Dá até pra imaginar. O Chandler, agora papai, em sua fofíssima casa de subúrbio, passa a mão no telefone e liga para o amigo Joey, que ele não vê há tempos, já que um mora numa costa dos EUA, outro na outra. “Cara, a gente precisa muito ir ao cinema juntos!”. O parceiro, do outro lado da linha, não vai entender muito bem (como de costume, aliás). E Chandler então reforça: “Sabe qual série vai virar filme? E com o The Rock? Baywatch, cara, Baywatch”. E então ambos vão sorrir e relembrar da saltitante Pamela Anderson no telão da sala daquele apartamento que eles dividiam com um pato e um pinto...

A cena com os amigões de Friends é imaginária, claro, mas a notícia de que Baywatch vai se transformar em longa-metragem e ainda estrelado pelo Rock é 100% verdadeira. Na produção, cujas filmagens começam agora em fevereiro, o ator viverá o guarda-costas veterano Mitch Buchannon, papel que foi do MITO David Hasselhoff no programa que os brasileiros conheceram na tela da Globo como SOS Malibu.

Dirigido por Seth Gordon (Quero Matar Meu Chefe), Baywatch vai se centrar na história de Mitch, um guarda-costas todo sério e centrado, que acaba sendo forçado a trabalhar ao lado de um jovem cabeça quente que tem pouco respeito pelas regras (Zac Efron, cada vez mais distante do papel de High School Musical). A dupla vai comandar uma equipe de shorts e maiôs vermelhos para encarar na praia a ameaça da GANÂNCIA de um figurão do mundo do petróleo.

Claro que a sinopse tem uma pegada ligeiramente diferente das bucólicas patrulhas que os guarda-costas faziam pelas areias de Los Angeles, criando até a figura de um antagonista e tudo mais. Mas uma coisa não vai mudar: o elenco feminino será de importância fundamental em Baywatch. Em meio a uma discussão bastante relevante sobre o retrato da mulher na cultura pop, posso apostar que provavelmente elas serão bem menos sexualizadas do que as garotas platinadas e peitudas que se via originalmente na série. Mas o próprio Rock, mestre na arte de promover o que quer que esteja fazendo, fez questão de anunciar pessoalmente em seu Instagram as duas primeiras integrantes do elenco: começou por Alexandra Daddario, sua parceira em Terremoto, pra viver Summer Quinn, personagem OUTRORA vivida por Nicole Eggert (hoje presença carimbada em produções B para a TV nos EUA).

Alguns meses depois, foi a vez do ator revelar quem assumiria a icônica figura de CJ Parker, a heroína que catapultou a carreira de Pamela Anderson e a transformou em símbolo sexual para toda uma geração de adolescentes de 13 a 80 anos. Trata-se de Kelly Rohrbach, que vai estrear nos cinemas em produções bastante distintas: antes de Baywatch, ela estará no próximo filme do diretor Woody Allen, ainda sem título. Aposta da edição 2015 da revista Sports Illustrated, ela era, até bem pouco tempo, namorada do Leonardo DiCaprio (momento EGO). Mas, no vídeo em que mostra a garota pela primeira vez com o maiô clássico e replicando a corridinha em câmera lenta de Pamela na abertura da série, Rock não aliviou. “Tive de ter certeza de que ela era... durona” e “ridiculamente sexy correndo em slow motion”.

Alguns meses antes, Kate Upton e Charlotte McKinney chegaram a ser consideradas no shotlist para dar vida à CJ — isso ou alguém simplesmente idealizou uma Pamela Anderson na temporada 2015/2016. Quando a inglesa Kelly Brook revelou que tinha lido o roteiro do filme, muito se especulou que ela também poderia ser a nova Pamela, mas em entrevista ao programa de Alan Carr na rede britânica Channel 4, a moça tratou de negar os rumores – mas sem se excluir de fato da produção. “Eu li o roteiro, eles ainda estão mexendo nele, então não sei se teria mesmo um papel pra mim lá. Acho que estou meio velha pro papel da Pamela Anderson, então não sei, mas eu conheço todos os produtores, e achei engraçado, então vamos ver”.

Em suas publicações, Rock promete que o filme será “grande, divertido e RATED R. Como eu quando bebo”. Sonho antigo da Paramount, Baywatch sempre foi pensado como uma comédia, para seguir a mesma linha de sucesso de Anjos da Lei, por exemplo. Inicialmente, quem escreveria e dirigiria seria Jeremy Garelick, roteirista de Separados pelo Casamento. Mas, em 2012, foi Robert Ben Garant, criador e estrela da série Reno 911, que assumiu a bronca – e o papel que é de The Rock estava praticamente garantido nas mãos de Bill Hader. Antes de Gordon ser contratado em definitivo, em algum momento de 2014, Justin Malen, que escreveu a continuação de Professora Sem Classe (aquele com a Cameron Diaz), pegou o roteiro pra reescrever, enquanto curiosamente a dupla Sean Anders e John Morris (roteiristas de Quero Matar Meu Chefe 2) ia dirigir em conjunto.

A atual versão do roteiro – que, em certo momento, chegou a ser algo do tipo “comédia de ação na qual o time de Baywatch passa por uma série de ataques de tubarões e acaba investigando e desmantelando uma operação de tráfico de drogas” – é assinada pela dupla Damian Shannon e Mark Swift. Se a gente levar em consideração os trabalhos anteriores dos caras, no caso o tenebroso Freddy vs Jason e a questionável refilmagem de Sexta-Feira 13 lançada em 2009, dá pra ficar com uma pulguetola atrás da orelha... ;)

The Rock e Alexandra Daddario

Lançada na NBC em 1989, Baywatch não foi exatamente um grande sucesso de audiência logo de cara e acabou cancelada depois da primeira temporada – e o estúdio responsável por sua produção, o GTG, fechou as portas. Mas Hasselhoff, que tinha experimentado o gosto do sucesso anos antes com Supermáquina, acreditava no potencial da série e, ao lado dos criadores e produtores executivos Michael Berk, Douglas Schwartz e Greg Bonann, reviveu Baywatch para o mercado de syndication em 1991. Era a mesma pegada de Star Trek ou Xena.

O resultado acabou sendo bastante positivo, especialmente nas TVs internacionais – e a série acabou então durando dez anos, até 2001. Em 1999, no entanto, ela passaria por uma mudança curiosa. O mercado de syndication estava encolhendo, os custos de produção em Los Angeles aumentando. Então, a intenção era levar tudo para a Austrália e lançar Baywatch Down Under. Um piloto até chegou a ser gravado – e depois lançado como um episódio em duas partes – mas a população de Avalon Beach se estabeleceu totalmente contra a realização de uma temporada completa no local, com medo de que tivesse um forte impacto no frágil sistema ambiental. Quando o Havaí acenou com incentivos financeiros para rodar Baywatch por lá, eis que nasceriam as últimas temporadas, agora batizadas como Baywatch Hawaii. O elenco inteiro mudou, mantendo apenas Hasselhoff no papel principal – mas surgiria, entre os coadjuvantes, um jovem promissor de nome Jason Momoa...

Entre 1995 e 1997, auge da popularidade dos guarda-costas de vermelho, Baywatch ganharia até um spinoff, também em formato syndication: Baywatch Nights. Basicamente, o sargento da polícia Garner Ellerbee (Gregory Alan Williams), oficial residente na série original desde os primeiros episódios, resolve se aposentar e criar uma agência de detetives. Eis que Mitch começa a fazer jornada dupla e dar uma força para o amigão, resolvendo casos durante a noite. A audiência nem sequer se comparava com o Baywatch na praia, então resolveram seguir pro lado de Arquivo X (sério) e enfiaram um consultor para assuntos paranormais na segunda temporada. Nem preciso dizer que deu menos certo ainda e logo a derivação acabou cancelada...

Uma curiosidade musical: o tema de abertura original, na NBC, era a canção Save Me, interpretada pelo mesmo Peter Cetera do clássico Glory of Love, do Karate Kid. Mas assim que saiu a versão syndication, os produtores preferiram mudar e a música se tornou a divertidíssima e farofíssima I’m Always Here, cantada por Jimi Jamison, o finado ex-vocalista do Survivor (sabe a banda de Eye of The Tiger, que toca nos filmes do Rocky? Pois é...).

Enquanto você fica aí comigo pensando em quem poderia regravar I’m Always Here para o filme, ou se aquela galhofa em slow motion será mantida no filme, tenha em mente que o Baywatch com The Rock estreia só em 2017, ainda sem data confirmada.