A arte tem o papel de inspirar e lembrar que somos mais do que ideologias, somos pessoas.
Get shit done.
Saí do cinema com essa frase na cabeça. Perdido em Marte nem de longe me deixou maravilhado como fez com as pessoas que escreveram muitas das resenhas que tinha lido, mas o filme vale o ingresso e a mensagem é sensacional. O cara se vê numa situação de morte certa e trabalha com o que tem. Decide que vai sobreviver e luta diariamente por isso, se valendo da ciência como acessório de luxo.
Em tempos de extremismo religioso e político, embora o filme tenha aquele diálogo típico que pede oração para algo que depende exclusivamente de sucesso científico para dar certo, a estrela é o conhecimento, a junção de dados aplicáveis na prática como forma de resolver problemas. Um filme assim não poderia vir em melhor hora, num mundo cheio de especulações, dividido em lados, quando a literatura já tem a solução pra várias das questões sociais, jurídicas e econômicas.
Ah, e também tem David Bowie na trilha, o que não é nada mal.
A arte tem esse papel, de inspirar e lembrar a gente que somos mais do que ideologias, partidos políticos, raças ou países, somos pessoas. Nessas, eu tenho mais duas indicações.
No mesmo dia que vi Matt Damon se virando no planeta vermelho, também assisti a Mamãe Mara (Mamarosh) no HBO MAX, película sérvia que mostra um projecionista se virando para sobreviver enquanto lida com a burocracia para viajar para os Estados Unidos. A ironia é que ele está nessa situação por causa dos bombardeios da Otan que rolaram em 1999 para colocar fim na Guerra da Iugoslávia. Ele consegue o visto, mas os gringos não querem saber de idosos partindo pra lá, e o protagonista não abre mão de levar a mãe com ele. Daí ele também get shit done.
Filme divertido (sim, cara, eu juro!), um jeito açucarado da gente se colocar na pele dos imigrantes durante essa crise global e lembrar que nenhum ser humano é ilegal.
Para passar a régua, Lulu, Nua e Crua (Lulu Femme Nue), filme francês que mostra a história de uma mãe de família cujo saco vai pra Lua. Não, não se trata de mais um filme sobre viagens espacias, mas sobre uma pessoa ir ao limite do tédio e de viver por viver. A personagem joga marido, filhos, casa, família, tudo pro alto e decide se jogar na vida, simples assim. E complicado também, porque o passado é algo vivo.
O filme parte da situação da mulher na sociedade para falar de amizade, amor, expectativas versus realidade e a merda que é levar uma vida de aparências. Não à toa vivemos um momento onde as pessoas enchem a lata de ansiolíticos, antidepressivos e dorgas mil para levar o dia pra frente.
Esses três filmes ajudam a gente a lembrar de ser gente.