Star Wars tá faturando UM MONTE nas HQs

Vendas astronômicas e um encadernado que vai vender cinco vezes mais que o habitual: o que está por trás disso?

Star Wars em quadrinhos não é novidade. Em 1977, quando pros brasileiros a saga da família Skywalker ainda se chamava Guerra nas Estrelas, a Marvel lançou o primeiro gibi lá nos EUA. Depois, essas histórias passaram um bom tempo nas mãos da Dark Horse, atingindo o ápice da qualidade e com ótimas críticas. Só que só agora, em 2015, essas HQs estão finalmente estourando.

Tipo muito. PRA CARALHO.

Pra você ter uma ideia, o primeiro encadernado da saga nesse retorno à Marvel, chamado Star Wars Vol. 1: Skywalker Strikes, que irá reunir as seis primeiros edições da revista mensal, deve vender algo entre 225 e 250 mil cópias, informa o ComicBook.com. O número é CINCO VEZES mais que o normal em um encadernado como esse, que teria algo entre 30 e 50 mil cópias. É muita coisa.

Mas... O que está por trás disso?

Primeiro, um detalhe importante: esses números são os de vendas para as comic shops, e não necessariamente para o consumidor final. Nos EUA não há retorno de gibis no mercado direto, e os lojistas efetivamente compram das editoras, assumindo um eventual encalhe. Mas, nesse caso, é de se imaginar que a aposta dos revendedores venha a partir de encomendas dos leitores, da venda das revistas mensais e, claro, do fato de que um encadernado “vive” mais tempo do que uma revista mensal, ficando na vitrine da loja por meses – inclusive para dar o retorno financeiro pretendido.

Depois, esse número é um reflexo das vendas da publicação mensal. Os gibis de Star Wars já venderam, desde janeiro, 5 milhões de cópias no mercado direto. Só a primeira edição chegou em 1 milhão. A conta é que, normalmente, entre 20% e 25% das vendas da primeira edição da revista mensal migram pros encadernados, estimativa que a HQ está mantendo com ~louvor.

Vale lembrar também que compilações possuem dois tipos diferentes de público: aquele que comprou a revista mensal (seja digital ou até mesmo a física), ficou amarradão e quer ter a versão encadernada; e aqueles que não leram todo mês, mas que ficam esperando um arco fechado pra ler tudo de uma vez. Esse segundo caso é potencializado ainda mais quando falamos de uma franquia tão forte com Star Wars, que tá no meio do hype ENORME de um filme vindo por aí.

Star_Wars_Vol_2_1

“Mas... No passado, as vendas eram tão boas assim?”. Já foram, sim, mas faz tanto tempo que quase foi numa galáxia muito, muito distante. Números de vendas dos anos 70 são bem obscuros, mas, o Comichron (que é especialista no mercado dos EUA) acredita que as três primeiras edições de Star Wars em 1977, a estreia da franquia nos gibis, tiveram tiragens de 1 milhão de exemplares cada, talvez mais. Porém, o preço de capa na época era 30 cents, o que daria uns 2,50 em dólares atuais. Star Wars #1, o de 2015, teve preço de capa de US$ 4,99.

Sim, já se foi o tempo em que histórias em quadrinhos era necessariamente um entretenimento ~barato.

Há ainda outra grande diferença entre 1977 e 2015, além do preço: lá na época da Disco o mercado colecionador ainda engatinhava, assim como as próprias comic shops. As vendas dependiam ainda das bancas e pontos de venda em lojas e supermercados, o que tornava a publicação mais fácil de ser encontrada, mas a editora ficava com o prejuízo. Também não havia dezenas de capas variantes pra fazer o mesmo leitor comprar vários exemplares – agora em janeiro, Star Wars #1 teve nada menos que SETENTA E QUATRO capas diferentes.

Os números são surpreendentes cada um ao seu modo, cada um por seus méritos.

Em 1987 a LucasFilm encerrou o acordo com a Casa das Ideias, migrando as publicações pra Dark Horse em 1991. Foi a partir daí que os gibis da franquia passaram aos poucos a ir além de histórias relativas aos filmes da trilogia original, entrando de cabeça no futuro e no passado do Universo Expandido. Só que uma editora menor tem menos poder de divulgação e de barganha junto aos lojistas que uma grande, fora que o hiato nos cinemas não ajudou muito.

Ok, nem mesmo o fim desse hiato ajudou. Em 1999, ano que Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma estreou, não tivemos um gibi da franquia entre as 100 revistas mensais mais vendidas em todo o ano. O encadernado da adaptação do filme em quadrinhos se saiu melhor: foi o segundo mais vendido, atrás de Batman: War on Crime. Um bom resultado, mas longe de ser incrível.

Você pode argumentar que A Ameaça Fantasma não é grande coisa, mas veja: Star Wars: O Despertar da Força ainda não estreou e já está motivando grandes vendas. E os resultados foram ainda piores quando Star Wars – Episódio II: Ataque dos Clones foi lançado: o melhor encadernado na lista de mais vendidos em todo o ano de 2002 foi um do Jango, em sétimo. 2005, ano de Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith, foi a mesma coisa, com o encadernado da adaptação do filme em sexto.

Na época da Dark Horse...

Na época da Dark Horse...

Já 2014, o último ano da parceria LucasFilm/Dark Horse, a despedida foi melancólica. O gibi da franquia mais vendido foi The Star Wars #5, da série criada a partir do primeiro rascunho do George Lucas pros filmes, que, com 44 mil exemplares, foi o 521º na lista geral do ano.

Por tudo isso, dá pra dizer que a influência do que tá rolando nos cinemas é menor do que a parceria com a própria Marvel. Mas há também um outro fator, um que nunca existiu antes: o fim do velho Universo Expandido.

Tudo o que a Dark Horse (e, antes dela, a própria Marvel) publicava era, de certa forma, histórias paralelas da franquia. Por mais que houvesse uma autorização da LucasFilm e do próprio George Lucas, nunca em nenhum momento foi dito que tudo aquilo fazia parte da franquia oficial. Poderia ser. Ou não poderia ser, caso Lucas quisesse visitar alguns daqueles momentos em seus filmes e séries.

Com o controle da Disney, isso mudou. O antigo Universo Expandido foi desconsiderado e, desde abril do ano passado nos livros e de janeiro deste ano nas HQs (ou seja, com o retorno da Marvel), tudo que é publicado com o nome Star Wars conta pra cronologia oficial, a mesma dos filmes (menos, claro, o que levar o selo Legends, que são continuações/republicações do antigo UE). Tudo isso é coordenado pelo LucasFilm Story Team, pra manter uma consistência e coesão. É provável que acontecimentos das HQs sejam comentados em outras mídias, em algum momento.

O leitor sente que aquilo que está acompanhando realmente conta, que vai fazer a experiência dele ao ver O Despertar da Força nos cinemas ser algo diferente, mais completo. Isso atrai um público novo, gente que não acompanha histórias em quadrinhos ou que deixou de acompanhar há algum tempo.

Até por isso, é de se imaginar que, na prática, o primeiro encadernado de Star Wars pela Casa das Ideias venda muito além dos 250 mil exemplares. É que esses números são das comic shops. Não compreendem livrarias físicas e online, onde o título vai atrair ainda mais leitores esporádicos.

Star Wars só em quadrinhos em 2015 já rendeu US$ 21,2 milhões em faturamento pra Marvel e LucasFilm, numa conta rápida. Mais uns US$ 2,4 milhões com o primeiro encadernado no mercado direto. Em sete meses.

Se tinha algum maluco que achou que o Mickey pagou muito ao tirar US$ 4,05 bilhões do bolso pela LucasFilm, já pode mudar de ideia...