Seja lá pela razão que for, Fox aceitar o Netflix como o único serviço de streaming para American Crime Story mostra que o caminho não tem retorno
O ano é 2016. Sábado de San Diego Comic-Con, painel de Fear the Walking Dead. Um trailer é exibido no Hall H e, quase que simultaneamente, divulgado na internet. Aperta o play e “esse conteúdo não pode ser exibido no seu País”.
Uma das razões (se é que podemos chamar assim) pra isso são os vários acordos de distribuição internacional da série. Resumidamente, é como se apenas o responsável local pela exibição — no caso de FTWD, no Brasil, é a própria AMC, o que diminui ainda mais o sentido — pudesse divulgar aquele vídeo, já que não necessariamente eles seguem o mesmo calendário que os EUA, enfim.
Dois mil e dezesseis.
Em Maio desse ano, o Netflix anunciou um acordo de distribuição EXCLUSIVO com a Disney, definindo que a partir de setembro a única maneira de assistir a qualquer filme da Walt Disney Studios, LucasFilm, Marvel e Pixar em casa, sem usar uma mídia física/pagar pelo seu download ou esperar anos pela exibição na TV aberta, será o serviço de streaming, indo direto dos cinemas pra lá, não mais em canais pagos como a HBO, por exemplo. Isso, pelo menos inicialmente, nos EUA.
Netflix vai ser o único serviço de streaming a exibir a série mais assistida da TV fechada dos EUA em 2016
Agora surge uma história que representa uma nova porrada no sistema de TVs por assinatura global: A 20th Century Fox TV fechou com o mesmo Netflix um acordo para ser o único serviço de streaming a exibir American Crime Story, uma das séries mais sensacionais dos últimos anos.
Em termos de nomes, claro, nada supera “tudo da Disney”, especialmente se levarmos em consideração de que American Crime Story é apenas uma série e, principalmente, os acordos tem a ver apenas e tão somente com o streaming (os Canais Fox continuariam exibindo aqui, normalmente, se você prefere assim). Mas, veja só: a série de TV por assinatura mais assistida esse ano nos EUA, indicada a 22 Emmys, contra todos os pés atrás de John Landgraf, CEO da FX Networks, acabou indo para o Netflix, que vai espalhar por todo o mundo, em todas as línguas, ao mesmo tempo.
Normalmente, as séries da Fox iriam parar em serviços concorrentes como Amazon e Hulu — ambos sem presença internacional como o Netflix — porque Landgraf não curte que o Netflix tire praticamente todos os créditos das séries (ACS terá “FX Presents” no início) e que não revele os seus números de audiência (sobre o que já falamos aqui).
É claro que o Netflix deve ter despejado alguns caminhões de dinheiro nos bolsos da Fox, já que a partir do momento em que aceitaram colocar o “FX Presents” antes dos episódios demonstraram um interesse ENORME em ter a série por lá (e o sucesso de Making a Murderer ajuda e explicar) e, bom, a Fox resolveu aceitar. Talvez enxergando que esse é, definitivamente, o futuro e que não há exatamente muito a se fazer a não ser APROVEITAR?
American Crime Story, criada por Ryan Murphy, de American Horror Story, é uma série de antologia que em sua primeira temporada se focou no julgamento de OJ Simpson pela morte da esposa, Nicole Brown. A segunda, ainda sem data de estreia, vai se passar depois do Furacão Katrina, considerando tudo o que aconteceu como um crime, o que é uma visão interessante.
No dia em que o acordo entrar em vigor, The People v. OJ Simpson será liberado direto mas, ao contrário dos acordos com a CBS por Star Trek: Discovery ou a AMC por Better Call Saul!, o Netflix só terá as novas temporadas depois que elas forem exibidas na íntegra na TV linear, como aconteceu com a 4a temporada de Orphan Black.
Eu só espero, porém, que a entrada das novas temporadas no serviço sigam o calendário americano. Porque vai que por acaso a Fox do Brasil resolve demorar pra exibir e o Netflix Brasil precisa esperar? Na primeira temporada foram apenas um ou dois dias de diferença, mas né? Dois mil e dezesseis. ;)