Com projeto batizado de Screening Room, Sean Parker planeja que você possa assistir a um filme em casa no mesmo dia em que ele estreia nos cinemas. Mas, claro, não deve ser assim tãããããão fácil… ;)
Se tem um adjetivo que cabe perfeitamente para Sean Parker, é PERSISTENTE. Rankeado como um dos dez mais ricos empreendedores americanos abaixo dos 40 anos de idade pela revista Forbes, com uma fortuna estimada em US$ 2,4 bilhões, ele vem se metendo em uma porrada de projetos desde que tinha seus 15 anos de idade – e sem medo de encrenca. Ainda adolescente, ao tentar hackear o que não devia só pela diversão, chamou a atenção do FBI e foi obrigado a fazer serviços comunitários.
Aos 19 anos, junto com Shawn Fanning, fundou o Napster. Aos 24, descolou o primeiro investidor de Mark Zuckerberg e lá estava ocupando o cargo de primeiro presidente do Facebook – é, Sean é aquele mesmo interpretado por Justin Timberlake e que quase levou um soco do Homem-Aranha em A Rede Social. Hoje, além de ser parte da diretoria do Spotify (apertando as mãos do mesmo Lars Ulrich que um dia o processou, doce ironia), ele é sócio de Fanning outra vez, só que numa plataforma de chat em vídeo chamada Airtime – que tem até Ashton Kutcher como um dos principais investidores e mudou de nome recentemente para OkHello.
Especialista em eternas discussões sobre direitos autorais, agora Sean Parker foca seus esforços no mundo do cinema. E quer fazer tanto estúdios quanto exibidores repensarem um de seus conceitos mais ARRAIGADOS: as janelas.
E lá vai ele comprar outra briga... ¯\_(ツ)_/¯
Cê sabe, a gente já falou de janelas por aqui, aquele intervalo entre o lançamento de um filme nos cinemas e a sua chegada nas locadoras, lojas, TVs, serviços de streaming e a coisa toda. O projeto de Parker, batizado de Screening Room, é uma ideia simples e direta ao ponto, para cortar esta coisa toda aí num passe de mágica: vamos supor que acaba de estrear, por exemplo, Batman VS. Superman nos cinemas. Você pode ver o filme na telona, claro que sim. Mas pode ter a caixa do Screening Room em casa, um “sofisticado dispositivo à prova de pirataria” adquirido por US$ 150. E com ele, basta gastar mais US$ 50 pelo filme que você optar e...bingo. Vê o filme em casa sem preocupação alguma.
Sim, o que a gente está querendo dizer é que a ideia do Screening Room é que você poderia assistir a Batman VS. Superman na sua própria casa, rigorosamente no mesmo dia em que o filme chegou aos cinemas (ou em até 48h depois que você “alugar”).
O primeiro filme dos Vingadores, que foi exibido nos cinemas em 2012, chegou à Rede Globo, em sua primeira passagem pela TV aberta, apenas em 2015. Fez as contas? TRÊS FUCKING ANOS DEPOIS. Sacou o tamanho da diferença aqui?
No projeto, Parker está trabalhando ao lado de Prem Akkaraju, um dos grandes nomes da SFX Entertainment, conglomerado de entretenimento especializado em festivais de música como o Tomorrowland (além de ter nada menos do que 50% do Rock in Rio, só pra constar). Jeff Blake, chefe de distribuição global e marketing da Sony Pictures, também tá na brincadeira desde o começo no papel de “consultor”, para garantir força ao mostrar pro mercado que eles tão falando sério.
A ideia, na verdade, ainda está no começo, mas parece promissora – porque, segundo a Variety, nomes fortes como Steven Spielberg, Peter Jackson, J.J. Abrams, Brian Grazer e Ron Howard estão apoiando fortemente a iniciativa. Apenas alguns deles colocaram, de fato, dinheiro no projeto, mas todos podem já ser considerados acionistas diretos.
Alguns grandes estúdios, como Universal, Fox e Sony já manifestaram interesse e estão estudando o plano de negócios e os termos de participação. Mas a Disney já demonstrou menos interesse no papo, pelo menos até agora. Um problema em potencial, que poderia emperrar as negociações, seria o pedido de que o Screening Room seja o parceiro de conteúdo exclusivo – o que, no caso da Sony, poderia ser um agravante nas estratégias de lançamento em redes como o Crackle ou mesmo a PSN. Mas a tal garantia de que a caixa que os espectadores teriam em casa tem um poderoso dispositivo para combater a pirataria já deixou muito executivo beeeeem empolgado por aí...
Quer dizer: nada impediria você de usar uma câmera e filmar a tela — o que faria com que os CAMs dos sites de torrent tivessem um enorme salto de qualidade. O que a caixinha impediria é que rolasse uma captura, ou qualquer coisa assim... Só prá constá. ;D
A principal resistência que o Screening Room precisa derrubar, contudo, ainda é a dos exibidores. Afinal, são eles que ainda consideram que um produto como este é uma forma de afastar ainda mais o público das salas de cinema. “Bom, o que nós temos aqui? O chefão original do Napster se oferecendo pra fazer pela indústria do cinema o que a sua empresa fez outrora pela indústria da música?”, teria dito, meio puto da vida, um executivo da área de exibição dos EUA, para o Wrap. Pra ele, o que impediria que eu fosse lá, comprasse Capitão América: Guerra Civil por US$ 50 e chamasse uma galera pra ver o filme na minha casa, com direito a churrasco e bebidas pra todo mundo, bem no esquema que os americanos amam fazer com os principais eventos esportivos via pay-per-view?
Paul Dergarabedia, analista de mídia da comScore, aposta que o que pode complicar o meio de campo para Sean Parker são mesmo os blockbusters. “Para os estúdios, tem aquela coisa do crescente da excitação que o marketing vai gerando antes do filme estrear – este é o real valor financeiro disso”, aposta, lembrando de ações como a aparição do Homem-Aranha no trailer de Guerra Civil, levando todo mundo a entrar de vez no trem do hype.
“Não sei se a ideia de lançamentos na sala da sua casa consegue abraçar isso. Podemos vender este apelo aos consumidores, mas estamos falando de um animal completamente diferente. Talvez para um filme menor, cuja bilheteria não seria tão impactada, pode funcionar e quem sabe até ajudar os cineastas independentes a levar suas obras para um público que, de outra forma, não os veria. Mas esta não é uma realidade econômica que se aplica aos grandes filmes. Como eles vão recuperar todo o dinheiro investido?”.
“Screening Room vai expandir a audiência de um filme — não mudá-lo do cinema pra sala de casa. Não coloca o estúdio contra o dono do cinema. Na verdade, respeita os dois, e é estruturado pra dar suporte a saúde dos exibidores e distribuidores no longo prazo, resultando em grande sustentabilidade para a própria indústria”, afirmou Peter Jackson à Variety.
Um dos planos do Screening Room é que cerca de US$20 dos US$50 cobrados por filme fiquem para os exibidores – e que os consumidores que comprarem os direitos de ver a produção em casa ainda recebam, gratuitamente, um par de ingressos para poderem assistir ao mesmo filme em qualquer cinema de sua escolha, garantindo a grana da pipoca e refrigerante pros cinemas. Os caras, como era de se esperar, ainda acham BEM pouco. “Mas qual exibidor ficaria com estes US$ 20 – e com base no que isso seria determinado?”, questiona Hamid Hashimi, presidente e CEO da iPic Entertainment, empresa de salas de cinema de luxo em Houston. Perguntas que ainda precisam ser respondidas. ;)
Vale lembrar ainda que a ideia de Sean Parker e seus parceiros lembra bastante o que a imprensa americana batizou de “Netflix para bilionários”, o chamado Prima Cinema. É um aparelho que tem uma mensalidade no valor de US$ 35.000 (!!!!), oferecido apenas para integrantes de um grupo de elite e que podem “alugar” para ver em casa filmes até então disponíveis apenas nos cinemas pela modesta quantia de US$ 500 – se for 3D, é US$ 600. Detalhe importante: no Prima Cinema, o sujeito que compra o aparelho registra a impressão digital nele antes mesmo que o dito cujo saia da fábrica, garantindo que ele e apenas ele possa adquirir os filmes.
Se Sean Parker achou que tinha tido dor de cabeça na época do Napster, ele que se prepare, porque a coisa parece ser ainda mais dura de roer nos bastidores de Hollywood... ;)