The Gifted: uma série importante, relevante, necessária e muito boa

Mais um acerto da parceria entre Fox e Marvel na TV

Acho que todo mundo aqui concorda e sabe que os X-Men, a equipe lá do Professor X, são super-heróis que salvam o mundo e os caralhos, certo?

Nem todo mutante, porém, é um X-Men. O resto são pessoas com poderes aleatórios perseguidas pelo governo, que tenta forçar uma cura, enquanto são execradas pelo resto da sociedade, pelo simples fato de serem “diferentes”, sendo obrigados a viver escondidos e por aí vai.

Aí os X-Men as protegiam também. Heróis, né?

Magneto e Charles Xavier como ALEGORIAS de Malcolm X e Martin Luther King ligavam diretamente todo um subtexto ao racismo quando os mutantes chegaram ao Universo Marvel mas, com o passar do tempo, (infelizmente) as histórias ficaram ainda mais atuais e passaram a ser TAMBÉM sobre xenofobia, sexismo, homofobia e tantas outras coisas que não fazem sentido algum que existam, especialmente em 2017.

E é exatamente nesse mundo, nesse ano, que The Gifted, nova parceria entre Fox e Marvel na TV — que já mostrou que funciona e funciona PRA CARALHO com Legion — estreia.

Na história, a família Strucker (que só de nome tem algo relacionado aos Struckers dos quadrinhos, pelo menos até agora), cujo pai (Reed, interpretado por Stephen Moyer, de True Blood) trabalha numa espécie de departamento anti-mutante da polícia, descobre que não só um como seus dois REBENTOS (Lauren e Andy, vividos por Natalie Alyn Lind e Percy Hynes White) têm o tal do Gene X. Conhecendo os PORMENORES da perseguição aos mutantes, o tal pai resolve fugir com as crianças pra um lugar onde as leis anti-mutantes sejam menos duras mas, óbvio, merdas acontecem, outros mutantes aparecem e assim seguiremos.

Uma história simples e conhecida, mas que como toda boa história, merece ser bem contada quantas vezes forem necessárias. The Gifted é mais uma dessas vezes.

Em termos de timeline, assim como Legion, a série não tem absolutamente nada a ver com os filmes, mas se aproxima bastante do universo mais realista que conhecemos em Logan — começando com o fato de que nem os X-Men nem a Irmandade existem mais ou, como afirmou o criador da série, Matt Nix, “eles sumiram”. “Descobriremos gradualmente na série que houve um evento cataclísmico, meio 11 de Setembro, que causou uma revolta da sociedade e muito ódio pelos mutantes. Isso tá ligado de alguma maneira ao desaparecimento dos X-Men e da Irmandade” revelou o produtor ao CBR.

Um dos resultados desse EVENTO foi a criação dos Sentinel Services, uma nova agência governamental que, além de substituir os robôs gigantes por algo mais próximo do que a gente conhece (o que, aliás, faz sentido pra caralho), pode ser abreviado para SS — o que você, que estudou direitinho e sabe quem e o que são os nazistas, vai entender direitinho.

E, como você pode imaginar, os Sentinel Services não se preocupam nem um pouco na hora de usar armas letais.

Sentinel Services

Dirigido por Bryan Singer, o primeiro episódio da série, eXposed, faz o que todo bom piloto deveria fazer: apresenta os principais personagens, principais conflitos e deixa aquele GOSTINHO de “quero mais”.

Algumas coisas dão uma incomodada, sim, como as mudanças de humor repentinas e em momento algum expressadas de Stephen Moyer e o garoto Percy Hynes White. Por exemplo, ainda que o que ele diga demonstre isso, não parece que o pai percebeu o que tá acontecendo com a família; e o moleque, bom, ele funciona como um bom adolescente, mas não como um mutante que acabou de descobrir que tem poderes e não faz muita ideia de como controlá-los.

Já Natalie Alyn Lind, a Lauren, essa sim se encaixa melhor nessa história, em todos os sentidos. Ela consegue demonstrar o que tá sentindo só com o olhar e sua personagem, Lauren, parece ser a única que entende o que exatamente tá acontecendo — até porque ela teve um certo tempo pra tentar esconder sua CONDIÇÃO do pai e do resto da sociedade (inclusive dando lições pro irmão, que usava termos racistas sobre os mutantes).

Outra coisa que também incomoda, ainda que sejam apenas alguns segundos, são as tentativas de piadas no melhor estilo Zorra Total com bordões. Primeiro com o moleque voltando pra pegar um chocolate, aí com alguma coisa sendo dita depois que tudo aconteceu, a insistência num problema só pelo pseudo-humor... Espero, mesmo, que isso fique só no piloto, porque o poder de irritação é GIGANTE.

Dos outros mutantes, todos de alguma maneira relacionados a uma organização clandestina que dá assistência aos perseguidos, expulsos de casa e esse tipo de coisa que acontece o tempo todo ao nosso redor, conhecemos Blink (Jamie Chung), sem sua pele roxa mas sem que isso também importe, PÁSSARO TROVEJANTE (Blair Redford), Eclipse, personagem criado para a série e vivido por Sean Teale, uma espécie de Oscar Isaac, e Polaris (Emma Dumont), que nos quadrinhos é filha do Magneto.

Vários outros ainda aparecerão, até pra dar uma ideia de “X-Men” para aquela pessoa que vai ZAPEAR a TV e começar a assistir out of nowhere.

Mas The Gifted não é sobre super-heróis. Teremos ATOS HERÓICOS, sim. Mas serão pessoas normais fazendo coisas não muito normais com o intuito de sobreviver num mundo que não os quer por ali. É uma série importante e relevante no mundo em que vivemos hoje em dia. E, por esse primeiro episódio, parece ser uma boa série.