O inferno que é assistir a esse 3 Infernais do Rob Zombie | JUDAO.com.br

Empolgado para enfim fazer uma continuação daquele que é seu melhor filme, o diretor Rob Zombie entrega uma produção que, além de não ter nenhum dos principais acertos do anterior, simplesmente não tem qualquer razão para existir.

Rejeitados pelo Diabo é, sem qualquer dúvida aí, o melhor exemplar da carreira de Rob Zombie enquanto diretor de cinema. Isso é absolutamente indiscutível. Pra mim, pra você e, claro, pro próprio Rob, não importa que ele diga o contrário. Ele SABE disso. Porque ele, assim como críticos e espectadores, olha para a própria filmografia, com diversos altos e baixos, e percebe que, apesar de ter encontrado seu estilo próprio, um jeito de assinar a parada em termos estéticos e mesmo de conteúdo, nunca conseguiu chegar NAQUELE nível de sofisticação.

Pois depois de lançar o absolutamente dispensável 31, que é menos filme e mais um catadão de referências, uma colagem de tudo que ele já fez antes, o cara resolveu jogar o jogo garantido e, adivinha só, foi buscar Otis, Baby e o Capitão Spaulding para fazer uma continuação da sua obra prima.

Tinha tudo pra dar certo? Claro que tinha. Mas não deu.

Aliás, deu tão, mas tão errado, que Os 3 Infernais consegue ser ainda mais óbvio do que 31, tornando-se um filme que não tem qualquer razão de existir. Uma continuação esquecível, que em nada acrescenta — e que, sendo bem honesto, chega inclusive a DIMINUIR o que o próprio diretor construiu no filme anterior, acabando com o desenvolvimento dos dois personagens principais.

Se você faz como eu, por exemplo, e vai lá assistir novamente Rejeitados pelo Diabo antes de ver Os 3 Infernais, vai ficar é puto da vida com a diferença gritante entre as duas histórias, as narrativas, o clima. E se fossem diferentes de um jeito BOM, tá tudo bem. Mas porra, fazer a gente esperar tanto tempo PRA ISSO?

Qual é o grande segredo do sucesso de Rejeitados pelo Diabo? Trata-se da história de uma odiosa família de monstros, com total desrespeito pela vida, não importa de quem quer que seja. Eles se acham demônios, acima do bem e do mal, com um gosto particular por sangue e por não ser o que o “sistema” espera deles. E como o principal antagonista resolve que vai enfrentá-los? Embarcando numa jornada de vingança e se afundando no que existe de PIOR do ser humano, se tornando um demônio ainda mais odioso que os três — o que inverte a experiência do espectador, que estava odiando a família até o momento e, do nada, passa a sentir pena deles de alguma forma.

Tem algo disso em Os 3 Infernais? Porra nenhuma.

Depois daquela icônica cena final em que, na estrada, partem pra cima do cerco policial ao som de Lynyrd Skynyrd, os três rejeitados pelo diabo são metralhados. Quase morrem, mas sobrevivem milagrosamente. Passam por dezenas de operações e julgamentos e acabam atrás das grades, acompanhados de maneira quase obsessiva pela imprensa ao longo de uma década. Se a trama tivesse ficado NISSO, putz, teria sido BEM legal. Uma coisa meio Charles Manson, amor e ódio, o demônio transformado em rock star.

Mas não. Claro, o Capitão Spaulding de Sid Haig, com a saúde debilitada, acabou morrendo, teve só uma participação mais como homenagem ao ator e tudo bem, compreensível. Mas aí temos a aparição de um NOVO irmão, Winslow Foxworth Coltrane (Richard Brake), surgido do nada com coisa nenhuma, um personagem vazio, uma espécie de serial killer infantiloide cheio de referências sobre cultura pop saído de um filme macabro do Kevin Smith. E, pra completar, eis que Rob Zombie resolve transformar completamente Otis (Bill Moseley) e Baby (Sheri Moon Zombie).

Enquanto Otis, que no primeiro filme era um rock star assassino descrito pelo próprio Zombie como uma gélida mistura de Manson com Jim Morrison, se torna apenas e tão somente um tiozão do pavê sem noção com uma arma na mão e Baby vira uma espécie de Arlequina — e entendam este comentário no pior sentido possível. Em Rejeitados pelo Diabo, a jovem caçula é uma espécie de sereia, uma súcubo igualmente atraente e assustadora, que seduz de maneira bastante voraz e depois crava os dentes com violência. Já nesta continuação, ela parece uma mulher-menina, de maria-chiquinha, bobinha até, saltitante, com a voz fininha... Simplesmente não faz sentido, por mais que alguém tenha tido a vontade de justificar com uma argumentação do tipo “este tempo na cadeia mexeu com ela”. Se era pra mandar esta, que tivessem trabalhado melhor esta transformação, saca?

E o filme tem um vilão e/ou antagonista? Não. São apenas os dois primeiros irmãos fugindo da cadeia, se reunindo com o terceiro e atirando pra todos os lados, em cenas pornograficamente violentas, dizimando um núcleo familiar e fugindo dos EUA pro México meio que aos trancos e barrancos, sem muita conexão em termos de história. Aí, do nada, alguém saca o filho do personagem do Danny Trejo, do filme anterior, criando uma jornada de vingança pro cara com base em uma cena de flashback que claramente parece ter sido encaixada ali depois, desastradamente.

Junte a isso o fato de que, por algum motivo, o VISUAL do filme não segue em nada a pegada de iluminação saturada da película anterior, dando a ele um aspecto craquelado que tinha literalmente o jeitão dos anos 1970 — pô, sério, se não ia brincar com a narrativa, minimamente brincasse com o visual, se passou uma década, entra numa pegada mais anos 1980 na fotografia do filme — e você tem um desastre completo.

Certos projetos, de verdade, não precisariam MESMO sair do papel.