Fizemos uma seleção especial de quadrinhos lançados no ano que termina pra garantir que o ano que começa já tenha um pontapé inicial de responsa
Pra quem gosta de gargalhar, pra quem curte se acabar de chorar, pra quem prefere se assustar ou pra quem tá apenas atrás de uma boa diversão sem qualquer compromisso, 2017 foi um ano PRÓDIGO para as histórias em quadrinhos. Nacionais, diga-se.
O que teve de autor dando as caras, arriscando lançar aquela obra há muitos anos engavetada, ralando contra todas as chances numa campanha de financiamento coletivo, e também de editora, dos mais variados tamanhos, parando de ter medo de investir em gibi 100% nacional... Gente, foi LINDO de ver. E mais lindo ainda de LER.
Aqui no JUDAO.com.br, você viu a gente falando sobre algumas destas obras, batendo papo com os artistas em formato texto ou no microfone do Asterisco. Justamente por isso, resolvemos fazer este apanhado de alguns títulos lançados em 2017 e que você devia MESMO conferir. Caso não role fazer isso nos próximos dias, tá tudo bem, fica aí a dica pra você garantir que 2018 já começa com uma listinha bem da interessante.
Escolha os seus e... BOA LEITURA! <3
Depois do P&B com tons de amarelo inspirado nos contos de Robert W. Chambers e da reinterpretação com pequenos detalhes em verde para os terrores antigos de Lovecraft, a editora Draco chega com o fechamento da trilogia – e que é, de longe, o seu momento mais inspirado.
A cor da vez é o vermelho, dando o toque profano às histórias sobre a invocação mágica dos seres das trevas que teria surgido com o Rei Salomão e se popularizado com ninguém menos do que Aleister Crowley. Histórias macabras sobre corrupção e traição, para quem tem estômago forte, por Daniel Canedo, Caio H. Amaro, Flávia Lima, Juscelino Neco, Erick Santos Cardoso, Kaji Pato, Tiago P. Zanetic, MJ Macedo, Alexey Dodsworth, Lucas Chewie, Airton Marinho, Victor Freundt, Antonio Tadeu e Ioannis Fiore, com organização de Raphael Fernandes.
Pode ser comprado no site da editora.
Premiado e elogiado depois de seu excelente Yeshua Absoluto, é natural que o mais recente trabalho de Laudo Ferreira, agora em parceria com André Diniz, chegue cheio de pompa e circunstância – e apesar das diferenças, este Olimpo Tropical faz jus ao que o leitor fiel esperava dele.
O tal “Olimpo” é uma favela carioca, dominada pelo tráfico de drogas. É o local no qual Biúca, adolescente que nasceu com uma perna maior do que a outra, encontra uma chance de redenção. Motivo de tiração de sarro por ser obrigado a usar uma bengala, ele é promovido à vigia, o responsável por meter bala na polícia se os oficiais tentarem invadir o local pela única escadaria de acesso. Descrito como uma “tragédia particular”, este gibi tem muito de corrupção policial (claro) e de oportunidades + sonhos perdidos. Pode ser comprado no site da Marsupial Editora.
Primeiro volume de uma nova série de quadrinhos escrita por Alexandre Cavalo Dias, de quem muita gente deve se lembrar bem mais como o guitarrista das Velhas Virgens.
Neste capítulo inaugural, batizado de Os Crimes do Castelo, a experiência dele como ex-seminarista se junta à do ex-testemunha de Jeová Danyael Lopes pra contar a história de Monalisa, Barba e Gerúndio. O trio terá que que impedir que uma maldição extermine uma família inteira, tudo por causa de um demônio que continua sedento por sangue.
Imagina aí um Supernatural só que com muito mais cerveja, sangue e tatuagens. Tipo como se a gente tivesse dois Dean Winchester ao invés de um só. Meio isso. ;)
Quem quiser, pode comprar o gibi no site da Gabaju Records.
Escrita e ilustrada por Luiza McAllister e Thiago Lehmann, Plumba conta a história uma menina que sai da sua cidade natal em uma aventura para conseguir o Armagedon 3.000, um machado mágico, conhecendo lugares fantásticos e criaturas impossíveis.
É uma história em quadrinhos, sim, mas uma em que a protagonista evolui, troca seus equipamentos, amplia suas habilidades e realiza quests enquanto explora um mundo fantástico... Como se fosse num videogame. :)
Você pode comprar o gibi na loja do 2 Minds Studio e conhecer mais sobre o projeto (e os autores) ouvindo nosso programa / talk show / podcast / o que você quiser sobre cultura pop e adjacências, o ASTERISCO, sobre a Plumba. :)
É de cair o queixo o domínio de narrativa que Wagner Willian demonstra nesta sua nova empreitada, uma história sobre as lembranças/heranças que a gente nem imagina que carrega no coração.
Numa pegada meio Alice no País das Maravilhas, um jovem retorna ao sítio do avô, onde passou grande parte da infância, depois da morte do VELHO MAESTRO, o que leva a toda aquela coisa de divisão de herança, venda de propriedades, coisa e tal. Eis que, nos bosques dos arredores, o Coelho Branco dá lugar ao Cuco – um passarinho diabólico que se torna seu guia nesta viagem.
Pode ser comprado no site da Ugra Press
O arquiteto carioca Rapha Pinheiro começou a desenhar quadrinhos em 2014 e, depois de passar um tempo estudando na Inglaterra, finalmente foi aceito como parte de uma turma internacional na cidade francesa de Angoulême. O cara mergulhou de cabeça e lá nasceu este Salto, uma história steampunk sobre uma cidade subterrânea chamada Intos na qual as pessoas são feitas de fogo e precisam de ar pra continuar queimando – mas acabaram se refugiando nas cavernas por medo da chuva.
O protagonista é Nu, funcionário da fábrica de ar que é alvo do preconceito de seus pares por ser azul e não laranja com os restantes. É uma história que tem um importante subtexto sobre racismo e sobre uma sociedade conformada que pode ser encontrado no site da editora AVEC.
“Márcia, Denise e Brenda têm que preparar uma quiche de alho-poró. Não é fácil achar o bendito do alho-poró e nenhuma delas jamais fez quiche na vida. Mas tudo bem, porque a quiche talvez nem seja tão importante assim”.
Esta é a sinopse de Alho-Poró que a Bianca Pinheiro apresenta na página do Catarse que ajudou a financiar o projeto.
Pode parecer uma daquelas fofuras que quem leu Bear ou a Graphic MSP Mônica: Força poderia esperar da autora. Tudo que dá pra dizer, no entanto, é que este não é um gibi recomendado pra crianças e pode ser comprado trocando uma ideia com a autora bem aqui. :)
Mais um trabalho do incansável Felipe Cagno, rei do financiamento coletivo para projetos de HQs aqui no Brasil. E talvez esteja aqui um de seus projetos mais curiosos, intensos e, por que não dizer, com um belo tempero autobiográfico, com artes de Bruno Oliveira e Ivan Nunes.
Estamos falando de uma história sobre sonhos, sobre objetivos de vida, sobre um aspirante a quadrinista fracassado e sem o apoio da família que, do nada, volta a encontrar com uma garota de seu passado, que mexeu com seu coração – mas que hoje é nada menos do que uma estrela de Hollywood.
Pode parecer um exagero mas, acredite, a história funciona de maneira bem fluida e tem lances e relances de uma interessante comédia romântica e pode ser comprada no site da editora. :)
Enfim pudemos ver o segundo e o terceiro capítulos da trilogia de Roger Cruz sobre a galera roqueira que fazia a festa (e também se metia em imensas roubadas) entre o final dos anos 80 e o começo dos anos 90 enquanto orbitava um certo apê na Zona Norte de São Paulo.
Porque o primeiro volume de Xampu foi originalmente lançado pela Devir em 2010 – e, vamos ser honestos, quase ninguém acreditava que as continuações desta história iam sair um dia.
Mas não é que saíram? :)
Aqui você encontra todas as maneiras de comprá-las — inclusive uma que garante autógrafo do autor. :)
Pra quem frequentava a Galeria do Rock e/ou CORRELATOS em suas respectivas cidades (no meu caso, por exemplo, a milenar Adega Marrocos, em Santos/SP), com aquela legião de cabeludos de camisetas pretas, impossível não se encontrar em meio a tantos porres e referências musicais fartas e variadas.
A passagem sobre o Rock in Rio é simplesmente ANTOLÓGICA. <3
Vale destacar ainda o traço mais vivo e humano do Roger, bem diferente dos deuses gregos que um dia ele desenhou pra Marvel.
Outra webcomic que, merecidamente, vai parar numa belíssima edição impressa, dignas de estar em qualquer coleção.
Tão importante quanto o talentoso trabalho narrativo de José Aguiar (premiado por seu trabalho na série Folheteen) é o aprofundamento histórico desta obra. Aqui, o objetivo é contar um pouco da história do nosso país mas não fazendo uso dos grandes eventos e personagens dos nossos livros da época de escola, e sim sob o ponto de vista das crianças — o que o autor faz das mais diferentes maneiras, às vezes com uma sutileza emocionante, em outras com uma doce provocação e em algumas com um verdadeiro soco na cara que te deixa sem fôlego.
Imperdível e fundamental nos dias que vivemos hoje (e que, spoiler, devem se tornar um tantinho mais complicados em 2018). Garanta o seu no site da editora
Talvez você se lembre de Brão Barbosa como autor da ótima Jesus Rocks, a visão do homem dos 12 apóstolos como uma espécie de rockstar. Aqui, seu traço econômico, direto ao ponto e bem cartunesco ganha contornos mais fofos/apaixonantes e atende um propósito mais intimista pra contar a história da pequena Eunice, uma fanática por engenhocas que aos poucos se torna grande amiga de um senhor inicialmente assustador e ranzinza.
O clima de nostalgia não tem nada de forçado e contribui totalmente a favor de uma trama que emociona de imediato e conversa com a criança em cada um de nós – recomendadíssimo pra quem curtiu a trilogia L+Ç da série Graphic MSP e pode ser comprado no site do autor.
Mas que baita história legal a gente tem aqui também FORA das páginas das HQ. Em 2016, Aline Zouvi foi pra comic con de São Paulo como visitante, com algumas cópias de seus zines na mochila pra distribuir pra galera.
Eis que um ano se passou e ela retornou com outro tipo de credencial, daquela que te dá direito a um espaço no Artist’s Alley — agora pra mostrar sua primeira HQ, Síncope, uma linda e delicada produção sobre Laura, musicista que vive numa grande metrópole e tem que encarar uma luta constante contra a própria ansiedade.
Quem acompanha os igualmente interessantes cartuns da Aline na Folha de S.Paulo já tá ligado no que esperar da narrativa. Pra comprar o seu, basta trocar uma ideia com a autora bem aqui. :)
Tudo começou com uma série de quadrinhos digitais, escritos por Carol Pimentel (a editora dos quadrinhos dos X-Men e do Homem-Aranha aqui no Brasil) e desenhados pela Germana Viana (mãe de um bando de piratas espaciais fodonas) e publicados no site Lady’s Comics. Mas aquele material merecia o doce gostinho do impresso e aí foi parar nas páginas de um encadernado lindo e sensível sobre o cotidiano de um grupo de amigos com seus trinta e poucos anos.
Pra quem mora em São Paulo, vai pegar na veia. Mas as dificuldades e laços entre eles são globais e atemporais o bastante pra qualquer leitor se identificar e lembrar DAQUELE grupo de amigos.
Quem quiser comprar, é só ir no site da editora.
Depois de passar um bom tempo falando sobre as mais diferentes histórias do mundo do terror no Boca do Inferno, tradicionalíssimo site BR do gênero, Rodrigo Ramos resolveu que era hora de contar a sua própria história, igualmente apavorante, com artes de Marcel Bartholo.
Carniça conta a história de um homem cheio de culpa convivendo com seus próprios demônios – e um cheiro persistente de carniça no ar. Tem um tanto da história do corpo-seco, aquele elemento do nosso folclore que não foi aceito nem no céu nem inferno e passa seus dias vagando por aqui, e também de Edgar Allan Poe, num visual carregado que o Bartholo descreve como inspirado no quadro Retirantes, do Portinari – mas que também tem um tanto da potência visual da literatura de cordel.
Pra comprar, é só falar com os autores bem aqui. :)