Hollywood, Califórnia. Começo dos anos 70. Ruas sujas, o famoso letreiro despencando, estúdios naufragando. Aquela região não lembrava, nem de longe, o glamour dos anos 60 e, principalmente, dos anos 50. A época dos grandes filmes, das superproduções e dos musicais tinha passado. E parecia que era pra sempre.

Só que a história sempre dá o seu jeito de se repetir, claro. Surgiu um grupo de diretores e produtores, gente com novas ideias, que foi mudando aquela realidade. Um deles foi Steven Spielberg que, com Tubarão, criou um fenômeno que movimenta a indústria do cinema até hoje: o blockbuster de verão.

Um outro diretor desse grupo foi George Lucas. Um cara com umas ideias meio malucas, que tirou leite de pedra pra criar uma ópera espacial fantástica chamada Star Wars com um orçamento de apenas US$ 11 milhões (ou US$ 43 milhões atuais, contando com a inflação).

O resto, bom... o resto é história.

“Valeu aí, galera!”

Em 2015, Hollywood ainda é suja, com um ar mais bagaceira, muito por conta dos milhares de turistas que passam lá diariamente. O letreiro está como novo e os filmes rendem muito, muito dinheiro, apesar da crise. Star Wars não é mais de George Lucas, mas sim da Disney, hoje um conglomerado multimilionário que domina diversas instâncias do entretenimento. E vamos ter um novo Star Wars no final do ano (não sei se você tava sabendo... ;D).

Já falamos aqui no JUDÃO algumas vezes sobre como o Sr. Mouse está sendo inteligente na promoção de O Despertar da Força e, por isso, as primeiras previsões de bilheteria não chegam a surpreender – apesar de serem resultados enormes: 600 MILHÕES DE DÓLARES de bilheteria no FIM DE SEMANA DE ESTREIA em todo o mundo, sendo US$ 300 milhões SÓ na América do Norte. A informações são do The Hollywood Reporter.

Até o momento, a maior abertura da história do cinema na América do Norte é Jurassic World, com US$ 208,8 milhões, enquanto pra uma estreia em dezembro esse valor cai pra US$ 85 milhões (de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada). No mundo, o recorde de abertura também é dos dinos, que este ano fizeram US$ 524,4 milhões. São números que serão OBLITERADOS.

Quando você compara com aquela Hollywood de raiz, aquela Hollywood moleque, tudo isso fica ainda mais insano. Desconsiderando a abertura limitada em maio, o primeiro Star Wars fez US$ 7,4 milhões no fim de semana de estreia, em julho de 1977, de acordo com o Box Office Mojo. No total, foram arrecadados US$ 307 milhões durante TODO o período de exibição na terra do Tio Sam naquela época (que foi até 1979, LOL), o que daria US$ 1,17 bilhões em dinheiros atuais. Com os dois relançamentos posteriores, o filme alcançou US$ 1,4 bilhões só nos EUA, em valores reajustados. É muita grana hoje, foi ainda muito mais grana naquela época... Mas fique tranquilo, que O Despertar da Força vai superar isso.

Até hoje, nenhum outro filme da saga repetiu essa conquista. O Império Contra-Ataca fez US$ 209 milhões de bilheteria nos EUA em 1980 (US$ 603,5 milhões atuais), enquanto O Retorno de Jedi ficou em US$ 252,5 milhões (US$ 602 milhões hoje). Até mesmo ~aquela trilogia dos anos 90/2000, que muita gente prefere esquecer, não foi tão longe: o melhor desempenho foi de A Ameaça Fantasma, com US$ 431 milhões (ou, hoje, US$ 615 milhões). Pois é, o Jar Jar Binks fez muita gente desistir dos dois filmes seguintes. Ou, dependendo do ponto de vista, muito mais gente viu o Jar Jar do que o Darth Vader surgindo. :D

Mas a Disney – e JJ Abrams e seus trailers misteriosos – estão conseguindo definir um novo nível pra ansiedade. Dá pra dizer que, hoje, Star Wars é um fenômeno consolidado, o que não era em 1977, e os ingressos são substancialmente mais caros em relação aos períodos das duas trilogias anteriores, principalmente com a proliferação do IMAX, 3D, XD... No final, “o tabu tá aí pra ser quebrado”, como diria qualquer jogador de futebol.

No eBay, estão vendendo ingressos com lance mínimo de US$699 ou um pacote no valor de US$4500

Quem tentou comprar ingresso aqui no Brasil não duvida disso, não. A pré-venda foi iniciada junto com os EUA, quase dois meses antes da estreia (que acontece dia 17/12 por aqui), e, em poucas horas, as melhores salas das grandes cidades – como IMAX e XD – estavam esgotadas. E não foram só nas sessões de 00h01, não – esgotaram também (ou estão próximas de esgotar) sessões de sexta, sábado e domingo, principalmente as da noite. Tem lugar aí que, se você olhar agora, só vai ter opção dublada disponível.

Nos EUA, com um número de salas ESTRATOSFERICAMENTE maior, a situação é ainda mais surreal. Muita gente tentou comprar os ingressos logo após o trailer na ESPN, o que derrubou diversos sites de vendas. No Fandango, que faz a venda de ingressos pra diversas redes de cinemas nos EUA (e recentemente anunciou a compra do Ingresso.com, no Brasil), as vendas já são OITÔ vezes maiores que a maior pré-venda que tinha sido registrada até aquele momento, a de Jogos Vorazes. O IMAX, por exemplo, informa que venderem US$ 6,5 milhões em ingressos nas primeiras 24 horas – antes, o recorde nesse mesmo período era de US$ 1 milhão.

Agora no eBay é possível encontrar tickets sendo vendidos em leilões com lance mínimo de US$ 699 dólares (com after-party incluso, ao menos), ou, se você quiser pular essa coisa do leilão e comprar na hora, dá pra desembolsar US$ 4.500 por quatro ingressos. Não quer dizer necessariamente que essa galera vai conseguir vender esses ingressos agora por esses preços, mas... Tempo é o que não falta pra conseguir. Nem faltam interessados.

Será que, lá no fim dessa trajetória, dará pra bater o recorde GERAL and MUNDIAL de bilheteria? É possível. Até hoje, os dois maiores nesse critério são filmes de James Cameron, com Avatar (US$ 2,7 bilhões) e Titanic (US$ 2,1 bilhões, incluindo o relançamento).

Tem uma piada do final dos anos 70 – e, cara, vou ficar te defendo onde li – sobre dois caras num banco numa praça em Nova York. Eles começaram a conversar e, papo vai e papo vem, um virou pro outro e disse: “Eu ainda não vi Star Wars”. “Nem eu”, respondeu o segundo homem. O primeiro então sacou uma arma, atirou e matou o colega de praça. “Agora sou o único no mundo que não viu Star Wars”.

Sim, no máximo em janeiro poderemos ver, com os nossos próprios olhos, esse fenômeno se repetir. E vai saber como essa nova trilogia vai redefinir os próximos 40 anos de cinema, como a original conseguiu fazer lá na década de 70. Quem sabe a Hollywood Blvd fica finalmente limpa, né? ;)