Baroness lançou um dos melhores discos do ano passado | JUDAO.com.br

E, por muito pouco, não estamos dizendo em Janeiro de 2016 que Baroness é um dos melhores DESSE ano

Ah, 2015. Foi mesmo um ano daqueles memoráveis – em especial para quem curte boa música. Considerando apenas discos de inéditas lançados em 2015, cheguei a ouvir cerca de 80 álbuns diferentes, dos gêneros mais diversos. Teve o Emicida com um rap poderoso infectado de MPB, a Miley Cyrus fazendo o grande disco pop do ano numa pegada espacial-lisérgica-viajandona, o Ghost se estabilizando como mais do que uma promessa, o Faith No More mostrando que ainda tem lenha pra queimar, o Iron Maiden e o Slayer provando que ainda são relevantes, Duran Duran e a-ha dando aula de pop pra a molecada...

Porra, até o Mr.Catra fez um discão de rock n’ roll, tá pensando? E o Coldplay, que teve as manhas de fazer um disco que não me deu vontade de furar os tímpanos com um lápis? Cara!

2015, que ano memorável. Minha listinha de grandes lançamentos de 2015 tava prontinha. Não tava esperando pintar mais nada que pudesse ganhar espaço ali, entre Marilyn Manson, Kamelot, Disturbed, Lamb of God e outras paradas. Mas aí eis que surge, no dia 18 de dezembro, o ano começando a se encaminhar para a reta final, um tal de Purple. O quarto disco dos americanos do Baroness, egressos da cidade de Savannah, na Georgia. Porra, a banda é boa demais, vinha executando um baita trabalho consistente, numa evolução de qualidade interessante. Ok, vai, eles mereciam meu voto de confiança. Não que eu estivesse lá muito confiante de que algo pudesse mudar, maaaaaaaaaaas...

Coloquei Purple pra rodar. E tome soco na cara pra arrumar um espaço pros caras na lista – fácil, fácil, entre os cinco primeiros. Se bobear, até, disputando um espaço entre os top 3.

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Tá bom que todos os discos dos caras, até agora, foram batizados com cores – Red Album (2007), Blue Record (2009) e Yellow & Green (2012). Mas parece que dar a este novo álbum o nome de Purple tem um significado ainda mais amplo. Porque roxo é a cor que fica depois que você leva uma baita porrada, né? Então. Estes caras levaram uma das grandes em agosto de 2012, quando o veículo no qual os quatro músicos e mais cinco pessoas da equipe caiu de um viaduto na Inglaterra. O vocalista John Baizley quebrou um braço e uma perna, enquanto Allen Blickle (bateria) e Matt Maggioni (baixo) ambos fraturaram vértebras.

O futuro do Baroness era incerto. Blickle e Maggioni anunciaram suas respectivas saídas da banda. Mas Baizley quis continuar, devidamente acompanhado pelo guitarrista Peter Adams. Para construir uma nova cozinha sonora, chamaram o baixista Nick Jost e o baterista Sebastian Thomson. Purple é o resultado deste Baroness em processo de regeneração mas sem medo de arriscar, ousando até mesmo lançar seu álbum por um selo próprio, o Abraxan Hymns. Tudo com gosto de novidade, dá pra dizer. E, caralho, mas que PUTA recuperação esta pela qual o Baroness passou. E que resultado final ela ajudou a trazer.

Vamos direto ao assunto: Purple é o melhor disco do Baroness até o momento. Ponto. Sabe aquela pegada mais delicada, sutil, até certo momento mais “pop” ou “mainstream” de Yellow & Green? Continua existindo – só que agora devidamente cadenciada e equilibrada com um retorno à agressividade dos primeiros dois álbuns. É um disco de metal. Digamos que TAMBÉM é. Mas não só. É uma coleção de músicas que conseguem soar pesadas e melódicas, grudentas em alguns casos, explorando até mesmo um pouco de psicodelia, cortesia do produtor Dave Fridmann (não por acaso, responsável pelos trabalhos dos Flaming Lips), e até de jazz, aquele mais improvisadão – nas baquetas de Thomson.

É metal divertido, iluminado, do tipo cheio de riffs que dá pra bater cabeça e ao mesmo tempo ouvir tocar na rádio numa boa, pra embalar aquele dia especial a bordo do carro. Mas se você me perguntar se alguém ainda ouve rádio hoje em dia, vou te responder que isso é pra papo pra outro dia. ;) Escute a deliciosa faixa Shock Me e me diga se aquela levada de guitarra não é carregadona e estilosa como a de qualquer outra boa banda da atual cena do metal americano – mas tente responder isso enquanto tenta se livrar deste refrão que faria qualquer multidão sair cantando junta na segunda audição.

Outra parada que vale destacar aqui são os vocais de Baizley. Nesta mescla de fúria e doçura, sua voz se torna algo impressionantemente equilibrado entre o rosnado de James Hetfield e o jeito meio introvertido de cantar de algum cantar destes frontman aí de indie rock que vão parar na capa da NME. O resultado é, na falta de uma palavra melhor, bastante sexy. ;) O primeiro single do álbum – e aquela que talvez seja a melhor faixa da obra, aliás – Chlorine & Wine é prova viva desta versatilidade, alternando força e sutileza, assim como nas quase dançantes (acredite) Try To Disappear e Kerosene.

O Baroness tem ecos de Kiss, ecos de AC/DC. Pitadas de hard setentista, eu diria. É uma banda que sabe conversar com as influências retrô mas sem soar pedante. Tem o seu ar de frescor, de novidade.

“Eu queria celebrar a minha miséria usando minha criatividade – e encarar isso de cabeça erguida”, afirmou Baizley, principal compositor e líder do grupo, em comunicado oficial. “As letras de Purple são sobre diferentes caminhos que surgiram depois do acidente, são histórias que vão desde os momentos de sofrimento mais difíceis até o amor que eu sinto pelas pessoas que estavam lá por mim quando mais precisei”.

Catarse, gente. Purple é a grande catarse do Baroness. E enquanto estes camaradas tentam se encontrar depois de um passado bastante tumultuado, eles nos mostram o caminho para um futuro brilhante.

2015 chega ao fim com um disco que mostra que não apenas 2016, mas também os próximos anos, prometem ser bastante promissores em termos musicais. Pelo menos para quem não tem medo de desbravar novas bandas, claro.

Cheers!