentos diferentes da minha vida.

Nasci em 1980 e minha adolescência se deu nos anos 90, de tal forma que, na minha época, consumir esse tipo de filme dependia de um intrínseco plano de receptação e deslocamento de fitas VHS reproduzidas pela centésima vez, as tais “cópias da cópia”, cujas imagens eram uma merda, em termos técnicos e de produção.

Este texto, no entanto, não é para falar das minhas aventuras onanistas, mas sobre as meninas que entram no mercado audiovisual do sexo e as mulheres que nunca mais vão sair dele, mesmo quando fora, por opção ou ocaso.

Abaixo, pra introduzir o assunto, o tweet da psicanalista e escritora Regina Navarro Lins passa um pano ilustra bem a profundidade da relação sexo-imagem e de nossas projeções quando o assunto é fantasiar e construir cenários nas relações dos outros para nosso próprio prazer.

Ela cita Alfred Kinsey, o zoólogo americano que fundou o primeiro instituto de pesquisa sobre sexo do planeta, em 1947, cujos estudos sobre a sexualidade humana influenciaram profundamente os valores sociais e culturais dos EUA. No entanto, a sociedade, como bem sabemos, é desigual e, no caso da pornografia, pende pesado pro lado masculino.

O homem, nesta indústria, segue uma carreira onde é o ser dominante, o manja foda, que doutrina e coordena a ação. É também o grande consumidor dos filmes pornôs, que seguem as ondas de cada momento. De simular uma ilusão de prazer às mulheres, como no clássico Garganta Profunda, de 1972, onde a protagonista tem uma anatomia “peculiar”, com o clitóris localizado na glote, à atual tendência de submissão, da bondage às cenas de abuso, focadas em garotas latinas, asiáticas, negras e outras “minorias” desta indústria, essencialmente, branca.

A gente pode falar muito sobre isso, dá até pra argumentar que não é bem assim essa história de mundo masculino, uma vez que jamais veremos uma atriz deste ramo afirmando que faz o que faz por outra razão que não seja sexo, além de grana. Fora que as grandes estrelas deste mercado são as mulheres.

A Culpa é das BUCETAS

Na verdade, eram. Além da corrente de submissão, vivemos a era dos filmes protagonizados por “amadores”. Um cara com uma câmera na mão filma em “point of view”, o tal POV, um sexo em primeiríssima pessoa com garotas impreterivelmente novas, com idade a partir de 18 anos. Aos 21, já são consideradas veteranas ou “passadas”. A regra silenciosa do mercado atual, inclusive, torna MILFs meninas de 25 anos.

É nessas que indico aqui o documentário Hot Girls Wanted, produzido heroicamente por ninguém menos que a nossa querida Rashida Jones, aquela linda de Parks & Recreations. O filme, que estreou no Festival de Sundance deste ano, exibe, na mesma tela onde a rapeize consome a putaria, a história de meninas iludidas com a ideia de estrelato, fortuna e fuga do tédio inerente à existência humana. É de cortar o coração. Se você tem uma menina na família, vai querer se implodir.

Antes que a culpa em nossas cabecinhas venha buscar explicações, como “ah, mas isso é um fenômeno atual, até pouco tempo muitas mulheres eram superstars da indústria, se deram muito bem por décadas”, Um nome enfraquece esse argumento: Linda Susan Boreman. Conhece? Que tal Linda Lovelace? Sim, a estrela do já citado Garganta Profunda, apenas um ano após o lançamento do filme, quando finalmente conseguiu se livrar do marido, contou ao mundo que havia atuado no filme obrigada, sob ameaças de morte por parte do ex-cônjuge.

Para não pagar de falso moralista neste distinto espaço, aproveito para indicar um segundo filme: After Porn Ends. Nele, estrelas descomunais da indústria nos anos 80, 90 e 2000 mostram que, mesmo que não seja lá essas coisas, existe vida quando o pornô acaba. Pelo menos para as pessoas que sobrevivem a isso.

Escrevi a coluna desta semana para indicar esses dois filmes, mas, enquanto escrevo, me veio à lembrança uma notícia que li um tempo atrás, sobre uma pesquisa que diz que “homens que passam muito tempo vendo pornografia na internet parecem ter menos matéria cinzenta em certas partes do cérebro e sofrem redução de sua atividade cerebral”.

The Clitoris“Encontramos um importante vínculo negativo entre o ato de ver pornografia durante várias horas por semana e o volume de matéria cinzenta no lóbulo direito do cérebro, assim como a atividade do córtex pré-frontal”, é o que escreveram em seu estudo os cientistas do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, localizado em Berlin.

Assustador, né?

Fora isso, não dá para ignorar a tragédia que ser educado sexualmente pelo mundo pornô traz pros meninos e meninas desse mundão.

Bom, pra fechar esse lero, é importante a gente lembrar, consumindo ou não os milhões de vídeos pornográficos que abundam internet adentro, as diferenças tão importantes entre realidade e fantasia, que deve comprometer a vida sexual de muita gente por aí.

E sabemos que nunca termina bem esse negócio de confundir ficção com a vida besta que a gente leva. ;)