Stanley Kubrick e a falsa gravação do pouso na Lua | JUDAO.com.br

NA SEMANA em que celebramos 50 anos da chegada do homem ao seu satélite famoso, vale relembrar uma das mais famosas teorias da conspiração a respeito do fato

Apesar da internet disseminar teorias da conspiração de uma forma assustadoramente rápida, a descrença sobre o pouso na Lua, que ACONTECEU 50 anos atrás, em 20 de Junho de 1969, existe há décadas. Mais precisamente, desde 1974, quando Bill Kaysing publicou o livro We Never Went to the Moon — que, traduzindo livremente pro português, significa “Nós Nunca Fomos para a Lua”, algo que um em cada QUATRO Brasileiros de fato acredita, de acordo com o Datafolha.

Os anos de 1960 e 1970 foram bastante complicados para a confiança da população no governo dos EUA, já que existiram episódios envolvendo farsas de políticos, como a continuidade desnecessária da Guerra do Vietnã e o caso Watergate. Sem confiar em qualquer informação que o governo americano divulgava, não foi difícil disseminar essa história entre um público já bastante cético.

Entre diversas versões da teoria, uma das mais famosas é que o pouso foi encenado em set de filmagens de Hollywood com patrocínio da Walt Disney, baseado em um roteiro de Arthur C. Clarke e dirigido por Stanley Kubrick. Em outras palavras, juntaram um dos estúdios mais famosos da indústria cinematográfica, com os dois responsáveis por um dos filmes de ficção científica mais importantes e revolucionários do cinema: 2001 – Uma Odisséia no Espaço, lançado em 1968.

Um belo caldo para os conspiracionistas de plantão.

Nascido em 1917 na Inglaterra, o britânico Clarke ficou famoso por co-escrever o roteiro de 2001 com Kubrick, mas ele era antes disso um escritor de ciências que lançou mais de uma dúzia de livros e muitos ensaios sobre viagens espaciais. Em 1961, recebeu o Kalinga Prize, prêmio concedido pela UNESCO para pessoas com habilidade excepcional para apresentar ideias científicas para leigos, colaborando para a popularização da ciência. Definitivamente, isso não é pouco.

Apesar de Clarke não ser sempre ligado às bizarras teorias, Kubrick foi apontado por ter produzido grande parte das filmagens da Apollo 11 e 12 e por contar uma história ambientada na Lua, que apresentava efeitos especiais avançados para a época. Segundo a conspiração, enquanto 2001 estava em pós-produção no início de 1968, a NASA teria se aproximado secretamente do diretor para que ele dirigisse desembarques falsos na Lua. O lançamento e o splashdown seriam reais, mas a espaçonave permaneceria na órbita da Terra e os tais desembarques falsos seriam transmitidos como “ao vivo da Lua”.

Claro que nunca foi apresentada qualquer evidência (como costuma acontecer em casos assim, aliás), mas definitivamente foram ignorados alguns fatos importantes, como o de 2001 – Uma Odisséia no Espaço ter sido lançado ANTES do primeiro pouso da Apollo e a representação do diretor da superfície da Lua ser muito diferente das imagens “oficiais”. Até os movimentos dos personagens no filme são diferentes do movimento filmado pelos astronautas. Enquanto diversas cenas de 2001 mostram poeira se espalhando durante o pouso das espaçonaves, isso não aconteceria no ambiente de vácuo da Lua. Até mesmo as lentes usadas no filme e no pouso são diferentes.

O ponto é que essa teoria surreal acabou se tornando um estigma na carreira de Kubrick e ele permanece sendo associado ao pouso pelo simples fato de ser um diretor impressionantemente preocupado em criar avanços tecnológicos e revolucionários em seus respectivos trabalhos e no cinema em geral.

Em 2016, a compositora e cineasta Vivian Kubrick, filha do diretor, falou sobre a teoria envolvendo seu pai e o pouso na Lua. “Existem muitas conspirações reais que aconteceram ao longo da nossa história, mas afirmar que as aterrissagens na lua foram falsificadas e filmadas por meu pai? Eu não consigo entender isso!”.

Vivian, que trabalhou com seu pai em O Iluminado e Nascido Para Matar, expressou irritação com a história. “Eu vivi e trabalhei com ele, então perdoe a minha dureza quando afirmo categoricamente: a assim chamada ‘verdade’, que meu pai conspirou com o governo dos EUA para ‘fingir o pouso na Lua’, é manifestamente UMA MENTIRA GROTESCA”, afirmou em sua conta oficial no Twitter.

Fato é que a Apollo 11 foi a primeira missão tripulada a pousar na Lua e, apesar de 2001 – Uma Odisséia no Espaço ser impressionante, nada é mais fantástico do que REAIS avanços científicos feitos por homens e mulheres ao longo da nossa história. SCIENCE, BITCH!